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Com bonecas negras e culinária africana, feira afro é inaugurada na zona norte

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Por Redação | 26.07.2017

Publicado em 26.07.2017 | 3:45 | Alterado em 31.01.2023 | 15:56

Tempo de leitura: 3 min(s)

Evento reuniu 15 expositores nos dias 22 e 23 de julho, no Jardim Julieta, na Vila Medeiros

Yaisa Silva mostra boneca preta na 1ª Feira Afro no Jardim Julieta — foto: Paula Rodrigues

“A gente resolveu fazer esse evento na zona norte porque queríamos que as pessoas viessem conhecer as quebradas daqui”, explica Sérgio Lapaloma, o Sérgião, confundador da primeira Feira Afro da zona norte.

Barracas de artesanato, moda, cosméticos e comidas típicas da cultura negra africana trouxeram cor, cheio e sabor ao Jardim Julieta, ao lado da Avenida do Poeta, na Vila Medeiros, nos dias 22 e 23 de julho.

“Tínhamos vontade de dar possibilidades de lazer, cultura e educação perto da casa dos moradores daqui”, acrescenta ele, que viu 15 expositores darem vida à primeira edição do evento na região.

Apesar do caráter comercial, Sérgião ressalta que esse não é o objetivo da feira. Para ele, todas as peças possuem um significado maior: “Nada é apenas um simples produto”.

Um exemplo é a boneca Abayomi, que foi exposta na barraca de Yaisa Silva, do Ateliê Coisinhas de Yaiá. Ela foi criada por escravas em convés de navios que cortavam pedaços de suas roupas e davam nó nos retalhos até criarem uma boneca para as crianças. A cada nó, as mães realizavam uma oração, transformando as Abayomis em amuletos para seus filhos e filhas.

“Essas histórias precisam ser contadas, por isso a gente tá aqui hoje, para divulgar, para passar às pessoas desse bairro e de outros que visitam a feira, a nossa cultura”, assegura Yaisa.

Lúcia Makena, 56, criadora das bonecas Makena — fotos: Paula Rodrigues

Cultura passada não apenas aos visitantes locais. José Adão, por exemplo, saiu da zona leste para participar do evento.

“A gente começa a achar que toda quebrada é igual, mas saindo da zona leste, vindo em feiras como essa na zona norte, você percebe que as quebradas da cidade são tipo nossos dedos: todos são dedos, mas cada um é diferente do outro,” metaforiza Adão.

Ele conta que a troca de experiências entre os bairros foi o que mais curtiu no local, além da sensação de perceber que pessoas de lugares diferentes produzem coisas diferentes.

Outro aspecto da feira foi o resgate da autoestima da população negra nas periferias, que parecia estar presente em quase todas as barracas, desde a presença de bonecas negras às bijuterias com estampas afro.

“A maioria dos eventos que nós estamos acontece nas periferias porque é aqui que a gente encontra aquela mulher que trabalha o dia todo fora, que está sempre cuidando dos outros.”

“Ela quase nunca tem tempo de olhar pra si. A gente tenta sempre levantar a bandeira da valorização da autoestima da mulher negra periférica,” explica Bruna Trajano, cofundadora do Empoderadas Bijoux.

Bruna Trajano, 28, cofundadora do Empoderadas Bijoux — foto: Paula Rodrigues
João Adão Oliveira na feira afro — foto: Paula Rodrigues

Apesar do número elevado de interessados, via redes sociais, em participar da feira, segundo os organizadores, a adesão foi baixa. Mesmo com o baixo quórum, expositores e organização afirmam que não houve espaço para desânimo.

“As pessoas podem não parar e comprar nossos produtos aqui, mas só de elas passarem, vão ter outro olhar, que tem algo a ver com elas, que representam elas”, comentou Lúcia Makena, criadora das bonecas Makena e expositora na feira.

Para o futuro, os fundadores da feira pretendem levar o projeto para outros bairros da zona norte. A ideia é que a cada edição aconteça em um local novo e também seja integrada a cultura indígena.

Paula Rodrigues é correspondente da Vila Albertina/Tremembé
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