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Moradores dão aulas de skate com poesia na zona leste de São Paulo

Jovens da zona leste fazem manobras de skate no fim de semana

Por: Danielle Lobato

Bairro da zona leste de São Paulo, o Jardim Romano, no distrito de São Miguel Paulista, não tem nenhuma pista de skate oficial. Quem deseja fazer uma manobra radical precisa se deslocar 6 km até a mais próxima na Vila Nova Curuçá. 

Para driblar esta situação, três amigos decidiram criar a própria pista na região. Eles conseguiram um material doado pelo FAB Lab Livre SP — laboratório público de fabricação digital criado pela prefeitura de São Paulo, e montaram uma pista que pode ser transportada. 

Com ela, criaram o que chamam de skate poético, com a ideia de unir prática esportiva e poesia para crianças que moram no bairro. Nos  fins de semana, eles dão aula de skate gratuitas no CEU Três Pontes, que contam com rodas de conversa e saraus literários. 

Neste domingo (27), às 9h, haverá um festival cultural com música, sarau e manobras. A ideia é também arrecadar livros.

Crianças participam da aula de skate no CEU Três Pontes @Danielle Lobato/Agência Mural

Nas aulas, as crianças ficam responsáveis pela criação de poesias, que apresentam em pequenos campeonatos da modalidade. Os alunos vencedores são premiados com peças de skate e livros de literatura. 

“Eles dão muita atenção. Tenho um pouco de dificuldade na minha coordenação motora e consegui surfar”, diz o estudante Kevin Zancle, 11.

“Nosso principal objetivo é usar o skate como um objeto pedagógico ao estimular crianças e adolescentes ao hábito da leitura. É poesia com aulas de skate”, afirma Nanderson Silveira, 26, um dos criadores da ideia.  

Ele atua ao lado de Kevin Silva, 22, estudante de história, e Thiago Silva, 24, fotógrafo. Todos são moradores do Jardim Romano e compõem o grupo intitulado de Ápice Periférico. Antes de montar a pista, eles praticavam o esporte surfando no asfalto, nas escadas e nos corrimões do bairro. 

Kevin ‘surfa’ alto com a a prancha de madeira em um campeonato de skate no CEU Três Pontes @Divulgação

“O skate é uma salvação pra mim, é um estilo de vida. Te ensina a se manter em constante equilíbrio, mostra que a evolução é gradual e que cada pessoa tem a sua maneira frente ao esporte”, diz Silva. 

O skate poético trabalha com grupos de aproximadamente 20 a 40 crianças e jovens com idades entre 8 e 17 anos, todos moradores do Jardim Romano e, geralmente, alunos no CEU Três Pontes. 

Quem ministra os saraus são os amigos Kevin e Nanderson, que além do amor pelo skate, escrevem poesias e participam de saraus criados por coletivos do bairro.

“Trabalhamos muito com poesia, que é divertida de ler por conta das rimas. Algumas crianças têm vergonha de se expressar, mas depois que treinam a leitura e a escrita da poesia, seja aqui ou em casa, acabam perdendo a vergonha”, diz Kevin. 

Rampa de madeira feita pelos skatistas com madeira doada pela FAB @Danielle Lobato/Agência Mural

Atualmente, eles estão sem nenhuma renda fixa e dedicam parte do tempo ao projeto. Mas, ainda assim, por falta de verba o grupo não consegue montar um cronograma de oficinas para o ano. 

Os três já atuam há quatro anos com aulas de música, história do skate, confecção de skate, rodas de capoeira, contação literária e visitação em bibliotecas. 

No entanto, as atividades no Ceu Três Pontes tem tido empecilhos. “Já é a terceira vez que proíbem a realização de oficinas, por exemplo, dizem que o skate depreda o espaço. Toda vez que muda a gestão temos uma nova burocracia para conseguirmos fazer a atividade”, conta Kevin.

Procurada por três semanas, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo não respondeu sobre a situação. 

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