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Agência de Jornalismo das periferias

Marcos Santos / USP Imagens

Por: Thainná Bastos

Notícia

Publicado em 09.02.2023 | 15:17 | Alterado em 27.02.2024 | 16:38

Tempo de leitura: 4 min(s)

Dois anos após a morte de Antonio Luiz Marchioni, o Padre Ticão, um filme documental sobre a trajetória do religioso e a luta a favor da cannabis medicinal pode sair do papel.

O projeto intitulado “A Planta do Padre” é idealizado pela Escola Viveiro, que há 20 anos oferece serviços socioambientais em São Paulo, com apoio do Instituto Padre Ticão, em Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital

Morto em 2021, Ticão atuou por décadas na região, onde teve papel importante em movimentos sociais. ”Me sinto honrado por ele ter aceitado a minha proposta. É uma grande responsabilidade produzir algo que representa o legado dele”, relata Tarcísio Penteado Vecchini, 58, idealizador e produtor do projeto.

“Gostaria que acontecesse o quanto antes para mostrar como o universo da maconha é amplo e o Brasil só perde ficando para trás nisso”, ressalta.

Padre Ticão faleceu em 2021, mas seu legado pode virar filme @Marcos Santos / USP Imagens

Marcado por preconceitos e tabus, o uso do medicamento é autorizado desde 2015 no Brasil, mas apenas neste ano o estado de São Paulo criou uma lei para garantir a gratuidade do uso da substância.

Ao todo, 21 pessoas estão envolvidas no trabalho e o filme traz histórias reais de pacientes e moradores da comunidade de Ermelino que se beneficiaram com a medicina canabinoide e os ensinamentos de Ticão.

“O trabalho do Padre Ticão me impactou por ser muito valioso. É muito importante pessoas com a dedicação dele na sociedade em que vivemos, capazes de mudar a vida das pessoas”

Tarcísio Penteado Vecchini, idealizador do filme

O filme ainda está em fase de pré-produção e busca apoio financeiro para seguir. Além disso, 70% de toda a arrecadação líquida com o projeto, após o lançamento, será destinada ao Instituto Padre Ticão, para dar continuidade às obras iniciadas pelo religioso. Saiba mais aqui.

Trajetória

Nascido em Urupês, região noroeste do Estado de São Paulo, Padre Ticão veio para a capital nos anos 1970, depois de apoiar a greve dos “bóias-frias” e de professores em Araraquara, interior paulista.

Em entrevista para a Folha de S. Paulo em 2007, ele afirmou não ter tido apoio na sua cidade, por isso migrou para a capital: “No interior, me chamavam de comunista. Aqui, dom Paulo Evaristo Arns sempre me apoiou”, disse na época.

Na década de 1980, participou da invasão ao prédio da Secretaria de Estado da Habitação junto aos fiéis para pressionar o então governador Franco Montoro (1983-1987) a construir conjuntos habitacionais.

Durante os 42 anos à frente da Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo, Ticão ficou conhecido não só pelo sacerdócio, mas por lutas sociais relacionadas à educação, saúde e moradia. 

Ticão era reconhecido por lutar pelas causas sociais na zona leste de SP @Thainná Bastos / Agência Mural

Ele foi um dos líderes do movimento pela criação do Parque Dom Paulo Evaristo Arns e do Hospital de Ermelino. Na região,fez parte da mobilização para a instalação da USP Leste e da Unifesp Leste, em Itaquera.

Além disso, fundou creches, centros de apoio ao Idoso e bibliotecas nas comunidades católicas. No bairro Cidade AE Carvalho, um dos seus últimos momentos junto à comunidade foi a luta pela construção de uma ETEC e FATEC no lugar de um “cadeião”.

Contudo, a fama e perseguição veio após começar o ativismo a favor da regulamentação e uso da cannabis medicinal se tornar viral na internet. O pároco defendia abertamente o uso da planta contra doenças.

Em 2019, criou um curso sobre a temática em sua igreja, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo. Tal atitude revoltou alguns religiosos mais radicais e conservadores, fora membros católicos. 

“Além de ser um padre ativo, ele tinha muita escuta, não ficava na superfície dos problemas sociais da paróquia e por isso acabou incomodando a hierarquia católica paulista mais conservadora com questões como remédios à base de cannabis”, afirma a advogada Margarete Brito, coordenadora executiva da Apepi (Associação de Pacientes de Cannabis).

Padre Ticão morreu na zona leste de São Paulo por complicações cardíacas, em 1º de janeiro de 2021, aos 68 anos de idade. Para moradores de Ermelino Matarazzo, a perda ainda é sentida e ele deixou um legado no bairro.

“Está fazendo muita falta, mas onde quer que ele esteja, sentirá orgulho ao darmos continuidade ao que ele deixou, pois era o que ele queria”, afirma Lucas Barbosa, 26, profissional de T.I (Tecnologia da Informação) e morador de Ermelino, além de membro ativo da igreja São Francisco de Assis.  

Missa em homenagem ao religioso foi realizada em janeiro de 2023 @Thainná Bastos / Agência Mural

Na manhã de 21 de janeiro de 2023, foi realizada uma missa em homenagem ao padre, na Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo, onde ele foi sacerdote por mais de 40 anos. Durante a celebração, muitas pessoas se emocionaram.

“Nesta caminhada tenho entendido que não existe um Padre Ticão, existem milhares, porque ele tocou cada um de nós e nos inspirou de maneira tão única e especial que nos torna pessoas privilegiadas”, destacou Gabrielle Dainezi, 42, coordenadora do Instituto Padre Ticão.

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Thainná Bastos

Jornalista, escritora. Autora do livro-reportagem "Em Busca de Respostas - Relatos de desaparecimento de idosos". É apaixonada por música, cultura pop e viagem. Adora descobrir coisas novas e contar boas histórias. Correspondente de Ermelino Matarazzo desde 2021.

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