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Anhanguera é o distrito de SP com a maior espera por um clínico geral

Demora no atendimento médico é o triplo do vizinho Perus, na zona noroeste da capital paulista, e 15 vezes menor do que na Sé, na região central

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Por: Redação

Publicado em 29.01.2019 | 16:21 | Alterado em 29.01.2019 | 16:21

Tempo de leitura: 5 min(s)
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Subprefeitura de Perus, na zona noroeste de SP (Ira Romão/32xSP)

Cento e oito dias foi o tempo médio que os moradores do distrito da Anhanguera, zona noroeste da cidade de São Paulo, levaram para realizar consulta com clínico geral ao longo de 2017.

Três vezes mais do que em Perus, distrito vizinho, onde no mesmo período a espera foi de 38 dias. Ambos os distritos, onde vivem no total 164 mil pessoas, são administrados pela subprefeitura de Perus.

Com essa lacuna, o distrito da Anhanguera é apontado no Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo, como a região da capital paulista que mais tempo leva para se conseguir um atendimento com clínico geral.

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Ficando um pouco atrás de São Rafael, localizado no extremo sudeste da capital, onde a espera, no mesmo ano, foi de 106 dias. Na terceira posição, com 101 dias, ficou a Vila Leopoldina, situada na zona oeste.

Esses dados impressionam ainda mais quando a comparação é realizada com distritos que apresentaram uma média até 15 vezes menor em relação aos líderes do ranking, como Pirituba, zona noroeste, onde a espera foi de sete dias, e a Sé, na região central, com oito dias.

No entanto, a desigualdade é sentida mesmo por quem necessita dessas consultas, realizadas em UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Na maioria das vezes, esses pacientes fazem acompanhamento por conta de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Além disso, é o único jeito dos pacientes obterem encaminhamento para atendimentos com especialistas, como cardiologista, nutricionista, ortopedista, entre outros.

DRAMAS DA CONSULTA

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Inês em sua mini mercearia, na garagem de sua casa, na Vila Palmares (Ira Romão/32xSP)

Hipertensa e portadora de hérnia de disco, Inês Vieira de Sá Carvalho Ferreira, 45, precisa realizar consultas regulares com clínico, inclusive para atualizar suas receitas e prosseguir o tratamento para controle de hipertensão por meio do uso contínuo de medicamentos.

Para tratar a hérnia, a trabalhadora autônoma necessita de um encaminhamento do seu médico e, assim, pleitear, em outra unidade de saúde, uma vaga no ortopedista.

Até o início de 2017, Inês, que reside na Vila dos Palmares/Morro Doce, distrito da Anhanguera, utilizava convênio médico. Após ela e o marido ficarem desempregados, tudo mudou.

“Quando tive que procurar por um posto de saúde, levei um susto. É muito demorado o agendamento de uma consulta. Achei muito estranho, porque no convênio, qualquer hora, eu conseguia marcar. Já no posto é muito difícil conseguir uma vaga”
Inês Vieira de Sá Carvalho Ferreira, trabalhadora autônoma

Desde que iniciou sua busca por atendimento médico na rede pública, Inês conseguiu uma única consulta agendada com clínico geral.

Agendamento obtido por meio do encaminhamento recebido na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) da região, após ela ser socorrida com crise hipertensiva.

“No posto de saúde, o clínico geral só atende os casos mais urgentes. Com o encaminhamento da AMA, consegui uma consulta com intervalo de 30 dias. Anteriormente, na mesma UBS, me alegaram que não tinha vaga.”

Essa consulta aconteceu em novembro de 2017, na UBS Jardim Rosinha. Em 2018, ela conseguiu agendamento para o mês de maio, mas o médico não compareceu no dia. Desde então, vem tentando reagendar.

“Fico atenta aos possíveis dias de agendamento. Em dezembro passado, fui duas vezes ao ‘postinho’, mas só escutei que não tinha mais vagas. Na próxima semana tentarei novamente”, assegura.

Para não ficar sem medicamentos de controle da hipertensão, ela conta com o auxílio das agentes de saúde para não perder o prazo de validade das receitas.

“Quando vou à UBS retirar meus remédios e as receitas que estão próximas do vencimento, elas [agentes] conseguem falar na mesma hora com o médico que está no atendimento das consultas do dia e as trocam. Assim, ficam asseguradas as próximas retiradas de medicamentos”, comenta.

A dificuldade de conseguir uma consulta com o clínico geral no distrito da Anhanguera afeta os moradores da região de uma maneira bem mais complexa.

É o que expõe a dona de casa Cristiane Gomes de Albuquerque, 27, também moradora do Morro Doce e paciente da UBS Jardim Rosinha. “Aqui é comum crianças, gestantes e idosos passarem com o clínico geral. No dia da consulta, tem adulto, tem criança, o médico vai só chamando”.

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A dona de casa Cristiane, mãe de cinco filhos (Ira Romão/32xSP)

Mãe de cinco filhos, com idades entre 1 e 9 anos, a dona de casa declara que a ausência de ginecologista e pediatra na UBS do Jardim Rosinha coloca o clínico geral em uma posição de médico exclusivo da família. É o clínico que acaba fazendo o acompanhamento de gestantes e de todos os pacientes que possuem doenças crônicas, independentemente do sexo ou idade.

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Com a longa espera para se realizar uma consulta, em doze meses, ela conseguiu que apenas seu filho Enzo, 2, fosse atendido.

“Mas eu só consegui o agendamento porque ele tem hérnia inguinal [uma protuberância que surge na região da virilha] e precisa passar por uma cirurgia”, avalia.  

Ainda segundo Cristiane, o tempo de espera para a consulta do pequeno Enzo com o clínico geral foi de três meses. “Eu agendei em julho. A consulta aconteceu em outubro. Isso porque era urgente”.

Sobre a falta de acompanhamento médico para os demais filhos, ela diz: “A sorte é que essas crianças são saudáveis”. E admite que, além de ficar preocupada por eles não serem acompanhados regularmente por um profissional da saúde, já foi questionada por agentes comunitários de saúde.

“Elas questionam. Chegou a vir até uma enfermeira em minha casa para me orientar sobre planejamento familiar e dizer que tenho que passar meus filhos em consulta médica. Mas não consigo agendar”.

Cristiane alega que quase todo início de mês comparece à UBS para tentar agendar consultas com o clínico geral para seus filhos e para ela também. Inclusive em diferentes horários, tanto pela manhã, quanto à tarde. Mas há um ano, ela não tem obtido êxito.

“Sempre que vou ao posto, escuto a mesma coisa. Que devo voltar no mês seguinte”
Inês Vieira de Sá Carvalho Ferreira, trabalhadora autônoma

A dona de casa espera que, neste ano, a UBS consiga ter mais médicos, incluindo especialistas. E que, assim, todos da região possam desfrutar de um melhor atendimento.

Cada uma é responsável por atender uma área específica do distrito. As áreas de atendimento de cada UBS são delimitadas de acordo com os endereços dos pacientes. Por isso, mesmo residindo no Morro Doce, as entrevistadas não podem tentar agendar consultas em outras, como por exemplo, na UBS Morro Doce. Pois o endereço delas correspondem à UBS Jardim Rosinha.

AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

A origem do ACS (Agente Comunitário de Saúde) é o PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde), implantado pelo Ministério de Saúde em 1991.

O papel do profissional que atua como agente de saúde é estabelecer e manter contato com as famílias da região correspondentes à sua área de abrangência, coletando e cadastrando dados dessas famílias sobre aspectos sociais, econômicos, sanitários e culturais.

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Além de orientar toda comunidade para melhor utilizar os serviços de saúde e acompanhar o crescimento e desenvolvimento das crianças, dentre outras atribuições.

Geralmente, o agente de saúde reside na mesma comunidade onde atua, o que facilita essa aproximação com as famílias e a criação de vínculos.

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