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Favela Gaming usa jogos para capacitar jovens na zona sul de São Paulo

Isabela Estevam

Iniciativa pretende potencializar jovens periféricos para que possam ingressar em diversos setores da indústria gamer

Por: Mateus Monteiro

Notícia

Publicado em 09.08.2023 | 19:23 | Alterado em 10.08.2023 | 11:30

Tempo de leitura: 4 min(s)

Daniel Farias, 17, vê o mundo dos jogos com chance de ser um trabalho. Morador do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, o plano dele é montar o próprio computador para realizar transmissões ao vivo e compartilhar momentos marcantes em plataformas de streaming.

Conhecido como Dante e com o apelido “DanteRaglan” nas partidas, ele deve ter um novo espaço para treinar as habilidades no próprio bairro.

Trata-se do Favela Gaming, laboratório que vai funcionar dentro do Projeto Viela, iniciativa que atua com crianças e adolescentes do bairro criada em 2009, e que hoje funciona na rua Macedônio Fernandez.

O estúdio de jogos ainda não foi inaugurado, porém alguns jovens já usaram o espaço para diversão. No mês de julho, um campeonato de FIFA 23 (jogo de futebol) reuniu cerca de 100 crianças no local.

“Temos muitos exemplos de equipes competitivas que surgiram do nada e agora trabalham nesse ramo. Pretendo entender melhor como funciona esse mercado e seguir adiante”, comenta Dante.

Projeto Viela começou em 2009 no Jardim São Luís @Mateus Monteiro/Agência Mural

Atualmente, o jogo que ele mais usa é o Honor Of King, no celular. Ele almeja participar de campeonatos no Favela Gaming, principalmente na categoria de jogos de tiro em primeira pessoa (FPS), como Call Of Duty, Valorant e CS GO.

Games no Viela

O Projeto Viela foi criado por Buiu, 41, presidente da ONG. A instituição concentra esforços em atividades direcionadas aos jovens que vivem nas periferias. Mensalmente, o projeto atende cerca de 380 crianças e adolescentes.

O contato com os games começou por meio de um curso de robótica realizado em 2022. Os participantes utilizaram o jogo Minecraft para compreender a mecânica e desenvolveram projetos, como um medidor de temperatura e a utilização de robôs movidos pela luz solar.

Após participar de um evento de jogos no mesmo ano, a ONG constatou a grandeza do mercado gamer.

“As crianças querem ser criadoras de conteúdo digital, querem ser gamers”, afirma Buiu. “Isso é bom, porque abre espaço para mudança social, pois, com os games, elas veem que podem mudar a vida de suas famílias.”

Contudo, a construção demandaria tempo. Foi quando o grupo recebeu uma proposta da Gerando Falcões sobre o tema. A organização ajudou a conectar com o Youtube e a Final Level para criarem a parceria.

Área de jogos do Favela Gaming, no Projeto Viela @Mateus Monteiro/Agência Mural

Eles oferecem um Bootcamp, iniciativa educacional, que já contém mais de 100 aulas online gratuitas, além de competições como o Favela Gaming Cup que ocorreu em 2023. Há ainda um laboratório, voltado para produção de conteúdo.

“As aulas apresentam um caminho para possíveis trajetórias no setor gamer, permitindo que jovens de todas as comunidades possam participar”, afirma Manuelle Pires, gerente de parcerias estratégicas do YouTube Gaming Brasil.

Além das aulas online, serão realizados cursos no próprio Projeto Viela, como programação e streaming, e apresentar carreiras profissionais em diversos setores da indústria dos jogos, como edição de vídeos, produção audiovisual, design e criação de conteúdo.

“A ideia é profissionalizar e apresentar aos jovens das favelas que o mercado de e-sports vai muito além de ser apenas um jogador de um jogo específico”, diz Brunno Portella, o Gujo, 38, sócio-diretor e responsável pela estratégia criativa na Final Level Company.

Ele cita que o espaço pode proporcionar oportunidades em outras áreas, como videomakers, profissionais de produtos, gestão e recursos humanos.

Outras áreas

Esses outros caminhos é o que despertam a atenção de Gustavo Feliciano, 18. O objetivo dele é ter um estúdio musical de louvor gospel, mas também demonstra interesse em competições na arena e não descarta a ideia de seguir carreira como gamer. Ele vê a presença da arena no Jardim São Luís como algo positivo.

Gustavo tem se envolvido com jogos desde a adolescência. Normalmente joga pelo celular e não dedica muito tempo aos jogos durante o dia. Mas gosta de jogos de tiro, como Free Fire e GTA.

“Ter uma arena de jogos no bairro é uma novidade muito boa, especialmente para aqueles que não têm condições de ter um videogame ou computador em casa”

Gustavo Feliciano, 18, morador do Jardim São Luís

Kauan Alves Mendes, 15, tem contato com jogos desde a infância, ao ganhar o primeiro videogame. Ele pretende seguir a carreira de fotógrafo, e diz acreditar que os jogos podem ter um impacto positivo. “Os jogos são uma oportunidade de mudar de vida e trabalhar com isso. O projeto pode ajudar muitas pessoas e abrir uma nova porta para elas”, afirma.

Espaço teve primeira atividade para jovens em julho @Isabela Estevam

Como funcionará

A divisão de jogadores será feita com base na faixa etária, abrangendo dos 10 aos 22 anos.O objetivo é promover a participação de todos os gêneros para que atuem em conjunto nas atividades. As inscrições serão gratuitas e ocorrerão por meio das redes sociais, grupos de propagação da ONG e por meio do “boca a boca” com a população.

A estrutura conta com computadores gamers de última geração e consoles de videogame, como o Playstation 4, Playstation 5 e Xbox Series S, foram presentados ao Viela por conta da iniciativa.

“A expectativa é proporcionar igualdade de condições com aqueles que não são da favela e, assim, tentar diminuir essa linha que é tão desigual”, afirma Elisa Santos, 30, educadora no Projeto Viela.

Para promover o Favela Gaming, será realizado um campeonato de FIFA 2023, com uma taxa de inscrição de R$ 100. O torneio contará inclusive com a participação de jogadores profissionais de FIFA.

As taxas de inscrição arrecadadas serão utilizadas para premiar o vencedor da competição. Além disso, parte dos recursos será destinada para realizar um churrasco aberto na rua do Projeto Viela.

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Mateus Monteiro

Jornalista. Porta-voz da periferia, lugar que tem afinidade desde o seu nascimento. Correspondente do Jardim São Luís desde 2022.

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