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Agência de Jornalismo das periferias

Paloma Barbosa

Por: Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 21.09.2023 | 17:18 | Alterado em 21.09.2023 | 17:18

Tempo de leitura: 4 min(s)

PcD é a sigla para “Pessoa com Deficiência” ou “Princesa com Deficiência”? As duas respostas estão corretas, levando em conta as obras da artista plástica Paloma Barbosa dos Santos, 29, da Vila São Geraldo, zona leste da capital paulista.

“Eu resolvi fazer as princesas para curar essa Paloma criança que não se viu e a Paloma adulta, que queria uma princesinha PcD”, diz a artista, que marca o Dia Mundial da Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado hoje (21).

Desde a infância, a ilustradora da Vila Geraldo, na zona leste, não se reconhecia nos personagens infantis que encenavam filmes e desenhos animados. A partir dessa inquietação ela começou a produzir auto retratos, que depois a coletânea de desenhos Princesas Reais.

Nela, a princesa Merida, do filme Valente, usa um andador; Moana, Pocahontas e Mulan têm pernas mecânicas; Branca de Neve não possui um dos braço; Jasmine, de Aladdin, usa de muletas; Elza, de Frozen, se locomove de cadeira de rodas, Maribel, de Encanto, é cega . “Eu apenas desenho como elas seriam no meu mundo”.

“Eu resolvi fazer as princesas para curar essa Paloma criança que não se viu” @Léu Britto/ Agência Mural

Paloma conta que não tinha habilidade para desenhar quando criança, por isso, nunca achou que seguiria por esse caminho profissional. Quando terminou o ensino médio, sem saber o que fazer, entrou em curso técnico de comunicação visual, descobriu o gosto pela ilustração e passou a vislumbrar uma carreira na área.

Porém, sem acreditar no seu potencial, foi trabalhar em outros setores, até a paixão pelo traço falar mais alto: ela, então, iniciou um curso de artes visuais e começou a produzir desenhos autorais, em especial os de princesas com deficiência.

Sem pretensão, começou a postá-los em seu perfil no Instagram, chamado Partes, sempre com descrição da imagem para pessoas com deficiência visual. Mal sabia ela da repercussão que teria.

“Essa série das princesas foi muito bem acolhida, as pessoas gostaram e recebi muitas mensagens de apoio. Foi o que me motivou a continuar produzindo, porque me fez ver que eu não tava sozinha, que muita gente não se sentia representada e que existiam pessoas como eu que também queriam se ver nessa arte”.

Cinderela/ Paloma Barbosa

Personagem Mirabel Madrigal, do filme Encanto/ Paloma Barbosa

Mulan/ Paloma Barbosa

Princesa Merica, do filme Valente/ Paloma Barbosa

Branca de Neve/ Paloma Barbosa

Jasmine, do filme Aladdin/ Paloma Barbosa

Pocahontas/ Paloma Barbosa

De ilustrações de livro à série The Good Doctor

Foi aí que Paloma começou a receber encomendas de desenhos para os mais diversos públicos, “até profissionais de saúde e psicólogos”, conta. Ela, então, montou sua loja virtual onde vende adesivos, botons, cadernos, camisetas e ilustrações.

Além disso, ela trabalha com ilustração publicitária e vende suas obras feiras, como a Popcon e a Perifacon, da qual participou em julho deste ano. Com tanta visibilidade, têm recebido outros convites; um dos mais marcantes foi a divulgação da série The Good Doctor, que retrata o trabalho de um jovem médico com autismo.

“[A ilustração] foi colocada no metrô Consolação. Fiquei muito emocionada de ver um desenho de uma mulher com deficiência estampado ali, me deixou bem feliz e me fez perceber que é isso que eu quero fazer”.

Arte elogia cantora ícone da música brasileira, Elza Soares @Paloma Barbosa

Em 2022, Paloma também expôs sua releitura da cantora Elza Soares no Teatro Municipal de São Paulo, em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna, comemorado em janeiro. Ainda no ano passado, ela fez sua primeira exposição, chamada “Estamos aqui”, no espaço Cultural Cita, uma ocupação independente no Campo Limpo. “Foi incrível”, descreve.

Com talento, Paloma foi chamada para ilustrar revistas, guias, e livros como “Núbia, meu nome não é especial”; “A (cor) da Sá”; a coletânea de poesias “Coisas que não dizemos no Natal”; “Tá todo mundo rindo”; o guia “Elas decidem”; e o “Manual Anticapacitista”.

Os que mais gosta são os livros infantis, pois acredita que eles podem ajudar a construir uma mudança de mentalidade a partir da representação de crianças diversas. “Eu abraço muito projetos que tem a ver com o que eu produzo, com diversidade, e fico muito feliz de poder, de alguma forma, me ver nos meus desenhos. Estou curando uma parte da Paloma que é uma mulher com deficiência, que cresceu sem referências e que não se via nas historinhas, na TV e na mídia”.

PcDs Putos contra capacitismo

Paloma encontrou nos lápis e na cor suas armas para lutar por transformação social, suscitando debates atuais com seus traços questionadores. No momento, Paloma está desenvolvendo sua nova série de desenhos “PcDs putos”, em que expressa queixas contra comentários capacitistas.

“Eu falo sobre diversidade, falo da minha vivência como mulher com deficiência, preta e também LGBT. Os desenhos tem esse cunho meio político de falar sobre a diversidade”.

Capacitismo é a discriminação ou preconceito contra pessoas com deficiência. A pessoa capacitista costuma ter comportamentos de exclusão frente a uma pessoa com deficiência.

Do traço ativista saíram mulheres com vitiligo, sereias gordas e pessoas com bolsa de colostomia, em uma arte que naturaliza as diferenças.

Esse compromisso se tornou ainda mais evidente para Paloma quando ela começou a estudar arte e percebeu que os PcDs não faziam parte dessa história.”Eu não me via em lugar nenhum. Entrava nos museus e tinha essa sensação de não pertencimento, de ser um corpo intruso e não me sentia representada”.

Por isso, Frida Kahlo, artista mexicana, é uma das personagens mais admiradas e retratadas por Paloma. “Frida Kahlo era uma mulher com deficiência”, reforça.

O sonho de Paloma é ter seu próprio atelier e entrar no universo dos quadrinhos, para que cada vez mais as pessoas com deficiência façam parte do cotidiano da arte, sendo retratadas e retratando suas realidades. “Eu gostaria que artistas com deficiência tivessem mais espaço nos museus, nas galerias e em todos os locais de arte”, comenta.

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Jacqueline Maria da Silva

Jornalista formada pela Uninove. Capricorniana raiz. Poetisa. Ama natureza e as pessoas. Adora passear. Quer mudar o mundo e tornar o planeta um lugar melhor por meio da comunicação. Correspondente de Cidade Ademar desde 2021. Em agosto de 2023, passou a fazer parte da Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project.

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