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Campeonato de bolinha de gude reúne crianças da Ilha do Bororé

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Por Priscila Pacheco | 13.07.2016

Publicado em 13.07.2016 | 17:36 | Alterado em 22.11.2021 | 15:43

Tempo de leitura: 4 min(s)
O campeonato de Bolinha de gude encerrou o Festival de festas juninas organizado pela população da Ilha do Bororé (Jéssica Costa/Agência Mural)

No mês que antecede os jogos olímpicos no Rio de Janeiro e no qual o clima de competição aumenta, crianças de 4 a 13 anos de idade se reuniram para um campeonato inusitado na Ilha do Bororé, bairro localizado no distrito Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo: o de bolinha de gude.

O jogo não faz parte de uma modalidade olímpica, não está diante dos holofotes nem necessita de grandes gastos. Na verdade, trata-se de uma brincadeira que teve origem na Antiguidade e sobrevive até hoje. A data exata do surgimento é desconhecida, mas é sabido que na Roma Antiga e na Grécia já havia a brincadeira.

O campeonato da Ilha do Bororé aconteceu no Festival de festa junina e julina organizado pela própria comunidade na pracinha localizada ao lado da balsa que faz a travessia até o município de São Bernardo do Campo, às margens da represa Billings. Quem estimulou a competição e convidou a criançada foi Eric Silva, 21, estudante de geografia na USP (Universidade de São Paulo) que nasceu e vive no bairro.

Thaune numa das tentativas de jogo / Alana ajuda a conferir a ordem que cada participante jogará / Momento de concentração durante os jogos (Fotos: Jéssica Costa/Agência Mural)

Segundo o morador, a competição foi pensada a partir de uma reflexão sobre os valores humanos, a atitude de respeitar o outro, a amizade, o brincar com o simples e sem consumismo. “A ideia do Mundial de Bolinha de gude é justamente mostrar que a gente pode usar nosso bairro, viver nossa represa, viver nossa natureza, viver as pessoas com respeito e sem consumir”, explica.

Irineu Freire, 43, escolhido para ser o juiz do jogo, falou sobre a importância de combinar as regras para ter uma atividade harmônica. “Se a gente não consegue brincar direito, não consegue conviver direito com os outros”, diz. E foi cobrado pelas crianças para ser um juiz honesto. “Nada de roubar no jogo, Irineu”, disseram em coro.

Os jogos aconteceram na beira da represa Billings, considerada o maior manancial em área urbana da região metropolitana e o maior do mundo para alguns pesquisadores (Fotos: Jéssica Costa/Agência Mural)

Os competidores

Oito crianças participaram da competição, entre elas três meninas. Duas delas nunca haviam jogado bolinha de gude, mas estavam curiosas e animadas. “Nunca brinquei e quero brincar. Pelo menos uma vez na vida quero brincar”, disse Alana Bizarrias, 11, minutos antes de começar as partidas. “Vou participar por curiosidade. Só sei que vai ser divertido”, completou Lethícia Bizarrias, 9. “Eu já brinquei uma vez”, comentou Thaune Azevedo, 7.

Fernando de Abreu, 13, não jogava bolinha de gude há três anos. Ryan Bragança, 10, gosta da brincadeira, mas quem argumentou que treinou mesmo para o campeonato foi seu irmão Renan Bragança, 11. Apesar de o jogo de bolinha de gude não fazer parte da rotina do grupo, outras brincadeiras de rua permanecem vivas no dia a dia delas.

Algumas atrações citadas pelo grupo foram: futebol, andar de bicicleta, esconde-esconde, subir o mais rápido na árvore, pega-pega e pega-pega fruta, “brincadeira na qual a pessoa pega deve se abaixar e falar o nome de uma fruta para se salvar”, explica Lethícia. Já Miguel Azevedo de 4 anos de idade preferiu apenas dizer que gosta de brincar muito.

Outra atividade dos jovens jogadores é a leitura. “Eu gosto de ler porque é uma coisa legal, você entra no livro e pensa que está na história”, diz Alana. Já Renan fez questão de contar o enredo do livro “Guerra dentro da gente”, de Paulo Leminiski, lido recentemente.

Os pequenos de 4 anos de idade iriam jogar em uma turma separada, caso de Íkaro Bizarrias, Giovanna Romeu e Miguel. Mas os meninos se dispersaram e preferiram correr pela festa, enquanto Giovanna optou por assistir atenciosamente à performance dos maiores.

Semifinalistas acompanhados de Giovanna que assistiu toda a competição / Lucas (de camisa verde), Fernando (ao centro) e Ryan mostram os prêmios que receberam / Fernando comemora a vitória após três anos sem jogar bolinha de gude — Fotos: Jéssica Costa/Agência Mural

Hora do jogo

As oito crianças foram divididas em dois grupos. Grupo A formado por Alana, Thaune, Renan e Lucas do Nascimento, 12. E grupo B formado por Lethícia, Ryan, Fernando e Matheus Romeu, 6. Cada participante recebeu duas bolinhas de gude e o tipo de jogo escolhido por votação foi o triângulo.

Nesse módulo, cada criança coloca uma das duas bolinhas recebidas dentro do triângulo. Risca-se uma linha abaixo do triângulo e, a uma distância de mais ou menos um metro, cada criança joga a outra bolinha que ficou para decidir a ordem da jogada.

Quem acertar mais perto da linha joga primeiro. O objetivo é capturar as bolinhas e ganha a competição quem ficar com mais.

Distantes das conversas da maioria dos adultos que ficaram nas barraquinhas de comes e bebes, as crianças jogaram com muita concentração e atenção. Para a semifinal foram Thaune, Lucas, Fernando e Ryan. Na grande final, Fernando venceu Ryan e levou o título após uma disputa acirrada.

A premiação ocorreu com a chegada do pôr do sol e contou com prêmios que estimulam a leitura, a criatividade e a imaginação. Quem ocupou o terceiro e o segundo lugar recebeu um gibi da Turma da Mônica cada um. O primeiro lugar ganhou um gibi da Turma da Mônica e o livro “Os três capetinhas”. Escrito por Martha Azevedo Pannunzio, o livro conta a rotina de três crianças que vivem num apartamento e a preocupação dos pais em educá-las . Um dos meninos sonha em morar numa casa com quintal.

Por fim, as crianças explicaram que decidiram participar do jogo “porque é legal e para fazer alguma coisa diferente”. A intenção dos organizadores é desenvolver outras atividades que estimulem o brincar sem compras excessivas e a apropriação do espaço. Agora basta saber qual será a próxima competição que agitará a pracinha da Ilha do Bororé. Enquanto isso, elas seguem subindo nas árvores, andando de bicicleta, jogando bola, brincando de pega-pega, esconde-esconde, pega-pega fruta e lendo livros.

Priscila Pacheco é correspondente do Grajaú
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