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Operação Sono Tranquilo: pancadões diminuem, mas conflitos crescem

Iniciativa da Prefeitura de São Paulo para combater bailes funks irregulares começou na Cidade Tiradentes e se expandiu para outros distritos

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Por: Redação

Publicado em 18.01.2018 | 13:51 | Alterado em 18.01.2018 | 13:51

Tempo de leitura: 4 min(s)
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Frequentadores dos pancadões são, em sua maioria, jovens da periferia (Reprodução – Documentário “No Fluxo”)

Em vigor desde fevereiro de 2017, a Operação Sono Tranquilo foi criada para inibir os “pancadões” não autorizados que aconteciam em vários pontos da Cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo. Na época, foram identificadas nove vias onde ocorriam os chamados “fluxos”: festas e bailes funks de rua que reúnem, na grande maioria das vezes, jovens da periferia, e infringem leis, como perturbação do sossego, poluição sonora e fechamento de vias públicas.

De acordo com informações da Prefeitura, a Cidade Tiradentes apresentava 50 ocorrências por finais de semana e, atualmente, o número foi reduzido para apenas três. Além disso, desde o início das operações, também são feitas vistorias em bares e demais estabelecimentos, e apreensões de veículos irregulares na região.

Ao longo de 2017, iniciativa foi levada para outros distritos, como ao Itaim Paulista, desde o mês de maio, e a Guaianases, também localizados no extremo leste da capital paulista, a partir de agosto.

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As ações são feitas em parceria com a Polícia Militar, a Guarda Civil Metropolitana e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), além de fiscalização das respectivas prefeituras regionais.

No Itaim Paulista, um dos fluxos (que reunia cerca de 2.000 pessoas aos fins de semana) acontecia no Jardim Robru e foi combatido pela iniciativa. Felipinho DS, 18, morador da região e dono da música “Entra na vibe, bebê”, é contra a medida.

“O funk traz alegria para toda a comunidade. A ação é mais uma forma de criminalizar um estilo musical que não é crime”, afirma o MC. Para ele, a existência destes encontros noturnos [fluxos] se deve a falta de opções de lazer para os jovens da periferia.  

Em contrapartida, no mesmo bairro, o articulador de baladas Guilherme Nascimento, 21, é favorável à operação. “Já fiz muitos fluxos, porém, como não davam retorno financeiro e geravam problemas com drogas, resolvi parar e seguir com as baladas em lugares fechados”, diz.

Segundo dados compilados do Mapa da Desigualdade 2017não existem salas de shows, concertos e museus no Itaim Paulista. Em controvérsia, a prefeitura regional afirma, em nota ao 32xSP, que a medida é uma forma de zelar pela qualidade de vida dos moradores e que, na região, há nove espaços públicos destinados ao lazer, como um Clube da Comunidade, uma Casa de Cultura, dois CEUs, duas Fábricas de Cultura e três parques.

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Já em Guaianases, as operações do “Sono Tranquilo” começaram a acontecer a partir do segundo semestre de 2017. A prefeitura regional fica com a função de fiscalizar bares e comércios perto dos “pancadões”. As ações resultaram em 86 multas em bares que acabaram fechados por falta do alvará de funcionamento.

Em entrevista publicada em maio de 2017, o prefeito regional do bairro, Chiquinho 90, prometeu ações mais “duras” com as festas de rua, mas, por outro lado, queria formular, com os próprios jovens, um plano cultural e esportivo para atender a demanda do público que geralmente frequenta os fluxos.

Questionada se, durante o período em que foram colocadas em prática as operações, também foram criadas outras alternativas para que houvessem os fluxos de maneira mais controlada, a resposta da prefeitura regional foi não.

O Ipiranga, na zona sul, é outro distrito que deve receber uma megaoperação contra pancadões a partir do primeiro semestre de 2018. O 32xSP entrou em contato com a prefeitura regional para saber se já existe um mapeamento dos bairros que mais registram reclamações sobre os pancadões, mas não obteve retorno até o fechamento desta publicação.

Além de São Paulo, a cidade de Santo André também adotou a Operação Sono Tranquilo em algumas regiões do município. 

CONFLITOS

No início de 2018, o prefeito regional da Cidade Tiradentes, Oziel Souza, recebeu ameaças de frequentadores dos fluxos, após proibir os pancadões irregulares na região. Já na última semana, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse em entrevista à Rádio Bandeirantes que “pancadão é uma praga” e que muitos dos organizadores são originários de facção criminosa. A declaração não agradou os organizadores dos bailes funk, que cobraram a continuidade do projeto Funk SP (também conhecido como “pancadão oficial”).

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O Funk SP foi criado em dezembro de 2014 na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), por meio da Secretaria Municipal de Promoção e Igualdade Racial (SMPIR), e regulamentava a realização de shows de funk nas comunidades numa tentativa de conciliar as festas de rua — como um direito à diversão e acesso à cultura — e o bem-estar/descanso da população.

Em 2016, próximo ao fim do mandato de Haddad, a verba destinada ao projeto foi reduzida para menos da metade e o programa foi encerrado no mesmo ano.

Desde então, as festas irregulares nas ruas aumentaram consideravelmente, bem como o crescimento de conflitos entre as prefeituras regionais e os frequentadores dos fluxos, especialmente após o início da Operação Sono Tranquilo.

REPORTAGEM ESCRITA TAMBÉM POR DANIELLE LOBATO E LUCAS VELOSO.

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