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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Juliana Cristina de Paula

Notícia

Publicado em 26.10.2023 | 16:46 | Alterado em 26.10.2023 | 16:49

Tempo de leitura: 4 min(s)

Inspirada pelo segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado, também conhecido como “savana brasileira”, Luilia Vicente Ferreira, 29, deu o nome do restaurante em homenagem à região e à sua família que veio do Rio Grande do Norte.

Moradora da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, ela é sócia e responsável pela comunicação da Savana Vegan Food, espaço que oferece opções de fast food vegano na região.

“Quando me tornei vegana, eu não encontrava as coisas. Se queria pão, ‘carne’ de panela, eu tinha que fazer. Tive muita dificuldade, porque aqui não tinha opções, então tudo eu tinha que preparar”, relembra Laisa.

As irmãs abriram o restaurante em 2021 com aquilo que tinham em mãos: a cozinha de casa, criatividade e muita vontade de levar comida vegana e de qualidade por um preço acessível para as pessoas. Começaram com marmitas de comida vegana por R$ 15 na Vila Dionísia, bairro do distrito da Cachoeirinha.

Lanche vegano vendido pela Savana @Juliana Amorim/Divulgação

Apesar das marmitas terem sido o ponto de partida, a falta de alternativas que fossem diferentes, próximas geograficamente e, principalmente, atendessem a esse tipo de restrição alimentar, fez com que as fundadoras questionassem o próprio cardápio. Foi quando optaram por oferecer opções de fast food vegano (hambúrgueres, batatas fritas, nuggets, entre outros).

O cardápio do restaurante foi inteiramente criado por Laisa e, hoje, oferece diferentes opções de lanches a partir de R$ 20, acompanhamentos a partir de R$15. Em datas comemorativas, como o Natal, elas produzem panetones e até ceias completas por encomenda.

Tudo é preparado por Laisa com a ajuda da mãe, Maria Teixeira da Silva Ferreira, 51, que, além disso, borda panos de prato com frases politizadas que também são vendidas pelo delivery por R$ 29,90.

A mãe Maria Teixeira também ajuda com bordados e no preparo dos lanches @Juliana Cristina de Paula/Agência Mural

Origem nordestina

A ideia do nome Savana também leva em conta a busca por representar a diversidade da natureza do Brasil. “Muitas pessoas não sabem, mas uma das maiores savanas é a brasileira”, conta Luilia.

Apesar de ter vindo para São Paulo com apenas um ano de idade (trazida pelos pais que migraram para a capital paulista em busca de melhores condições de vida), Luilia acha importante homenagear o Nordeste do Brasil. Além de ser a região onde nasceu, ainda é o lugar onde a maior parte da família mora.

“O animal que representa o restaurante, a onça pintada, também faz parte do bioma daquela região. Escolhi o Cerrado por conta dessa característica mais seca que me remete ao Nordeste”, expressa. O Cerrado é uma área que se estende do Centro Oeste do Brasil até a região Nordeste.

Designer e cliente do restaurante desde 2021, Leticia Oliveira Aragão, 21, é desde os 14 anos “vegetariana estrita” (alimentação vegana, mas usa produtos de higiene e beleza que podem conter ingredientes de origem animal).

Ela afirma que nunca tinha experimentado fast food vegano antes de conhecer o estabelecimento. “Acho importante termos uma opção assim, porque a periferia já é excluída de muitos acessos, e o veganismo é mais um deles”, afirma.

Algumas opções oferecidas pela Savan Vegan Food @Juliana Amorim/Divulgação

Algumas opções oferecidas pela Savan Vegan Food @Juliana Amorim/Divulgação

Algumas opções oferecidas pela Savan Vegan Food @Juliana Amorim/Divulgação

Algumas opções oferecidas pela Savan Vegan Food @Juliana Amorim/Divulgação

Algumas opções oferecidas pela Savan Vegan Food. Coxinha de jaca @Juliana Amorim/Divulgação

Algumas opções oferecidas pela Savan Vegan Food @Juliana Amorim/Divulgação

“Acho que pode parecer inacessível, ainda mais pela propaganda que as pessoas têm feito de que veganismo é caro. Não acredito nisso, porque vivo o veganismo e não sou rica. É importante chegar informação sobre outras maneiras de se alimentar, até porque a gente, periféricos, pode fazer a diferença”, comenta Leticia.

Essa tem sido a bandeira de Luilia e Laisa. Elas destacam que é possível ter uma alimentação sem origem animal e de baixo custo comprando em feiras livres, por exemplo.

Luilia reflete que ter carne na mesa, especialmente nas periferias, é sinônimo de fartura. No entanto, a quebra dessa crença poderia ser benéfica tanto financeiramente quanto em relação ao aumento do consumo de nutrientes.

Ela comenta que, geralmente, as alternativas de proteínas animais mais baratas são de qualidade inferior e prejudiciais à saúde, como embutidos [alimentos como salsicha e linguiça].

“A importância de passar informações é para construir uma comunidade independente para fazer suas próprias escolhas, nem que seja no prato. Esse é o propósito da Savana”

Luilia, uma das criadoras da Savana Vegan Food

As irmãs pretendem continuar espalhando informação sobre veganismo nas periferias. Recentemente, as duas produziram e lançaram um livro de receitas chamado “Aham, tudo vegano” através das redes sociais do restaurante.

Também receberam convites para realizarem eventos como a “Feira de Profissões” no Jardim Peri (zona norte da capital), a ‘Feira de Sustentabilidade” de uma escola da rede privada e até um casamento para 50 pessoas, no qual serviram o bolo principal e lembrancinhas.

Laisa comenta que também querem mostrar o impacto social, econômico e ambiental que a mudança de hábitos alimentares pode causar na vida das pessoas.

“Existe muito receio sobre mudanças na comunidade, mas como moradoras da periferia, levar nosso conhecimento para outros que podem continuar esse trabalho é o que nos move”, completa Laisa.

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Juliana Cristina de Paula

Jornalista, pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura. Voluntária na ONG Conexão Favela. Amante de histórias e estórias, adora escrever, fotografar, ler, e assistir filmes e séries

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