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Acessibilidade de pessoas com deficiência é mal avaliada em São Paulo

Por: Redação

Para o estudante de relações públicas, Bruno Lopez, 30, ir à universidade é sempre um grande desafio. Ele gasta uma hora de sua casa em Itaquera, na zona leste, até a instituição que fica no Centro.

A insatisfação do jovem, que é deficiente físico, se reflete na pesquisa do Irbem 2017 (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município). O estudo mostra que na leste 2, divisão da qual faz parte a região onde vive Lopez, a avaliação média no quesito acessibilidade de pessoas com deficiência é de apenas 3,5.

“Há muitas vias desniveladas, buracos nas ruas, entre outros que tornam a locomoção na cadeira de rodas muito mais difícil”, afirma.

A região leste 2, no entanto, não foi a pior avaliada. A sul 2, que abrange a periferia da zona sul, recebeu 2,9 dos moradores. A média em toda a cidade foi de 3,3 em uma escala que vai de zero a 10.

Apesar da má infraestrutura, Lopez passou a usar aplicativos gratuitos para ajudá-lo a otimizar o seu tempo. No Moovit, por exemplo, ele consegue programar para saber onde deve descer, enquanto no Cadê o Ônibus, visualiza os horários, as linhas e as rotas do transporte público.

“O Moovit é o meu predileto. Infelizmente, já aconteceu de cobradores e motoristas esquecerem de avisar o ponto que eu tinha que desembarcar”, lembra.

A situação não é diferente para André Nunes, 39, morador de São Miguel Paulista, no extremo leste da capital. A saga começa logo de manhãzinha ao sair para trabalhar. Até chegar ao ponto de ônibus que o leva para o centro da cidade, precisa passar com a cadeira de rodas por ruas esburacadas.

Segundo ele, as calçadas de alguns comércios estão pior que a própria rua. “Eu gasto o dobro do tempo em um percurso em que levaria cinco minutos”, lamenta.

Nunes também se rendeu à tecnologia e usa o CittaMobi, app que, além de apresentar a localização do ônibus, mostra se ele é adaptado ou não a pessoas com deficiência. “O CittaMobi me auxilia um pouco, principalmente quando estou em algum lugar que não conheço”, afirma.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem na capital paulista 3 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Desse total, mais de 2 milhões têm deficiência visual, 500 mil sofrem de problemas auditivos e mais de 600, motores.

Outros aplicativos, como o SPAcessível e o Parknet, recomendados pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, também buscam facilitar a mobilidade dos deficientes.

O primeiro é um mapa de circulação autônoma e colaborativa que ajuda o usuário a identificar guias rebaixadas, rampas e semáforos sonoros. Já o Parknet permite localizar vagas de estacionamento em vias públicas e a traçar a melhor rota para se chegar à vaga.

Para o presidente da Adeva (Associação de Deficientes Visuais e Amigos), Markiano Filho, 53, que possui deficiência visual, iniciativas assim contribuem para mostrar o quão é preciso repensar a questão da acessibilidade. “Pensar em inclusão é se atentar não só ao que os governantes podem fazer, mas ao que também está ao nosso alcance, como a criação de aplicativos”.

FALTA ORGANIZAÇÃO

Maria Lúcia Nascimento, 51, tem deficiência visual e não usa nenhum app. A assessora de imprensa mora em Piraporinha, na região Sul 2, que recebeu nota média de 2,9, sendo a pior avaliada pelos entrevistados, de acordo com o IRBEM.

Ela reclama da falta de pisos táteis, dos incontáveis buracos, das calçadas desniveladas e também da falta de comunicação interna nos trens e metrôs da cidade.

“É regra o agente informar à central que um deficiente irá descer naquela plataforma e que ele está em determinado vagão, mas é de costume esperarmos muito para que um funcionário nos auxilie a pegarmos o próximo trem”, diz Maria Lúcia, que por duas vezes teve que aguardar que alguém a ajudasse na estação Sé do metrô, a mais movimentada da capital.

ACESSIBILIZANDO SP

A Secretária Municipal de Pessoa com Deficiência lançou recentemente o projeto Acessiblizando SP, que visa a reforma das calçadas com rampas de acesso a estabelecimentos, piso tátil, e a reflexão sobre acessibilidade em conjunto com as prefeituras regionais e os comerciantes dos bairros. A iniciativa é nova e até o momento só ocorreu em Pinheiros, na zona oeste.

De acordo com a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, a zona leste será a segunda a receber o projeto. Por lá haverá a distribuição de informativos que orientam como tornar o espaço mais inclusivo.

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Calçadas em SP: pessoas com deficiência falam sobre mobilidade

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