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Vila Mariana é campeã de partos cesáreos em SP

Na região nobre, 71,9% dos partos são realizados por cesariana, quase o dobro do registrado na Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital

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Por: Redação

Publicado em 03.04.2018 | 13:46 | Alterado em 03.04.2018 | 13:46

Tempo de leitura: 4 min(s)

Na Vila Mariana, região nobre da zona sul de São Paulo, 71,9% dos partos são realizados por cesariana, um índice bem acima dos 15% recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e quase o dobro do registrado na Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital (38,95%). O maior acesso à rede privada de saúde, a cultura das gestantes brasileiras e motivações econômicas por parte dos médicos ajudam a explicar essa diferença tão gritante.

Os dados são Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, de 2016, da Rede Nossa São Paulo em parceria com a Fundação Bernard van Leer.

As outras quatro primeiras colocadas também são locais de maior poder aquisitivo. Confira quais são elas e as taxas de cada uma no infográfico abaixo.

“Na primeira gestação, o parto foi um assunto no qual tinha medo. O médico com quem passava me explicou os procedimentos de ambos os métodos (cesariana ou normal), para que eu pudesse ter confiança e conhecimento. Eu podia fazer a escolha de como eu queria, e fomos mensalmente vendo as possibilidades”, afirma Suelen Cristina Ventura, 29, moradora da Saúde, na zona sul de São Paulo.

A decisão da publicitária de formação foi pela cesariana. Dessa escolha nasceu Leonardo, no Hospital Sepaco, na Vila Mariana, atualmente com quase três anos de idade. Gustavo, o caçula de oito meses, também veio ao mundo por meio de uma cesariana. Suelen explica o motivo: o medo.

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“Parto cesáreo me passava mais confiança no sentido de ter medo. Essa era minha primeira opção, e, no final da gestação, acabei não tendo dilatação. Acabamos realizando a cesárea”, justifica.

Durante a gestação de Gustavo, Suelen foi aconselhada pelos médicos de seu convênio a escolher o parto normal. Apesar das informações, a dona de casa declinou. 

“Como eu tinha feito uma cesárea recente e já sabia como era o procedimento, acabei optando por uma nova operação. Sou a favor do parto que melhor trará confiança a mãe”, defende.

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Suelen Cristina ao lado do filho primogênito e do marido (Reprodução)

Para o ginecologista e obstetra Carlos Tadayuki Oshikata, da Frebasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), existem vários fatores que dificultam a realização do parto normal no Brasil.

O primeiro deles é o fato de a mulher brasileira culturalmente acreditar que a cesariana causa menos sofrimento e dores, ou ser mais rápida e mais segura que o parto normal.

“O que não é uma verdade”, reforça o especialista. “A cesariana pode ser programada, muitas vezes de acordo com seu interesse pessoal. Não é incomum sérios conflitos entre médico-parturiente que chega ao hospital exigindo cesariana.”

Oshikata, que também é professor-doutor e coordenador do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital PUC-Campinas, afirma que nas regiões centrais, ou de maior poder aquisitivo, há um predomínio de usuárias de planos de saúde. Esses locais também concentram maior acessibilidade a hospitais privados e conveniados.

“Na periferia ou áreas carentes, há um predomínio de dependência do SUS [Sistema Único de Saúde]. Hospitais conveniados ao SUS seguem diretrizes do Ministério da Saúde  e da Organização Mundial de Saúde, que preconizam que a taxa de cesariana deva ser de no máximo 15%.”

O cumprimento desta meta é monitorada pelo ministério da saúde e é estimulado por meio de vários programas de incentivo ao parto normal, como a Rede Cegonha. 

“Portanto, nos hospitais públicos a taxa de parto normal é maior, porém essa taxa chega a 40% em alguns serviços. Já nos hospitais privados a taxa de cesariana chega a 84% segundo a ANS (Associação Nacional da Saúde).”

“Essa diferença se deve à maior liberdade, por parte da paciente, na escolha do tipo de parto na rede privada, diferentemente da rede pública, na qual essa liberalidade é omitida ou não permitida”, emenda.

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A analista administrativo e financeiro Camila Menezes, 36, teve Guilherme há seis meses em um hospital no Itaim Bibi, distrito de Pinheiros, na zona oeste de SP. 

Camila conta que havia feito todos os preparativos do corpo para realizar o parto normal, o que não aconteceu porque ela não teve contração e dilatação suficientes. “Fiquei triste. Tive que marcar a cesariana quando entrei na 41ª semana de gestação”.

Mãe de primeira viagem, a analista teve seu parto feito no hospital São Luiz por causa do convênio médico. “Não teria condições de pagar se fosse particular”.

“Meu médico disse que não fazia parto normal. Caso eu entrasse em trabalho de parto teria que ir para o hospital e ter todo o processo com os plantonistas. Eu estava tranquila quanto a isso, mas outras mulheres querem a segurança de ter o médico que as acompanhou durante toda gestação”, esclarece Camila, que mora no Jardim Umuarama, em Interlagos, na zona sul.

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A analista financeiro Camila Menezes com o filho Guilherme (Reprodução)

VICE-CAMPEÃO DE CESARIANAS

Para o ginecologista e obstetra Oshikata, o Brasil é um dos campeões de cesarianas devido à cultura da mulher e à má remuneração médica. O país ocupa o segundo lugar no mundo em partos deste tipo, atrás da Republica Dominicana. Desse total, 40% dos partos cesáreos são realizados na rede pública de saúde, e 84% na particular.

“Existe uma indústria de cesarianas, pela sua resolutividade. Marca-se um horário, fora do expediente médico e agenda-se a cesariana. Enquanto o Brasil não remunerar o médico adequadamente e a sociedade civil não mudar suas atitudes e convicções, o Brasil continuará a ser campeão de cesarianas no mundo”, diz o médico.

Moradora da Cidade Tiradentes, na zona leste, onde ocorrem menos partos cesáreos em São Paulo, Flávia Oliveira, 30, teve seus filhos de parto normal.

“Meus dois partos foram normais e tranquilos. Meu primeiro filho foi parto induzido, pois já estava pra entrar na 42ª semana. Foi preciso apenas um comprimido no colo do útero para ajudar a dilatar, pois não tinha dilatação”, afirma a funcionária pública, moradora da Cidade Tiradentes, no extremo leste.

“O segundo foi muito rápido. Internei às 9h50, e minha filha nasceu às 10h34. Sem indução. Assim eles não te dão  a opção, o foco deles é o parto normal até o último”, reitera a dona de casa.

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