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Fofão e Servílio de Oliveira relembram origem nas periferias antes de virarem lendas olímpicas

Por: Cleberson Santos

O Brasil soma 129 medalhas na história dos Jogos Olímpicos. Dessas conquistas, ao menos 29 atletas com origem em bairros periféricos ou cidades da Grande São Paulo participaram em esportes individuais ou coletivos. São nomes como o corredor Adhemar Ferreira da Silva, os ginastas Arthur Zanetti e Diego Hypólito, a jogadora da seleção feminina de futebol Cristiane, a atleta do basquete Janeth.

Entre os pioneiros desse seleto grupo temos Servílio de Oliveira, medalhista de bronze no boxe nos Jogos da Cidade do México, em 1968, e Fofão, cuja primeira medalha pelo vôlei em Olimpíadas veio nos Jogos de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996. 

Eles são os entrevistados da primeira reportagem desta série sobre as quebradas de São Paulo nos Jogos Olímpicos, com episódios também no “Próxima Parada”, podcast da Agência Mural, original Spotify.

Ao todo, serão três reportagens. Esta primeira conta um pouco dos desafios sobre quem veio das periferias e conseguiu escrever sua história no maior evento esportivo do mundo.

28 anos separam a medalha de bronze de Fofão em Atlanta em 1996 com a de Servílio de Oliveira na Cidade do México em 1968. Porém, a forma como ambos conheceram o esporte que os consagrariam futuramente foram bem semelhantes.

Servílio, hoje com 73 anos, cresceu na Vila Simões, um bairro periférico na região do Ipiranga, na zona sul da capital. Enquanto o sétimo dos 13 filhos da família Oliveira entrava na adolescência, o Brasil acompanhava as conquistas de Éder Jofre, tricampeão mundial de boxe na primeira metade da década de 1960. 

Impulsionado pelo sucesso do ídolo, Servílio, ao lado de amigos e dos irmãos, começou a dar os primeiros golpes nos porões e quintais de casa. 

“Meus irmãos compraram luvas, começaram a treinar e eu fui no embalo deles, quando eles deixavam as luvas em casa, eu chamava os meus amiguinhos e fazia lutas com eles”, relembra Servílio em entrevista à Agência Mural.

Fofão, 51, não tinha o quintal, mas tinha um campo de terra onde as crianças do Lauzane Paulista, bairro da zona norte de São Paulo. Era ali que Hélia Rogério de Souza  começou a conhecer alguns esportes.

A gente fazia as brincadeiras ali, amarrava uma rede, jogava queimada, mas sem nenhuma estrutura, era tudo mesmo improvisado com o que tinha lá”, conta Helinha, como é conhecida no bairro. O vôlei entrou na vida dela mesmo graças às aulas de educação física, quando percebeu que levava jeito para a modalidade.

Para treinar, os dois precisaram ir para longe de casa, prova de que a falta de estrutura para prática de esportes já é um problema antigo das nossas periferias. Aos 13, Servílio estava no Caracu Boxe Clube na República e Fofão começava a treinar no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, na região do Ibirapuera. 

“Se as nossas autoridades olhassem melhor, divulgassem, colocassem a molecadinha para praticar esportes, a gente teria um país muito mais desenvolvido. Penso que a política do nosso país é a do quanto pior melhor, quanto mais ignorante for o povo, mais fácil de manipular”, lamenta Servílio.

Apenas cinco anos separam ele do começo no Caracu ao bronze na Cidade do México. E depois mais três anos até alcançar o terceiro lugar no ranking mundial do pugilismo.

A história do jovem do Ipiranga poderia ter sido tão vitoriosa quanto a do ídolo Éder Jofre se um deslocamento de retina durante uma luta em 1971 não tivesse o obrigado a se retirar dos ringues.

Ainda assim, demorou 44 anos para o boxe brasileiro novamente ter um medalhista olímpico: em 2012, Esquiva Falcão levou a prata, enquanto Adriana Araújo e Yamaguchi Falcão conquistaram o bronze. Em 2016, Robson Conceição foi ouro nos Jogos do Rio de Janeiro. 

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Já Fofão teve tempo de sobra para escrever a história dela no vôlei mundial. Desde a primeira convocação, em 1991, a levantadora disputou 340 partidas pela seleção brasileira, cinco jogos olímpicos e conquistou mais duas medalhas: outro bronze em 2000 e o ouro em 2008, em Pequim.

“Sempre tive muito orgulho [do Lauzane Paulista], sempre quis deixar bem claro de onde eu vim, das minhas origens. Acho que a gente não tem que ter vergonha disso, tem que ter orgulho de saber que a gente conseguiu chegar, mesmo vindo de uma situação de periferia”, conta Fofão. 

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