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2 em cada 5 paulistanos não leram nenhum livro nos últimos três meses

Pesquisa “Viver em São Paulo: Cultura” aborda hábitos de leitura na cidade. Falta de tempo e cansaço são motivos apontados pelos entrevistados

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Por: Redação

Publicado em 09.04.2019 | 21:03 | Alterado em 09.04.2019 | 21:03

Tempo de leitura: 5 min(s)
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Biblioteca Álvaro Guerra, em Pinheiros, na zona oeste (Rafael Carneiro/32xSP)

Todo início de tarde, de segunda a sexta-feira, a estudante de pedagogia Franciely Calizaya, 27, sai da faculdade, em São Miguel Paulista, e embarca em um ônibus em direção à Itaquera, na zona leste. O percurso dura cerca de uma hora e permite que ela leia algum livro dentro da lotação.

“Eu estudo e trabalho, mas sempre leio nas horas vagas. Às vezes não consigo ler todos os dias, mas sempre compenso no dia em que estou mais tranquila e sem tanta tarefa”, comenta.

“Atualmente estou lendo o best-seller ‘Para Sempre’, que possui mais cinco volumes. Comecei a ler no final do mês passado e já estou quase finalizando o primeiro livro”, diz a paulistana, que também pratica a leitura em casa e divide seu tempo entre obras de ficção, mangás e quadrinhos, além de livros da faculdade.

Diferentemente dela, seu irmão mais velho não tem o mesmo hábito. O autônomo Everson Bustillos, 30, leu seu último livro – O Pequeno Príncipe – há pouco mais de seis meses. “Não costumo ler por falta de tempo e interesse. Ler, para mim, dá sono. É mais fácil assistir TV”, conta.

Os exemplos acima representam um recorte da pesquisa “Viver em São Paulo: Cultura”, encomendada pela Rede Nossa São Paulo ao Ibope Inteligência e apresentada nesta terça-feira (9).

Seja no papel ou na tela de um tablet/smartphone, em casa, na sala de espera de um consultório ou no transporte público, os hábitos de leitura dos moradores da capital paulista se contrastam.

SEM O HÁBITO DE LER

Cerca de dois em cada cinco paulistanos declaram não ter lido nenhum livro nos últimos três meses. Outros dois em cada cinco leram um livro inteiro, com destaque para entrevistados com ensino superior (64%), das classes A (61%) e B (56%), renda familiar superior a cinco salários mínimos (57%) e idade entre 25 e 34 anos (49%).

O restante, que está entre os dois extremos, leu um livro em partes.

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Considerando os meses que antecederam o período de campo da pesquisa, entre setembro e novembro de 2018 (Reprodução)

Dos entrevistados que declaram não ter lido nenhum livro, aproximadamente 2/3 deles mencionam que não leram porque não gostam de ler ou não têm esse hábito. Ou, então, por falta de tempo. “Prefere outras atividades” e “se sente muito cansado para ler” também são motivos apontados.

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Reprodução/Pesquisa “Viver em São Paulo: Cultura”

Para a jornalista e mestre em comunicação Deise Cavignato, 32, os livros exigem mais concentração por parte do leitor, o que pode levar à perda de interesse para outras atividades.

“Você tem que dedicar muitas horas – ou dias – para terminar a leitura. Um filme você finaliza em uma hora e meia ou duas. O livro também exige uma capacidade maior de concentração e imaginação, enquanto um filme ou uma série já te traz isso através do audiovisual”, explica.

Leitora assídua de livros, Deise também diz que a prática deve ser incentivada dentro de casa e nas escolas, para as crianças e os mais jovens, de uma maneira que seja agradável a eles.

“Na pesquisa [da Rede Nossa São Paulo/Ibope], a maioria dos leitores tem idade entre 25 e 34 anos. Ou seja, são adultos e já têm uma capacidade de concentração muito maior do que os jovens”, pontua.

“Adolescentes estão muito ligados à tecnologia, que precisa ser algo rápido, dinâmico. Já o livro pede um sossego, uma tranquilidade para a pessoa se concentrar e ler. O jovem, hoje em dia, tem dificuldades para fazer isso”
Deise Cavignato, mestre em comunicação

LEITURA COMUNITÁRIA

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Daiane, Julia e Ana são mediadoras de leitura na Biblioteca Comunitária EJAAC, na zona sul (Eduardo Silva/32xSP)

No Valo Velho, bairro pertencente ao distrito do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, um grupo de voluntários mantém a Biblioteca Comunitária EJAAC (Espaço Jovem Alexandre Araújo Chaves), onde são realizados empréstimos de livros, DVDs, CDs, mangás e HQs à população.

O espaço foi contemplado no último edital da Lei de Fomento à Cultura nas Periferias, o que possibilitou a atualização do acervo, mas o projeto já existia desde 2008 por meio de doações.

“Antes não existia nada relacionado à cultura no Valo Velho, somente comércios”, comenta Daiane Moreira, 30, mediadora de leitura na biblioteca.

“Atualmente o nosso maior público são crianças e jovens. Eles gostam bastante de livros infantis, quadrinhos e mangás. Alguns livros de literatura infantojuvenil também, como Harry Potter, Percy Jackson, entre outros”
Daiane Moreira, mediadora de leitura

Quanto aos dados citados no estudo “Viver em São Paulo: Cultura”, a bibliotecária Julia Santos, 21, afirma ver de perto essa realidade no bairro.

“Conhecemos e temos contato com muitas pessoas que não têm o hábito ou interesse em ler. Segundo uma pesquisa que fizemos recentemente, a prática da leitura não é uma das principais atividades que os moradores realizam”, conta.

Na pesquisa mencionada por Julia, “assistir TV”, “ouvir música” e “passar o tempo com amigos e a família” ficam nas três primeiras colocações quando o assunto são atividades praticadas no tempo livre.

Para incentivar a leitura na região, o espaço realiza atividades de mediação de leitura, contação de histórias, rodas de leitura e encontros com autores de livros. Também há oficinas de violão e fotografia abertas ao público.

O coletivo EJAAC é composto por oito mediadores de leitura. A biblioteca comunitária funciona de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h. Para saber mais, acesse o blog do espaço.

LIVRARIAS EM CRISE

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Livraria Saraiva anunciou o fechamento de 20 lojas em 2018 (Saraiva Facebook/Divulgação)

Em 2018, duas das principais redes de livrarias do Brasil – Saraiva e Cultura – vivenciaram uma crise de mercado. A Livraria Cultura entrou com pedido de recuperação judicial para normalizar dívidas com fornecedores e preservar a manutenção de empregos.

Já a Saraiva anunciou no ano passado o fechamento de 20 lojas espalhadas pelo Brasil. Na cidade de São Paulo, a unidade da rua São Bento, no centro, e a do shopping Higienópolis fecharam as portas recentemente.

Por outro lado, a venda de livros cresceu 4,6% em 2018, em comparação com o ano anterior. Foram 44,4 milhões de exemplares comercializados no país.

Na lista dos livros mais vendidos no Brasil, destacam os títulos de autoajuda “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” (1º mais vendido), do autor americano Mark Manson, “O Milagre da Manhã” (3º), de Hal Elrod, e “Seja F*da” (5º), de Caio Carneiro.

Ainda na sequência de best-sellers, estão “As Aventuras na Netoland com Luccas Neto” (2º), do youtuber brasileiro Luccas Neto, e o “Álbum da Copa – Rússia 2018” (4º), da editora Panini.

ÔNIBUS DA CULTURA

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Ônibus da Cultura passa por 12 locais das periferias de São Paulo (Reprodução/Facebook)

Promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, o projeto Ônibus da Cultura realiza empréstimo gratuito de livros nas periferias da cidade de São Paulo.

O projeto foi inspirado e criado, na década de 1930, por Mário de Andrade como “Ônibus Biblioteca” e teve várias versões ao longo dos anos. Após ser interrompido em 2016, o serviço retomou suas atividades em dezembro de 2018 sob o nome de Ônibus da Cultura.

Atualmente possui 12 roteiros regulares, de terça-feira a domingo, das 10h às 16h, sendo revisitados a cada duas semanas.

Os endereços são locais distantes do centro da cidade, em bairros sem qualquer equipamento cultural. Entre eles, Jardim Helena, no extremo leste, Parelheiros e Grajaú, no extremo sul, e Freguesia do Ó, na zona norte.

CONFIRA:
Mooca tem 80 vezes mais livros em bibliotecas do que Cidade Ademar e São Mateus

Em cada veículo, há um acervo de quatro mil itens para empréstimo, entre livros, revistas, gibis, mangás e jornais, para crianças, jovens e adultos.

Também promovida pela Secretaria Municipal de Cultura, a Feira de Troca de Livros e Gibis ocorre em parques municipais da cidade de São Paulo, sempre das 10h às 16h. Em 2019, a feira acontece em oito localidades, uma vez por mês, a partir do dia 14 de abril. Confira o calendário aqui.

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Quanto vale o ingresso? Acesso à cultura é questão de preço em SP

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