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Agência de Jornalismo das periferias

Magno Borges/Agência Mural

Por: Jariza Rugiano | Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 20.04.2023 | 8:15 | Alterado em 27.02.2024 | 17:29

Tempo de leitura: 3 min(s)

Janaina Alves de Sousa, 9, praticamente nasceu na umbanda, pois a mãe ia ao terreiro quando estava grávida da menina. Moradora do bairro Campanário, em Diadema, na Grande São Paulo, a criança relata admiração pela doutrina e fascinação pelas entidades cultuadas.

Todos os sábados, Janaina participa das giras, uma celebração em que a pessoa dança em círculos para incorporar tais entidades. Durante a incorporação a pessoa conversa e participa da atividade, porém está sob o controle da entidade.

“Se pudesse, diria para outras crianças que elas [entidades] nunca fazem e nunca vão fazer mal a ninguém”

Janaina, 9, moradora de Diadema

No terreiro tenda de umbanda Caboclo Ubirajara e Exu Ventania, em Diadema, Janaina já foi girada diversas vezes, mas ainda não atingiu a fase de incorporação, que só ocorrerá quando chegar à maioridade (18 anos) – algumas das práticas são permitidas apenas para adultos, pois envolvem fumar charuto ou bebidas.

Contudo, a participação da criança desde cedo é importante para o desenvolvimento mediúnico, aponta. “Com o tempo que você vai girando, girando, vai desenvolvendo mais energia”, diz.

Janaina frequenta umbanda e gosta das festas celebradas, como a de Iemanjá @Arquivo Pessoal

Segundo a menina, existem dias diferentes para incorporação de cada tipo de entidade. Nos dias das giras de direita, as roupas usadas são claras, os giros e a energia são mais leves, pois as pessoas recebem os Orixás. As luzes ficam acesas porque eles vivem no céu.

Já nos dias da gira de esquerda, as pessoas vão com roupas escuras, as giras e a energia é mais forte, porque incorporam os Exus. As luzes ficam apagadas, pois essas entidades vivem no inferno. “É pra fazer o bem sem ver a quem”, justifica para dizer que, embora seja seu lugar de morada, esses guias não fazem mal e aconselham sempre para que o incorporado faça o bem.

A tia dela, Thamires Conceição, acrescenta que as entidades vivem nessas regiões porque já foram espíritos que conheceram o mal e agora trabalham para o bem.

Janaina explica que as giras ocorrem com os olhos fechados, e a desincorporação acontece na frente da Tronqueira, espécie de altar ou casinha, que seria o portal para seu retorno ao outro plano. “Quando eles vão embora, a pessoa pula para trás, e na gira de esquerda, que é mais forte, uma pessoa fica atrás para evitar que a pessoa caia”, acrescenta.

Embora ainda não incorpore, a menina já tem seus guias preferidos. Entre eles, Maria Padilha, Maria Navalha e Exu Mirim, de esquerda, Ogum, Iansã e Preta Velha, de direita. “Gosto muito deles, dá um aperto no coração quando eles me cumprimentam”, descreve a sensação.

UMBANDA

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Nascida no Brasil, é uma religião religião afro-brasileira formada a partir de elementos do catolicismo, espiritismo e religiões afro-indígenas-brasileiras, que cultua orixás e exus e se baseia na prática do amor e caridade.

Janaina também gosta das festas, como a de Iemanjá, que é feita na praia, a de Cosme e Damião, por causa dos doces que são distribuídos e por serem protetores das crianças, e a do Preto Velho, em que há bolo de fubá e uma farofa que ela diz ser deliciosa, ambos comidos com a mão.

Quando crescer, pretende ser uma mãe de santo para abençoar a todos. “Se um filho da casa estiver precisando, a mãe ajuda e sabe o que tem que fazer”. Para chegar a essa função, Janaina esclarece que terá que passar por algumas etapas de desenvolvimento dentro do terreiro. Uma delas é aprender e ministrar passes, auxílio espiritual semelhante ao do espiritismo.

REPORTAGEM ESPECIAL

Janaina é uma dos entrevistados da série especial Religião na Infância, sobre como crianças lidam com a religião e o cenário de intolerância. Confira todas as histórias

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Jariza Rugiano

Jornalista. Gosta de andar por aí de bicicleta, encontrar os amigos, filmes, livros, shows e colecionar memes. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2017.

Jacqueline Maria da Silva

Jornalista formada pela Uninove. Capricorniana raiz. Poetisa. Ama natureza e as pessoas. Adora passear. Quer mudar o mundo e tornar o planeta um lugar melhor por meio da comunicação. Correspondente de Cidade Ademar desde 2021. Em agosto de 2023, passou a fazer parte da Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project.

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