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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Bruna Nascimento

Notícia

Publicado em 08.08.2023 | 15:07 | Alterado em 08.08.2023 | 15:33

Tempo de leitura: 4 min(s)

O filme da Barbie, lançado em julho, coloriu de rosa as redes sociais e até comércios. Quem não ficou de fora da moda foi Amanda da Silva, 28, dona da papelaria Arco-íris Rosa, apresentada por ela como “a papelaria mais rosa de Itaquá”.

Moradora de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, Amanda usou filtro da Barbie em vídeos nas redes sociais para divulgar a papelaria. Também aproveitou para desenvolver produtos especiais com o tema, como kits cor de rosa e uma caixa de canetas inspirada na embalagem da famosa boneca, feita com materiais reciclados.

A cor da moda, porém, já fazia parte do pequeno negócio de Amanda antes do filme.As seguidoras e clientes da papelaria, localizada em uma banquinha na rua, próxima da praça central de Itaquaquecetuba, foram batizadas por Amanda como “coloridas no tom de rosa“.

Brindes rosas artesanais exclusivos, feitos em parceria com outra empreendedora, também são meios encontrados por ela para gerar identificação e fidelizar a clientela.

Amanda começou trabalho em 2022 @Arquivo Pessoal

“Às vezes a pessoa vai numa loja e não é tão bem tratada como com o microempreendedor. Porque ele sabe o quão suado é para aquele cliente chegar, então ele dá o melhor”, conta Amanda.

Entre a variedade de produtos, estão artigos de papelaria fofos e multifunções, como borrachas de diferentes formatos, marca texto apagável, caderno antiestresse ou com capa de pelúcia, além de variadas canetas, como uma com recipiente para perfume, uma em formato de lego que vira chaveiro e até uma que simula vacinas de Covid-19.

Amanda conta que no passado, teve outros projetos profissionais que não tiveram sucesso. Ela já abandonou o curso de contabilidade, uma antiga papelaria, com produtos mais simples do que a atual, um brechó e planos de ser manicure.

Foi em um encontro com o tema empreendedorismo feminino, de um projeto de terapia grupal gratuita da igreja frequentada por Amanda, que a busca profissional despertou. Mas o que era vontade de empreender, virou necessidade com a perda do marido, morto em um acidente de moto em outubro de 2022.

“Eu tinha alguém que me sustentava, eu não trabalhava e aí que pegou. Não tinha saído nada do INSS, só estava vivendo com a rescisão que a empresa forneceu”, recorda. Ela conta que as filhas Lorennah, 10, Allyce, 5 e Anna Beatriz, de apenas 1 ano e 11 meses, foram quem a impulsionaram.

“Fiquei viúva e ali precisei me reinventar no meio de um luto, então eu acho que é questão de escolha, você saber escolher o que que você quer ser. Você quer ficar prostrada ou quer levantar?”, reflete.

Banca improvisada usada por vendedora @Arquivo Pessoal

Dois meses após o falecimento do marido, Amanda ganhou uma cesta com artigos de papelaria de presente de aniversário de amigos da igreja. Segundo ela, a surpresa foi recebida com um aviso divino de que dali viria o sustento. “Fui vendendo, multiplicando esse dinheiro e fui trazendo mais mercadorias”, conta.

“A papelaria Arco-íris rosa não é só uma uma papelaria, ela veio para mostrar que uma mulher frustrada lá atrás na parte profissional pode vencer sim obstáculos. É muito mais além do que só uma papelaria, veio para me curar internamente”, afirma Amanda.

Da mala à banca improvisada

No início, Amanda levava os produtos em uma mala e circulava por ruas e comércios da cidade. Os principais clientes eram pessoas do convívio, com boa parte dos pagamentos ‘fiado’.

Quando notou que estava perdendo dinheiro para o sustento da família e manutenção do negócio, ela resolveu montar uma barraca na área central de Itaquaquecetuba.

Amanda montando produtos em casa @Arquivo Pessoal

Improvisou uma tábua em cima de uma fruteira de madeira, um lençol do berço da filha e um cartaz feito em cartolina e papel EVA para montar a banca de exposição dos produtos.

“É essa a minha história”, diz. Hoje, ela recebe o valor da aposentadoria do marido, mas o que eram R$ 3.000 passaram a ser um salário mínimo – R$ 1.320. “Foi muito rebaixado. Só o meu aluguel é R$ 800 para você ter uma noção. Aluguel não está barato”, desabafa Amanda,

“O salário que o governo cede você não faz nada para uma mãe que tem 3 filhos. Eu tenho uma mãe também que mora comigo, minha mãe está desempregada. São quatro bocas para sustentar”

Apesar do local de trabalho simples, a papelaria Arco-íris Rosa busca dar o melhor aos clientes e quer ser vista além dos olhares de pena ou preconceito.

“A gente enfrenta chuva, frio, tem que montar [a banca], tem todo um processo, desgaste. Teve um dia que ventou e eu perdi quase toda minha mercadoria, enche de pó, as mercadorias acabam perdendo valor”, conclui.

Para driblar esses problemas e a partir do sucesso do pequeno negócio, Amanda alugou recentemente o box de uma galeria na área central de Itaquaquecetuba, onde, em breve, será o novo espaço físico da papelaria. A criação de um site e vendas por meio de plataformas on-line também são planos para um futuro próximo.

“A gente queria que olhassem com mais carinho para os ambulantes […] Por que o ambulante está na rua? Justamente porque a legislação é muito complicada, a gente não tem uma visibilidade, é muito burocrático, os valores de aluguéis são altos”, diz Amanda.

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Bruna Nascimento

Fotojornalista, sonhadora, observadora e ouvinte de 'causos' profissional. Corinthiana maloqueira e sofredora (graças a Deus), boa sujeita, pois gosta de samba e tal qual Candeia na voz de Cartola, precisa se encontrar e vai por aí a procurar. Correspondente de Suzano desde 2019.

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