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Corte de linhas de ônibus muda hábitos de moradores na zona leste

Por: Eduardo Silva

A longa espera pelos ônibus é algo comum na vida da estudante Larissa Silva, 18, que mora em São Miguel Paulista, na zona leste da capital paulista. O problema é quando os atrasos, a demora excessiva ou a irregularidade no intervalo dos coletivos fazem a jovem se atrasar para seus compromissos.

Para evitar estresse, muitas vezes, Larissa opta por ir a pé até a avenida Marechal Tito, a principal do bairro, onde tem mais opções de lotações.

“Antes eu tinha duas opções de ônibus para ir até o centro do bairro ou da cidade, então embarcava no primeiro que passasse. Agora só há uma opção de linha para usar, e, por causa da demora, já cheguei a ficar 25 minutos esperando”, comenta.

O exemplo de Larissa se tornou comum para muitos usuários de ônibus da capital. No primeiro semestre de 2017, a SPTrans recebeu mais de 18 mil reclamações relacionadas ao sistema – um número 22% menor do que o mesmo período no ano anterior, mas, ainda assim, alto. A principal queixa, com quase 5.000 mensagens, é a demora no intervalo entre os coletivos.

Além disso, de acordo com a pesquisa de Mobilidade Urbana 2017, realizada pela Rede Nossa São Paulo, Ibope e Cidade dos Sonhos, o nível de satisfação dos moradores de São Paulo em 2017 em relação ao transporte público caiu em relação ao ano anterior — 3,8 em 2017, ante 5,1 em 2016 (considerando uma escala entre 1 e 10, no qual 1 significa totalmente insatisfeito e 10 totalmente satisfeito).

Na zona leste, especificamente, passageiros dizem que após o corte de quatro linhas (confira quadro abaixo) que atendiam os bairros de São Miguel Paulista e Itaim Paulista, em agosto do ano passado, a espera pelos ônibus das linhas restantes aumentou muito – e as reclamações também.

Linhas de ônibus extintas na zona leste de São Paulo

Em agosto de 2017, quatro linhas de ônibus foram canceladas:

  • 2022/10 (Jardim dos Ipês – Terminal A. E. Carvalho)
  • 2768/10 (Vila Mara – Metrô Penha)
  • 2628/10 (Jardim Nazaré – Terminal Aricanduva)
  • 2628/22 (Jardim Nazaré – Terminal São Miguel)

“Eu quase sempre me atrasava para o trabalho, até que desisti de pegar ônibus e comecei a ir a pé até à estação Jardim Helena / Vila Mara da CPTM. Se o ônibus passar enquanto estou descendo a rua, eu pego, mas geralmente tem sido mais fácil ir andando mesmo”, afirma o analista fiscal Daniel Correia, 24.

Uma alternativa para driblar a espera é ter o controle do horário em que os ônibus passam por meio de aplicativos de celular que mapeiam o transporte público com base em sua localização GPS atual.

É o que o funcionário público Bruno Delfran, 27, tem feito. “Só saio de casa quando o aplicativo mostra que o ônibus está próximo, assim passo o menor tempo possível na rua esperando”, diz.

Questionada a respeito, a SPTrans afirma que “as alterações operacionais realizadas ao longo do ano de 2017 têm como objetivo tornar o sistema municipal de transporte coletivo mais eficiente e dar fluidez aos ônibus, diminuindo a sobreposição de linhas e possibilitando diminuir o intervalo entre veículos”.

Na ocasião, a SPTrans informou que outras duas linhas — 2772/10 (Jardim Nazaré – Metrô Penha) e 2769/10 (Jardim Romano – Metrô Tatuapé) — seriam ajustadas para atender os passageiros das linhas canceladas e teriam alteração no itinerário, aumento na oferta de lugares e ajuste na programação horária.

“A linha 2772-10 [que serve como alternativa para todas as linhas canceladas] foi reprogramada com acréscimo de quatro ônibus e de 22 partidas, passando a operar com 10 ônibus em 65 partidas por dia útil”, afirma a companhia por meio de sua assessoria.

Por outro lado, o site da SPTrans também mostra que esta linha tem intervalos irregulares, que variam entre 15 e 20 minutos. Após às 22h, o tempo de intervalo é ainda maior: aumentando para 25 minutos (22h – 22h59) e 30 minutos (23h – 23h59).

“Quando volto para casa de noite, evito fazer esses ‘caminhos alternativos’. Prefiro esperar o ônibus em um ponto mais movimentado da avenida, mesmo que ele demore. Tenho receio de assaltos no meio do caminho, por exemplo”, finaliza Larissa.

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