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Subprefeitura de Sapopemba gastou apenas 60% do que foi prometido para 2022

Rua em Sapopemba, na zona leste, região em que a subprefeitura menos executou o orçamento

Por: Matheus Oliveira

Dos R$ 45,8 milhões previstos para 2022, a Subprefeitura de Sapopemba realizou apenas R$ 26,8 milhões ao longo do ano passado, mostra levantamento da Agência Mural com base em dados disponibilizados pela prefeitura.

A gestão local gastou apenas R$ 0,60 de cada R$ 1,00 prometido na LOA (Lei Orçamentária Anual), fazendo da região na zona leste a que teve a menor execução entre todas as 32 subprefeituras de São Paulo ao longo de 2022.

A Subprefeitura de Sapopemba foi a última das criadas na capital. Foi elevada a esse status em 2013, quando deixou de pertencer à região da Vila Prudente e passou a ter autonomia para executar despesas operacionais, administrativas e de investimento. Na prática, porém, recursos destinados para áreas como manutenção de áreas verdes e drenagem tiveram despesas bem abaixo do previsto.

O assistente administrativo Caique Roberto Campos, 21, mora no Conjunto Promorar Sapopemba desde que nasceu. Ele cresceu vendo a luta da mãe e de vizinhas por unidades de saúde, de ensino e de cultura para o bairro.

Praças do Promorar Sapopemba estão com mato alto e casas foram construídas às margens de um córrego na rua Adevaldo de Moraes. “O que a gente se depara é que a subprefeitura vem e faz um trabalho no pequeno buraco e não conclui o outro espaço. Acho que se a gente for analisar tem que se fazer um trabalho com todo. Recapear a rua inteira”, argumenta Caique.

Esse tipo de ação estava prevista no orçamento do ano passado, mas na prática nem um quarto do foi executado. A Subprefeitura de Sapopemba teve orçado na intervenção, urbanização e melhoria de bairros R$ 5,3 milhões e R$ 1,5 milhão foi executado (20%).

Caique vive na região do Promorar Sapopemba e indica locais com falta de manutenção @Matheus Oliveira/Agência Mural

A sacristã da igreja de Nossa Senhora de Fátima e São Roque, Maria Celeste Cabral da Silva, 67, sempre leva o cachorro Bolt, de um ano e três meses, para passear. A caminhada é feita no Parque Linear Zilda Arns, a dois quarteirões abaixo da casa de Celeste.

"A gente vê o descaso que tem com essa pista de caminhada. Tem época que está uma maravilha, e tem época que tá muito sujo. Poderia ser melhor, já que tem dinheiro para cuidar da praça e da pista de caminhada”

Maria Celeste Cabral da Silva, 67, moradora de Sapopemba

Próxima a casa de Celeste, a atendente Vani Miranda, 55, trabalha em uma lanchonete na rua Doutor Tolstoi de Carvalho. Vani reclama que aos domingos tem feira livre na rua e a barraca de peixe fica em frente ao estabelecimento.

“A gente chega na segunda-feira para trabalhar e está aquele cheiro forte. A primeira coisa é lavar a calçada, porque a prefeitura só joga uma água”, aponta a atendente.

Vani mora no Jardim Colorado e expõem a varrição pública em algumas ruas do bairro. “Tem lugar que os garis passam e outros não. Fica aquele acúmulo de lixo. O pessoal também não ajuda jogando sujeira no chão, mas a prefeitura tem que fazer a sua parte.”

Pouco verde

A família do empresário Antônio Júlio Antunes Amaro, 72, tem uma loja há 50 anos na Avenida Sapopemba. Morador de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, Júlio cresceu no Parque São Lucas, bairro vizinho a Sapopemba. E admite. Quando criança vinha roubar caqui em uma fazendo próxima da Avenida Vila Ema.

A saudade hoje dá lugar à preservação. “Evidente que teve melhorias como asfalto. Mas sou um pouco saudosista, acho que faltou preservação de áreas verdes. O que prevalece, infelizmente, é uma ganância imobiliária. A gente vê muito concreto. Não houve conservação da natureza”, justifica.

Sapopemba é a região da capital com menor cobertura vegetal por habitante. De acordo com o Mapa da Desigualdade de 2019, da Rede Nossa São Paulo, Sapopemba tem 2,65m² de verde por morador. A Organização Mundial da Saúde recomenda 12m².

“Vejo que o poder público tem procurado conservar, mas infelizmente também acho que não há muita contribuição da população em geral, não tem cuidado jogando lixo para qualquer lugar”.

Julio questiona falta de áreas verdes em Sapopemba. Orçamento para preservação não foi executado @Matheus Oliveira/Agência Mural

A subprefeitura de Sapopemba teve R$ 8,8 milhões orçados para a manutenção e operação de áreas verdes e gastou R$ 4,9 milhões.

Esses conselhos ajudam a cobrar demandas da população e atua com voluntários escolhidos em votação. É o caso da podóloga Eliana Tenório de Albuquerque, 46, que está no primeiro mandato como conselheira participativa de Sapopemba. "Às vezes os munícipes não sabem a quem recorrer. Não sabe, às vezes nem aonde ir e a gente [do conselho] orienta ele como fazer. A gente também corre atrás das demandas”.

Segundo Eliana, as principais demandas em Sapopemba são poda de árvores, recapeamento, excesso de barulho e corte de mato.

ENCONTRO DO CONSELHO PARTICIPATIVO: Os encontros do conselho participativo municipal de Sapopemba ocorrem na última quinta-feira do mês das 19h às 21h na sede da subprefeitura, na avenida Sapopemba, 9064.

A administração da unidade foi a única atividade que excedeu o valor orçado para a Subprefeitura de Sapopemba. Foi estimado um valor de R$ 11,4 milhões e foi gasto R$ 11,9 milhões na gestão do prédio e pagamento dos funcionários da subprefeitura de Sapopemba.

Gabriel da Silva Nascimento, 27, mora no Jardim Grimaldi desde os cinco anos e procurou a subprefeitura em busca de uma vaga de emprego para vendedor. “A primeira vez que eu vim na subprefeitura foi ano passado. Arrumei um emprego no Tatuapé, mas como ficava fora de mão eu saí. Agora estou vindo de novo. Gosto do serviço [da unidade] porque tem bastante vaga de emprego”.

A sede da subprefeitura de Sapopemba concentra serviços como AdeSampa, Cate, SpTrans, Atende, mediação de conflitos, praça de atendimento para os moradores da região, o gabinete do subprefeito e concentra os servidores da unidade.

Questionada sobre a pouca execução do orçamento do ano passado, a Subprefeitura de Sapopemba disse que houve mais despesas ao longo do ano do que o levantamento feito pela Agência Mural. No entanto, perguntada sobre onde estão esses dados, a assessoria disse que enviaria as informações, mas não houve mais retorno.

Os dados levantados pela reportagem estão na página de dados abertos da Prefeitura de São Paulo.

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