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Agência de Jornalismo das periferias
Ponto a Ponto

Passageira segue com sequelas três anos após cair no vão na linha 11-coral

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Por Redação | 09.08.2017

Publicado em 09.08.2017 | 17:54 | Alterado em 31.01.2023 | 15:56

Tempo de leitura: 4 min(s)

Tatiane Lago sofreu lesões em 2014 e até hoje está afastada do trabalho

Estação Francisco Morato, onde o vão vai de 15 cm a 30 cm na mesma plataforma (Foto: Paulo Talarico /Agência Mural)

Em julho de 2014, a professora Tatiane Lago, 37, ficou presa entre o trem e a plataforma da estação da Luz, na região central de São Paulo. Passados três anos, ela ainda faz tratamentos para tentar se recuperar das lesões sofridas no dia.

Levantamento da Agência Mural mostrou a situação das várias estações da CPTM pela Grande São Paulo, com vãos que chegam a até 46 centímetros e com histórias de usuários que já se acidentaram na via.

Neste relato, Tatiane fala sobre o acidente que mudou sua rotina e até hoje afeta seu trabalho.

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Meu nome é Tatiane Lago, tenho 37 anos e sou professora. Antes, fazia parte da minha rotina pegar o trem na Estação da Luz [no centro de São Paulo] para retornar a minha casa, já que eu morava próximo da Estação Dom Bosco [na zona leste].

Porém, há 3 anos, no dia 31 de julho de 2014, passei por uma situação que mudou completamente a minha vida.

Era fim de tarde e, como de costume, a plataforma da estação estava cheia. Então, para evitar o aperto, optei por esperar o próximo e, assim, conseguir embarcar. Após cinco minutos o trem chegou e junto a ele se iniciou o “empurra, empurra” de pessoas querendo entrar, como de costume. Eu tentei sair do meio da “muvuca”, mas, infelizmente, não deu tempo.

Tudo aconteceu muito rápido e quando percebi já estava com uma perna no vão e a outra dentro do vagão do trem e, mesmo assim, naquele momento, as pessoas continuavam a entrar, passando por cima de mim.

Eu estava completamente desesperada. Depois, ao perceberem a condição em que eu estava, caída no chão, a pressa foi tomada por olhares de preocupação e muitos pararam de entrar e gritaram algumas vezes por socorro.

Sozinha, levantei-me com muita dificuldade e entrei no trem. Deram-me um lugar para eu sentar e, após uns dois minutos, as portas se fecharam e ele foi embora. Foi a partir daí que meus problemas só começam. Comecei a sentir muitas dores e meu pé e meu tornozelo direito começaram a inchar de modo que eu tive que tirar o meu tênis ali mesmo para aliviar.

Estação Perus, na zona norte de São Paulo tem trechos com tamanho ideal, mas pontos com até 24 cm (Foto: Jéssica Moreira /Agência Mural)

Quando cheguei a minha estação, pedi ajuda de alguns passageiros para que me empurrassem para conseguir sair, já que eu não conseguia de forma alguma apoiar meu pé no chão. Na plataforma, sentei-me nas cadeiras para ligar para alguém que pudesse me ajudar, mas desesperada, levantei chorando e falei com um guarda que passava.

Expliquei minha situação e tudo o que havia ocorrido e então pegaram uma cadeira de rodas, me levaram até a catraca de saída e, para o meu espanto, disseram que não havia nenhum ortopedista nos hospitais públicos da região. Caso me levassem no particular, teriam que me deixar lá sozinha.

Na condição em que me encontrava, achei melhor chamar o meu pai e irmos juntos ao hospital. Fui atendida no Hospital Santa Marcelina e me informaram que eu tinha quebrado ossos de três metatarsos e trincado um deles, além de que o acidente tinha tomado quase todos os meus ligamentos do tornozelo direito.

Confira todos a distância de todos os vãos e os recordes

Desde então, fiz muito repouso para me recuperar, até que um dia em uma das idas ao médico, ele descobriu que havia desenvolvido em mim a Atrofia de Sudeck, o que piorou ainda mais o meu caso. Daí para frente, fiz vários tipos de tratamento: fisioterapia, acupuntura, pilates, drenagem linfática, ginástica holística e caminhada. Até hoje, ainda faço algumas destas atividades.

Vãos largos têm sido um dos riscos dos moradores (Foto: Paulo Talarico/Agência Mural)

Depois desse acidente, fiquei com algumas sequelas, como problemas em algumas pequenas veias, nos linfonodos, estou com perda óssea no dedo do meu pé direito e ainda sinto dores no meu tornozelo direito, que ainda incha. Além disso, ele agravou um problema que eu tinha nos dois joelhos e fiquei com dores na lombar.

No momento, estou aguardando para poder realizar um exame nos nervos da minha perna direita, pois perco a força na perna em determinados momentos.

Em resposta ao ocorrido, na época, a CPTM disse que na Estação da Luz ocorre também a utilização dos trens de carga e que por isso ele necessita do vão e que não poderiam fazer nada a respeito.

Desde o acidente, eu banquei sozinha todo o tratamento e continuo fazendo-o até hoje. Por conta disso, permaneço afastada de minha função nas salas de aula e agora trabalho na secretaria da escola, pois tenho mobilidade reduzida. Toda essa situação deixou-me um pouco depressiva, mas com a chegada do meu filho eu consigo esquecer por alguns segundos essas dores diárias tão presentes em mim.

Jéssica Moreira, Karina Oliveira e Tamíris Gomes correspondentes de Perus, Vila Ayrosa e Poá.

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