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Em Suzano, eleitores com deficiência avaliam a atual gestão e cobram melhorias na acessibilidade

Por: Renan Omura

A paratleta Evelyn Oliveira, 33, moradora do distrito de Palmeiras, periferia de Suzano, na Grande São Paulo, foi diagnosticada com atrofia muscular espinhal aos 14 anos e não tem os movimentos das pernas.

Ela avalia que a gestão do atual prefeito Rodrigo Ashiuchi (PL) desenvolveu melhorias na mobilidade urbana da cidade, porém diz que é preciso criar mais projetos de incentivo ao esporte para as pessoas com deficiência. “Os serviços de asfaltamento nos bairros ajudaram muito os cadeirantes, mas sinto falta de programas de inclusão social de esportes nas periferias”, relata.

De acordo com dados do TSE-SP (Supremo Tribunal Eleitoral de São Paulo), Suzano tem 5.069 eleitores com algum tipo de deficiência. Desse total, 1.005 são pessoas com deficiência locomotora, 238 são pessoas com deficiência visual e 131 têm deficiência auditiva. Outros 3.915 não informaram o tipo de patologia.

Atleta profissional na modalidade de bocha há mais de dez anos, Evelyn ganhou diversas premiações pelo mundo, incluindo uma medalha de ouro em equipe nos Jogos Paralímpicos Rio-2016 e uma medalha de ouro na categoria individual na Copa América de Bocha em 2017, na Colômbia.

“A bocha me ajudou a desconstruir barreiras e encontrar meu espaço na sociedade. Por isso que é fundamental incentivar os jovens com deficiência a praticarem esporte”, explica.

Evelyn Oliveira, 33, medalhista paralímpica @Divulgação

Em 2010 ela foi convidada por uma professora de uma escola de ensino privado a conhecer o centro de treinamento da instituição. Evelyn aceitou o convite e logo ganhou destaque na modalidade. Depois de vencer vários campeonatos, passou a receber ajuda de custo da escola e bolsa atleta do Estado, mas nunca ganhou auxílio financeiro da prefeitura.

“A prefeitura me ajudou com o transporte até o centro de treinamento em São Paulo, nos últimos dois anos, mas até então eles nem me conheciam”, conta a paratleta.

Evelyn estava se preparando para a Paraolimpíada de Tóquio 2020, mas devido a pandemia do coronavírus passou a treinar em casa em um espaço que construiu recentemente. Ela lamenta que nem todos tenham a possibilidade de se exercitar dentro de casa.

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A Secretaria de Esporte e Lazer de Suzano oferece aulas gratuitas de natação para pessoas com deficiência física. Outro programa apresentado pela pasta é o Projeto Oficina Corporal, que busca combater o sedentarismo de pessoas com deficiência. Os dois projetos são realizados no Parque Municipal Max Feffer, no centro do município, e atendem principalmente quem tem facilidade de chegar ao local.

O aposentado Demilson Peixoto, 47, mora no bairro Jardim Imperador, em Suzano, e devido a um desgaste ósseo no quadril que sofreu ao fazer uma série de hemodiálise, passou a usar cadeira de rodas.

Ele também elogia a atual gestão pelos serviços de recapeamento e a instalação de rampas no centro do município, mas cobra da prefeitura uma maior fiscalização dos comércios na regulamentação das normas de acessibilidade.

“Algumas obras mais antigas ainda não têm rampas de acesso. E é frustrante não poder entrar em um comércio por ser cadeirante, sendo que é um direito nosso”, afirma Peixoto.

Demilson Peixoto, 47, é cadeirante e mora no bairro Jardim Imperador @Renan Omura / Agência Mural

Outro obstáculo enfrentado pelo aposentado é ir até o médico. Ele utiliza o serviço de transporte por aplicativo, mas, em alguns casos, o motorista se recusa a fazer a corrida ao ver que ele é cadeirante.

“Me sinto humilhado quando isso acontece. Às vezes o motorista vem até a porta da minha casa, mas ao ver que eu uso cadeira de rodas, ele vai embora sem falar nada”, relata.  

Peixoto conta que, por meio de agendamento, a Prefeitura de Suzano disponibiliza uma van para os cadeirantes se locomoverem, mas prefere utilizar aplicativos de transporte pela facilidade. No entanto, nem sempre consegue usar o serviço. “Conscientização é o que falta”, afirma.

A assistente administrativa Andressa Lucena de Moraes, 37, moradora do bairro Vila Urupês, perdeu a visão aos 16 anos em decorrência da síndrome Vogt – Koyanagi – Harada. A doença rara causada por uma inflamação na retina,  faz com que o enfermo perca a visão gradativamente até atingir o estado de cegueira total.

Para melhorar a acessibilidade e mobilidade das pessoas com deficiência visual, ela fala sobre a necessidade de instalação de semáforos com aviso sonoro e pisos podotáteis, faixas em alto-relevo fixadas no chão para fornecer auxílio na locomoção pessoal de deficientes visuais. 

Por causa da pandemia, Andressa passou a trabalhar em casa, mas antes pagava um motorista particular para levá-la até o serviço no centro de São Paulo. Ela afirma que o transporte público é precário e precisa de melhorias.

“Os ônibus demoram muito pra passar, e pra quem tem deficiência visual isso é angustiante, e por conta do coronavírus, as pessoas estão com receio de nos ajudar, pois às vezes precisam segurar em nossas mãos para nos direcionar”, conclui.

FISCALIZAÇÃO DOS COMÉRCIOS

À Agência Mural, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação esclareceu que a acessibilidade já é exigida por lei nos novos projetos de construção de comércios. A pasta também informou que os imóveis antigos, que irão receber a instalação de um novo comércio, são fiscalizados regularmente e também precisam se adaptar à acessibilidade para receber a licença de instalação.

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