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Pesquisa expõe as desigualdades de São Paulo a partir dos saraus

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Por: Redação

Publicado em 07.08.2017 | 17:51 | Alterado em 07.08.2017 | 17:51

Tempo de leitura: 4 min(s)

Realizados predominantemente em lugares informais, como bares e centros alternativos de cultura, cerca de 80 saraus estão espalhados pela cidade de São Paulo. Localizados e associados às regiões periféricas, essa prática evidencia questões ligadas ao acesso e à oferta de espaço de lazer nesses locais.

É o que afirma a jornalista Livia Lima, autora de um estudo sobre a história e trajetória de integrantes dos saraus de literatura. “O fato de muitos saraus acontecerem em bares e praças públicas nos mostra como há uma ausência de oferta de espaços de lazer e cultura nesses bairros, e como, de certa forma, eles servem de alternativa para essa falta”.

Na pesquisa, Lívia avaliou a formação escolar e levantou dados socioeconômicos de saraus situados em quatro diferentes localidades: São Miguel Paulista, na zona leste, Campo Limpo e Grajaú, na zona sul, e Pirituba, na zona norte.

Livia conseguiu representar um mapa da cidade que destaca o espaço que as prefeituras regionais ocupam em relação aos eixos que o define, mostrando que, apesar de regiões como Campo Limpo e Pirituba serem distantes entre si geograficamente, elas se aproximam e se afastam a partir de diversas variáveis.

“Apesar de termos um pouco dessa intuição, é muito interessante quando o gráfico nos apresenta como existem regiões tão dispares em relação a questões socioeconômicas, como Pinheiros e Parelheiros, por exemplo”, explica Lívia, que acredita que essa situação influencia a produção literária presente nos saraus. “O surgimento do movimento de literatura periférica se dá em um contexto social específico dessas regiões e sua produção retrata um pouco da realidade desses territórios”.

Após essa análise de dados socioeconômicos, a pesquisadora, que realizou o estudo como parte de sua dissertação no Programa de Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP Leste), fez um levantamento sobre o perfil do público que frequenta os saraus e também entrevistou escritores que se apresentam e participam dos eventos literários.

Com isso, explica ela, chegou às conclusões sobre as características das trajetórias desses poetas: “O aumento dos níveis de escolarização e acesso à universidade se intensificaram nas últimas gerações de moradores dos bairros periféricos”.

“A partir disso, podemos considerar que há uma relação entre esse fenômeno e a ampliação do interesse por atividades literárias. Além da escolarização formal, a formação cultural por meio de organizações sociais também é um elemento que influenciou o surgimento do movimento de literatura periférica”, reforça.

Perifatividade

Integrante do Coletivo Sarau Perifatividade há seis anos, a educadora Ana Fonseca, 34, concorda que o acesso à informação e escolarização contribuíram para o crescimento dos saraus, considerados por ela “polos de política pela arte”. “Eles são fundamentais para a cidade. Até surgirem, nem se acreditava que na quebrada poderiam ter leitores e escritores, e muito menos que a poesia atrairia as pessoas”, diz.

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Ana Fonseca, cofundadora do Coletivo Perifatividade (crédito Reprodução Facebook/Edgar Bueno)

Considerados espaços de resistência nas periferias, Ana avalia que o perfil do público que participa dos saraus ainda é específico, geralmente formado por pessoas engajadas em movimentos sociais. “É importante ter saraus feitos em espaços de referência. Só que em muitas regiões eles são apenas um e nem sempre as pessoas estão próximas aos movimentos políticos de moradia, saúde etc.”, pontua. 

Segundo Livia, a disponibilidade de equipamentos culturais próximos à residência dos moradores influencia fortemente na relação que elas mantêm com a arte produzida e representada nesses espaços e é por isso que é fundamental verificar de que forma eles estão distribuídos na cidade.

Localizado na região do Ipiranga, na zona sul, o Coletivo Perifatividade realizou sua primeira ação em 2010. A partir de então, começou a realizar atividades no Bar da Dona Maria, no Jardim Clímax, até se estabelecer no reduto boêmio e cultural atual, o Bar do Boné, na Vila das Mercês. Um salto para a passagem por escolas, medidas socioeducativas, abrigos e outros espaços.

Com o apoio de editais, conseguiu desenvolver e ampliar as atividades, não apenas com foco na realização de saraus e produção literária, mas sobretudo na formação em direitos humanos.

“Em maio inauguramos nossa sede que tem diversos cursos. Intencionalidade ao criar ferramentas em lutas pelos direitos humanos, com base pedagógica freiriana. Desenvolvemos ações com cursos que tem bastante procura. A cultura é um dos principais nichos, mas há também a educação e defesa de direitos”, completa a educadora Ana.

Desigualdades

Por meio de dados disponíveis no Observatório Cidadão, Lívia também apresentou em seu estudo as desigualdades nos índices de equipamentos voltados à literatura, cinema, teatro etc. presentes nas prefeituras regionais selecionadas como objeto da pesquisa, conforme mostra o infográfico abaixo. Os números são de 2013.

Enquanto na época o distrito da Sé, na região central, possuía o maior acervo de livros para adultos em bibliotecas públicas (16,28 por habitante), o Capão Redondo, no extremo sul da cidade, registrava apenas 0,07. Os dados mais recentes, de 2015, mostram que há dois anos haviam 7,92 livros para cada adulto, e no Capão Redondo, 0,002.

“O fato de não haver infraestrutura para a prática e consumo artístico nos bairros periféricos denota uma ausência de políticas para a inclusão e acesso dessa população, o que também se torna uma estratégia simbólica no campo das lutas de classe para manter a segregação das classes populares em práticas que compõem a distinção social”, finaliza Livia.

Foto principal: Anderson Meneses

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