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Zona sul e centro são as regiões mais verticalizadas de São Paulo

República e Higienópolis, no centro da capital paulista, lideram total de prédios, com 97% dos imóveis sendo do tipo apartamento

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Por: Redação

Publicado em 21.08.2018 | 14:32 | Alterado em 21.08.2018 | 14:32

Tempo de leitura: 5 min(s)
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Praça da República, na região central de São Paulo (Lu/Flickr/CCBY)

São Paulo, a cidade que nunca para. É a agitação que não acalma, o ritmo que não desacelera e as construções que não param de surgir e fazem a cidade crescer cada vez mais para o alto: 34% do seu território verticalizado. Pesquisa realizada pelo ZAP, empresa do Grupo ZAP, aponta que a zona sul e o centro são as regiões mais verticalizadas.

No topo dessa lista, República e Higienópolis (ambas localizadas na região central) são as que mais têm prédios, com 97% dos imóveis sendo do tipo apartamento. Já Moema e Vila Olímpia (na zona sul) registram 93% e 88%, respectivamente.

Levando em conta os últimos dez anos, o estudo também apontou que a zona oeste foi a que mais teve novos prédios construídos. Atualmente, 58% dos imóveis da região são edifícios. Lapa e Vila Sônia são os bairros dessa região que mais receberam novas obras, ambos registraram um aumento de 16% das grandes construções.

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Prédios altos e numerosos são as marcas de São Paulo. A cidade teve seus primeiros prédios construídos na primeira década do século 20. O edifício Martinelli foi o primeiro a ser construído e causou polêmica na época por ter mais de 20 andares.

“O conde Martinelli construiu a casa dele no último pavimento, na cobertura, para provar que o prédio não ia cair, tamanho era o medo que a população da década de 1920 tinha”, explica Edimilsom Castilho, arquiteto e urbanista especializado em história social e professor e pesquisador no Instituto Bixiga Pesquisa e Formação da Cultura Popular.

Por concentrar os serviços de infraestrutura da cidade e as indústrias, a região central foi a que mais teve prédios construídos. Castilho conta que o processo de verticalização começou, efetivamente, nos anos 1940: “Nessa época, iniciou-se a ocupação do centro e das periferias que já tinham facilidade no deslocamento para essa região.”

“A partir de 1950, a verticalização passa a acontecer na Paulista; de 1980 a 1990, vai para região sul e a partir dos anos 2000 as grandes construções começam a se acentuar na zona oeste da cidade”
EDIMILSON CASTILHO, ARQUITETO E URBANISTA

ALVO DAS CONSTRUTORAS

Atualmente, a região oeste é “a menina dos olhos das grandes construtoras”. Historicamente, a parte oeste de São Paulo sempre foi uma área residencial.

“A moradia no Brasil sempre foi uma conquista da população elitizada. Essa região sempre foi reconhecida como o local de residência dessa elite”, conta o pesquisador.

Localizada entre a Marginal Pinheiros e a Marginal Tietê (o que facilita o acesso às principais rodovias da cidade), a zona oeste tem recebido novas operações urbanas que estão atraindo os empreendimentos.

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Marginal Pinheiros, zona oeste de SP. Na região vivem 289.743 habitantes (Reprodução)

“Os projeto que vieram depois da revisão do Plano Diretor da cidade estão estimulando o processo de valorização daquele solo urbano. É por isso que a Lapa, Vila Leopoldina, Barra Funda, Pompéia e proximidades estão recebendo tantas novas construções”, completa Castilho.

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PRÉDIOS TOMBADOS

Com 57 anos, o eletricista Carlos Arthur Silva vive no bairro da República (centro de São Paulo) há 23 anos.

“É excelente para morar. Tudo que precisamos está ao alcance: metrô, ônibus, bons restaurantes, teatros, cinema, mercados, padaria… enfim, tudo”, diz.

Silva conta que apesar do alto índice de criminalidade e moradores de rua, observa a atratividade da região para novos empreendimentos.

“Por curiosidade, certa vez contei 18 prédios sendo construídos no entorno (República, Vila Buarque, Arouche e Consolação). Como a região é tombada, temos muito do antigo e do novo, o que torna a região especial”
CARLOS ARTHUR SILVA, ELETRICISTA

Depois de passar por um período de precarização, entre 1970 e 1980, o centro de São Paulo sofreu um esvaziamento.

“O empobrecimento da população da região junto a violência urbana e o consumo de drogas concentrados naquela área contribuíram também para a degradação. Mas, a partir do ano 2000, começou o movimento de centrificação – de revalorização”, destaca o Castilho.

Entre as tendências que estão voltando a valorizar o centro paulistano e a provocar a especulação imobiliária, o professor fala do retrofit de prédios residenciais que consta “em fazer uma modernização sem alterar, necessariamente, a estrutura da construção. Com as adaptações o prédio acaba tendo valor de mercado novamente”.

MODERNIDADE E ALTURA

Aumento de moradores, de trânsito e de casos de roubos são questões apontadas por quem acompanha o surgimento de novas construções.

Um dos dois bairros mais verticalizados da cidade, Higienópolis foi o primeiro a receber obras de saneamento, ter esgoto encanado e fornecimento de água.

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Casa de Dona Veridiana Prado, situada na Avenida Higienópolis, número 18 (Wikimedia/CCBY)

Moradora do bairro há 24 anos, a publicitária Nadya de Andrade Silva, 26, descreve a região como tranquila e ainda conserva a característica histórica que o nomeou: “o bairro é muito família; não temos barulhos durante a noite e é bem limpo também”.

A publicitária conta que observou a modernização chegando. “Os prédios estão mudando, se modernizando; alguns até já tem aqueles portões eletrônicos sem precisar de porteiro e colocaram grades”, comenta.

“Roubos começaram a aparecer, o que me deixa triste. Antigamente eu andava sem ter problema e agora vivemos com medo, mesmo tendo policiais”, complementa Nadya.

Na Lapa, o casal Jéssica, 28, e Daniel Falkenstein, 28, notaram as mudanças no policiamento e, principalmente, no trânsito.

“Aumentou o policiamento na parte da noite e retiraram moradores de rua que estavam acampados”, conta Jéssica.  

“Acho que a maior quantidade de moradores vai aumentar o comércio ao redor. Houve, também, construções de prédios comerciais, o que pode somar na piora do trânsito nos dias úteis e nos horários de pico”
JÉSSICA FALKENSTEIN, MORADORA DA LAPA

Daniel Falkenstein já percebeu o aumento do número de carros e comenta sobre o condomínio em fase de construção na avenida Hermano Marchetti.

“O trânsito tem piorado bastante por perto e também na marginal Tietê nos últimos dois anos. Acredito que qualquer condomínio vai piorar a situação do fluxo de pessoas na região, que já é grande”, diz.

Sobre os problemas que a verticalização pode causar a cidade, o professor Castilho aponta que eles estão relacionados ao processo de urbanização acelerado e ao descontrole na Lei de Zoneamento.

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Lapa, na zona oeste de São Paulo (Vagner de Alencar/32xSP)

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Quanto aos casos de roubos e insegurança, Castilho diz não acreditar que a verticalização seja  a causa. “Acho que a criminalidade está mais ligada às questões da crise urbana e econômica”, comenta.

Já em relação ao trânsito, ele afirma ser “uma questão óbvia, quando aumenta o número de prédios, aumenta o número de pessoas no espaço físico”.

“E se cada uma dessas pessoas tem um automóvel? Esses carros vão paras ruas nos mesmos horários – todo mundo sai pra trabalhar de manhã e volta à noite – o que provoca uma diminuição da capacidade de absorção rodoviário”, segue.

A Lei de Zoneamento aprova a construção – e o número de andares – de novos empreendimentos de acordo com a capacidade de moradores que a região é capaz de suportar, levando em consideração o número de vias e as suas dimensões.

“Justamente por conta do processo de especulação imobiliária, muitas dessas leis são alteradas e começam a ter cada vez mais incorporadoras construindo edifícios que muitas vezes não respeitam os códigos das vias”, explica o urbanista.

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