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Zona sul de São Paulo é a região com maior percepção de abandono escolar da capital

Por: Redação

Durante o ensino remoto na pandemia, ao menos 21% dos paulistanos declararam que alguma criança ou adolescente pelo qual é responsável desistiu das aulas online. Dificuldade de acesso à internet, falta de um aparelho celular ou computador e problemas de concentração são alguns dos dilemas enfrentados pelos alunos da rede pública de São Paulo, o que ocasiona a evasão escolar. 

O dado é da pesquisa “Viver em São Paulo: Saúde e Educação”, da Rede Nossa São Paulo — que realizou 271 entrevistas com pessoas com filhos ou que são responsáveis por crianças na escola e/ou creche. 

Além disso, a sensação de que houve um aumento do abandono foi citada por mais de 40% dos entrevistados em três regiões da capital.

Na zona sul de São Paulo, por exemplo, 47% dos que responderam a pesquisa disseram que um dos impactos da pandemia foi a alta na evasão escolar. As zonas oeste e norte aparecem logo depois, com percepção de 42%. 

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É o caso da filha da Madalena Felix dos Santos, 52, moradora do bairro Barragem, distrito de Parelheiros, na zona sul da capital. “A Vitória, 10, parou no quinto ano e ela não está estudando, não quer ir para a escola. Também fico com medo de mandá-la”, relata. 

Segundo Madalena , a professora de Vitória fez até um grupo no WhatsApp para tirar dúvidas, mas logo depois a filha saiu. “Para completar, a internet aqui é fraca e falha muito, desanima. Só estudei até o terceiro ano do [ensino] fundamental, e fica complicado ajudar. Então ela não está fazendo nada”, diz a dona de casa. 

O outro filho de Madalena, Leandro, 15, que está no primeiro ano do ensino médio, se esforça com os estudos apesar das dificuldades. 

“Ano passado ele foi uma vez para a aula. Ele tenta fazer alguma coisa em casa, algum trabalho, pega as apostilas e faz os exercícios no celular, mesmo desanimado.”

21% dos paulistanos conhecem crianças ou adolescentes que desistiram da escola na pandemia (Matheus Pigozzi/32xSP)

Entre os problemas que têm levado à evasão estão as condições de estudar em casa.  

A falta de uma internet adequada aos estudos foi citada por 42% do total de pais e/ou responsáveis entrevistados (800 pessoas). 39% deles também declararam ter dificuldades em manter os filhos concentrados e interessados durante as aulas. 

Também na zona sul, em Paraisópolis, Hadassa de Assis Galvão, 9, que está no quarto ano, enfrenta problemas com as aulas a distância. 

“Ela não abandonou a escola, mas desde o início da pandemia teve dificuldades em estudar em casa. Aliás, tem até hoje. Ela quase não estudou ano passado”, conta a irmã Vitória Galvão, 22, assistente de operações. 

Ela conta que Hadassa se queixa, assim como outras crianças da mesma turma, de não conseguir se concentrar fora do ambiente escolar. 

“Ela vive dizendo que é chato e lugar de estudar é em sala de aula. As aulas estão flexibilizadas de duas a três vezes por semana e ela ganhou um tablet da escola. Então tem atividades para fazer nos demais dias.”

DIDÁTICA DIFERENTE

Felipe Romano Lisboa Santos, 36, morador da Vila Rubi, na zona sul, reclama da didática adotada pelas escolas desde que a pandemia começou. 

“Minha filha [Agnes] tem 7 anos, está no segundo ano. A escola dela é estadual e logo no início da pandemia, as aulas ficaram online. Ela chegou a ir em dias alternados este ano, mas como estamos inseguros com relação à segurança, preferimos não mandar mais”, explica o analista de planejamento e distribuição logística.

Com relação a rotina de estudos da Agnes, ele não acha que está como gostaria. “A gente não consegue fazer o acompanhamento com ela como deveria ser, pois a mãe dela e eu estamos trabalhando de casa. Ela acaba perdendo as atividades.” 

Felipe conta que conciliar trabalho, rotina de casa e exercícios da escola tem sido complicado. “O ensino nesse formato fica defasado. Minha filha é muito esperta e tem facilidade de aprender as coisas. Mesmo com pouco estímulo ela conseguiu um nível de aprendizagem”, afirma.

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Do outro lado da cidade, na zona norte, no Jardim Peri Alto, na escola municipal estão os filhos da Camila Aparecida Mendonça, 29. Segundo ela, já recorreu várias vezes aos professores para buscar ajuda de como auxiliá-los nas lições. 

“Guilherme, de 11 anos, e Ana Júlia, de 5, recorrem a mim e ao pai para fazer as atividades, não tem jeito. Incentivamos diariamente para não desanimarem. As aulas online são diferentes para eles, a didática é outra”, diz a moradora. 

DISTÂNCIA E DESÂNIMO

Para Douglas Cassiano de Melo, 43, professor de história e geografia do Jardim Novo Santo Amaro, zona sul, a situação da evasão escolar piorou com a pandemia. 

“Percebi que muitos alunos, principalmente a partir do 9º ano, têm faltado bastante agora com aulas a distância. Muitos desanimam mesmo. Acho que até o oitavo ano, os pais têm mais controle”, relata. 

Desde 2012 na educação como inspetor e dando aulas há quase cinco anos, Douglas acredita que o que mais desmotiva o aluno é o formato da escola atual. 

“A escola tinha que integrar mais o estudante, esse modelo de o jovem ter que ficar trancado, pedir tudo, é difícil. O adolescente de hoje precisa se apropriar, tomar posse. O método de ensino atual não é mais atraente para a juventude.” 

O QUE DIZ O GOVERNO E A PREFEITURA

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo diz que até o fim do primeiro bimestre de 2021, 2,85 milhões de alunos da rede estadual acompanharam as aulas por meio do aplicativo do Centro de Mídias SP. 

A multiplataforma disponibiliza aulas ao vivo para os estudantes de todas as séries. Ainda há alunos que acompanham os conteúdos pelos dois canais de TV aberta (plataforma digital e da TV Cultura, redes sociais e também em atividades nas escolas).

A secretaria afirma que os alunos da rede estadual são acompanhados constantemente em ações conjuntas para evitar a evasão escolar com orientações pedagógicas, ações de recuperação e aprofundamento a partir das avaliações.

Segundo a pasta, a taxa de evasão escolar na rede estadual em 2019 foi de 0,27% nos anos iniciais, 0,94% nos anos finais e 2,68% no ensino médio. 

Em 2020, foi de 0,15% nos anos iniciais, 0,16% nos anos finais e 0,34% no ensino médio. Porém, ressaltam que os dados de 2020 ainda não foram fechados, pois os anos letivos de 2020 e 2021 serão considerados um ciclo contínuo. 

A avaliação da aprendizagem será feita ao longo de oito bimestres (quatro de 2020 e quatro de 2021).

Já a Prefeitura de São Paulo, por meio da SME (Secretaria Municipal de Educação), diz que realiza busca ativa escolar, que já está dentro da rotina pedagógica das unidades. 

Através do NAAPA (Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem), a pasta afirma que desenvolve ações que visam contemplar os estudantes da rede municipal, além de crianças em vulnerabilidade educacional. 

A ideia, segundo a secretaria, é ajudar e auxiliar os alunos e famílias no aprendizado em casa, combater a evasão escolar, detectar vulnerabilidades e prestar suporte.

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