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Agência de Jornalismo das periferias

Henrique Alexandre/Agência Mural

Por: Henrique Alexandre

Notícia

Publicado em 17.11.2023 | 8:08 | Alterado em 21.11.2023 | 14:33

Tempo de leitura: 4 min(s)

O nome já é sugestivo: “Córrego Água Podre”. O trecho de águas que divide a avenida Abílio Pereira de Almeida, no Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo, tira o sossego dos moradores há mais de 30 anos pelo mau cheiro e as visitas indesejadas de insetos e ratos.

O local já foi considerado o mais poluído da cidade. Em 2017, a ONG SOS Mata Atlântica coletou amostras de 56 cursos de águas na cidade de São Paulo. No relatório chamado ‘Observando os Rios 2017: o retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica’, quase a metade dos rios foi classificada como ruim e o riacho Água Podre foi a única considerada péssima pelos pesquisadores.

O córrego é uma afluente do rio Ribeirão Jaguaré e tem um pouco mais de 2km de extensão.

A aposentada Ariadna Ferreira, 62, é uma das moradoras mais antigas da avenida de onde o riacho cruza. Ela mora lá há mais de 60 anos e diz que a mudança no local foi drástica e está bem diferente da lembrança que tem de quando era criança.

“Esse córrego era limpo, bem limpo. Tinha até peixinho, pra você ter uma ideia. Era normal a gente brincar de cabaninha perto do ‘riozinho’.”

Córrego apresenta mau cheiro @Henrique Alexandre/Agência Mural

Se nos grandes tempos do córrego dava pra brincar, nos dias atuais a situação é completamente diferente. O cheiro incomoda quem passa pela avenida. Quem sofre mais são os moradores que têm que usar estratégias extremas para tentar diminuir o odor forte.

Além dos produtos de limpeza, moradores relataram fechar todas as portas e janelas para evitar a entrada do cheiro. Por vezes, mesmo com o uso do ventilador, a situação não melhora.

A situação fica pior quando os ratos aparecem. Morador da região há 13 anos, o aposentado José Lemecyr, 73, diz que já passou por maus bocados por conta das visitas indesejadas.
“Tamanho dos ratos? Já vi quase do tamanho de um gato. Assusta mesmo e é a água que traz esses ‘bichos’.”

Tentativa de solução

Depois de muitas reclamações dos moradores, a Prefeitura de São Paulo começou a tentar solucionar o mau cheiro. Em 2019, a Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras) junto com a Sabesp começaram a canalização do trecho. Segundo os moradores, durante a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, as obras ficaram paradas e só voltaram no segundo semestre deste ano. A previsão de término é para janeiro de 2024.

Em nota, a Smsbus (Secretaria Municipal das Subprefeituras), por meio da Subprefeitura Butantã, diz que o mau cheiro é por causa do lançamento clandestino de esgoto no córrego. Além disso, diz que fará uma vistoria junto com a Sabesp para identificar a origem deste escoamento.

Moradores tem protestado sobre situação do córrego @Henrique Alexandre/Agência Mural

Já a Sabesp afirma que a rede de esgoto está operando normalmente no entorno do Córrego Água Podre e que uma vistoria realizada pela companhia identificou pontos de poluição que vêm das galerias de águas da chuva, podendo ocasionar o mau cheiro relatado pelos moradores.

As galerias são conjunto de tubulações que têm como objetivo captar, transportar e drenar a água da chuva das áreas urbanas até rios, córregos ou canais.

Por fim, a companhia diz que vai fazer varreduras em imóveis identificados como não conectados à rede coletora, possibilitando a negociação e conexão dessas residências quando viável.

Mesmo com cheiro forte, o resultado das obras já faz a diferença para os moradores. Vanessa Almeida, 39, diz que no trecho onde ela mora, em que as obras de canalização estão mais avançadas, já não sente mais o odor ruim.

“Hoje em dia, eu posso abrir a janela da minha casa e não me preocupar se algum cheiro forte vai entrar.”

José também sente a melhora, mas pondera que é preciso uma investigação profunda sobre a origem do mau cheiro para que não se repita a situação desagradável que a comunidade viveu durante mais de 30 anos.

“Canalizar é importante, na minha opinião e já dá pra sentir diferença. Mas depois disso, tem que ver quem é que tá jogando essa água fedida. Não adianta fazer o serviço, canalizar e depois começar a água suja de novo, né?”, reflete.

Servidores trabalhando na região do córrego @Henrique Alexandre/Agência Mural

Parque

Outra questão na região é a promessa de um novo parque linear,previsto desde 2012, no final da gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Quatro gestões passaram pela prefeitura, sem concluir o projeto.

Segundo a prefeitura, asobras em andamento têm o objetivo de criar um Parque Linear nos mais de2kmde córrego ea canalização é a primeira etapa para a implementação.

O documento chamado “Parque Água Podre: Requalificação Ambiental”, divulgado em 2022, diz que o planejamento é fazer obras em cinco trechos estratégicos: Rio Pequeno, Sehab, VilaTiradentes, CEU Butantã e Núcleo Nascente, com a previsãode urbanizar favela, criação de núcleo habitacional entre outras intervenções.

O parque prevê áreas verdes e equipamentos de ginástica, com entrada principal do parque vai ser na Rua Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia.

Em nota, a SVMA (Secretaria do Verde e do Meio Ambiente), diz que o Núcleo Nascentes do Parque Linear Água Podre será entregue ainda este ano. O investimento foi de R$ 6,5 milhões. Ele será o primeiro trecho inaugurado, outros quatro ainda estão em andamento e a prefeitura não deu previsão de término.

Já as obras do complexo de casas Jardim Esmeralda, do Núcleo SEHAB, estão previstas para serem concluídas no primeiro semestre de 2025. O projeto prevê a construção de 330 unidades habitacionais distribuídas em 3 condomínios.

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Henrique Alexandre

Jornalista em formação pela PUC-SP. Preto, periférico e sonhador. Apaixonado por samba e boas risadas. Atualmente na TV Globo e com passagem na CNN Brasil. Correspondente do Rio Pequeno desde 2023.

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