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Notícias

Cofundador da Cooperifa, jornalista e escritor, Marco Pezão morre aos 68 anos

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Reprodução/Facebook

Por: Lucas Veloso | Lara Deus

Notícia

Publicado em 14.10.2019 | 18:30 | Alterado em 14.10.2019 | 18:47

RESUMO

Pezão estava internado por conta de um câncer no figado; carreira foi marcada pela poesia e pela cobertura esportiva

Tempo de leitura: 4 min(s)

‘Nóis é ponte e atravessa qualquer rio’. Essa frase vem sendo relembrada e repetida desde a manhã de domingo (13), pois é uma das marcas da carreira do poeta Marco Pezão, que morreu neste fim de semana. 

Ele estava internado no Hospital Municipal da Vila Santa Catarina, em São Paulo, onde tratava um câncer no fígado. O corpo do poeta foi velado e enterrado na segunda-feira (14), no cemitério do Araçá, região central da cidade.

Pezão, o pseudônimo de Marco Antonio Iadocicco, nasceu na Vila Sônia, zona oeste da cidade, em fevereiro de 1951. Filho de um funcionário público e de uma empregada doméstica, foi dramaturgo, jornalista e agitador cultural. 

Em 2001, junto com o amigo Sergio Vaz, fundou o Sarau da Cooperifa, um dos movimentos culturais mais importantes das periferias de São Paulo. De lá para cá, foi se consagrando como referência na poesia periférica. 

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Sérgio Vaz e Pezão no primeiro Sarau da Cooperifa @Acervo Pessoal

Empreendedor da cultura, Pezão esteve à frente do Espaço de Convivência Cultural I Love Laje, no Campo Limpo, onde fica a livraria Poesia FC. Lá, promoveu clubes de leitura de autores das periferias. 

Nativo da zona oeste e cidadão da zona sul, fazia questão de ecoar a poesia das bordas pelo centro da cidade. Em 2011, criou o sarau A Plenos Pulmões, realizado na Casa das Rosas, na Avenida Paulista.

Em 2014, recebeu o Prêmio do Governador do Estado de São Paulo por conta da atuação cultural.

Também lançou os livros “Nóis é ponte e atravessa qualquer rio”, de 2013, “Pés no chão”, em 2015, além de participar de coletâneas de poetas. Neste ano, lançou em março “Do Campo Limpo ao Sintético”. Este último é fruto de sua outra paixão além da poesia: o futebol. 

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Poeta, Pezão também foi jornalista esportivo @Léu Britto/DiCampana Foto Coletivo

Pezão foi jornalista esportivo em Taboão da Serra, município que faz divisa com o bairro do Campo Limpo. Na cidade, colaborou com diversos veículos de comunicação, como o portal O Taboanense, a Gazeta do Taboão, O Independente e Jornal Atual. 

Internado no hospital, Pezão não cansava de mesclar esses dois interesses. “A vida só acaba quando o jogo termina. Mesmo na prorrogação, para o amor, não há impedimento”, escreveu, em setembro de 2019.

O Sarau do Binho, com edição nesta segunda-feira (14), será em homenagem a Pezão. A agenda está programada para 21h, no espaço Clariô, zona sul de São Paulo.

NOVO LIVRO

O jornalista estava prestes a lançar mais um livro. A obra “Amo Sarau” estava na reta final da organização. “Infelizmente não deu tempo de Pezão vê-lo impresso”, lamenta Suzi Soares, produtora do Sarau do Binho.

Robinson Padial, o Binho, amigo do escritor foi o responsável pelo prefácio da obra. Além disso, Pezão foi um dos homenageados na última edição da 5ª Felizs (Feira Literária da Zona Sul), junto com a também poeta Tula Pilar.

“Pezão é poeta que atravessa muitas pontes e rios. Sua poesia visitou presídios, ocupações, casarões na Paulista e morros do Rio”, indica Binho em um trecho da obra. “Sua voz ecoa por aí: Taboão, Campo Limpo, Recife, Buenos Aires. E pelos campos de várzeas com gramados sintéticos das quebradas de São Paulo. Com voz de trovão e poesia no coração, o poeta formou um grande time da poesia”.

“Com sua prosa poética narra um jogo que nos dá vontade de assistir e conferir se tudo aquilo existiu de se ver Maradona, Messi, Cafú, Neymar, Pelé. Todo mundo joga aqui, mas a várzea é que é o jogo da sua vida.” 

A várzea é onde a bola pulsa feito coração. “A poesia que não fecha nunca. Je suis, Marco Pezão”.

DOENÇA E MORTE

Em junho de 2019, Pezão começou a sentir dores no ombro, que pensou serem fruto de uma tendinite ou outra questão ortopédica. “Cidadão poeta de 68 anos, forte, saudável estranhou por perder o sono e nenhum medicamento resolvia a dor”, afirmou a companheira Alai Garcia Diniz, em post no Facebook. 

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Pezão com o livro ‘Nóis é ponte e atravessa qualquer rio’ @Reprodução/Facebook

Daí, a batalha em busca de um diagnóstico no SUS (Sistema Único de Saúde) foi travada. Os médicos descobriram nódulos no fígado e na bexiga, mas não quiseram o encaminhar para internação pois não tinha hemorragia. 

“Nóis é Ponte e atravessa qualquer rio…
O nóis pra nós
É singular
O nóis pra nós
O plural é pessoal”

[…]

Não se subestime
Mostre força
Encare o real
Deixe de lado o mal
Sem ser bom de todo
Senão o mundo te faz tolo
E ninguém é biscoito
Pra se deixar comer…

Nóis é Ponte e atravessa qualquer rio…

Busque outra margem
Ser esperto não é vadiagem
Não importa cor, nem dor
Vermelho, Branco, Moreno, Amarelo, Mulato, Mameluco
Seja maluco numa boa
Assuma o leme
Atravesse a ponte…

Nóis é Ponte e atravessa qualquer rio…

Conseguiu atendimento no Hospital Beneficência Portuguesa, onde fez cinco sessões de radioterapia para conter a metástase óssea em suas vértebras. No entanto, até dia 19 de setembro, não havia conseguido consulta com nenhum oncologista (especialista em câncer), e nem obtido a internação pela doença em estado inicial. 

Menos de um mês depois, no dia 13 de outubro, Pezão estava hospitalizado e morreu por causa das complicações do câncer. Pezão deixa dois filhos, Marcos César e Andréia.

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Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

Lara Deus

Jornalista, apaixonada por rap nacional, literatura periférica e toda cultura que é produzida por aqui. Correspondente de Pirituba desde 2017.

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