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Tim, o artista do Grajaú que transforma carcaças de carros com grafitagem

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Por Priscila Pacheco | 29.03.2017

Publicado em 29.03.2017 | 13:25 | Alterado em 27.02.2024 | 16:43

RESUMO

“Automóveis revelam várias contradições do ser humano”, acredita educador

Tempo de leitura: 2 min(s)

O artista grafita carcaças de carros abandonados — Foto: Wellington Neri / Arquivo pessoal

“Artista, educador e agente marginal, aquele que age a partir da margem”, são os termos que Wellington Neri, 32, conhecido como Tim, sugere que coloquemos nos créditos. Tim é formado em artes plásticas e grafita desde os 17 anos de idade. Ultimamente, o artista, que chama a atenção pela arte abstrata, tem deixado sua marca em carcaças de carros velhos pelo distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo. Por que carros? “Os carros revelam várias contradições do ser humano”, explica.

Além disso, Tim é um dos integrantes do Imargem, iniciativa multidisciplinar que une arte e meio ambiente, e tem o propósito de instigar a reflexão sobre os potenciais e problemas da sociedade a partir das periferias (margens) até o centro da cidade. O projeto nasceu em 2006 nas beiras da represa Billings, no Grajaú.

Tim diante de uma de suas obras antigas — Foto: Priscila Pacheco/Agência Mural

Tim cresceu neste distrito, especificamente no bairro Jardim Lucélia. Costumava jogar bola em um campo de terra avermelhada e sempre gostou de arte. “Ia a museus, via Picasso, Matisse, esses grandes pintores”. Mas não foram esses artistas que o estimularam a entrar no mundo da arte. A primeira influência foi o irmão mais velho, Mauro Neri. “Cresci vendo ele produzindo. Ele tem um dom e começou a desenhar muito bem ainda criança, sem ter feito aula nenhuma”.

Hoje, Mauro Neri é um dos grafiteiros mais renomados de São Paulo. É provável que quem circula pela capital já tenha visto alguma casinha amarela, a palavra VERACIDADE, ou mulheres com olhos bem abertos desenhadas por ele.

Outra pessoa que influenciou Tim foi Niggaz – Alexandre Luiz da Hora Silva, também crescido no Grajaú. Niggaz morreu afogado na represa Billings em 2003 aos 20 anos de idade. É considerado o precursor do grafite na região e o primeiro a atravessar a ponte para grafitar na Vila Madalena.

“Morreu de amor, de frustração, do sucesso que veio cedo e talvez ele não soube lidar. Pintou a vida e morreu de amor”, fala o grafiteiro Marcus Vinicius Enivo, 31, durante o lançamento do documentário e livro biográfico de Niggaz, trabalho no qual Tim participou da organização. Enivo também é um dos agentes marginais do Grajaú.

Apesar do estímulo local para desenhar, o que deu coragem para Tim ir para a rua e grafitar foram os trabalhos do Zezão e Daniel Boleta. Zezão, José Augusto Amaro Handa, é conhecido pelos trabalhos feitos em áreas “invisíveis” da cidade, como paredes de canais de esgoto, córregos e tampas de esgoto. Já Boleta, Daniel Medeiros, é um nome conhecido no grafite psicodélico brasileiro.

Tim também revela que não curte muito a estética hip-hop. “Eu gostava de ver o desenho do Niggaz, que era um braço retorcido. Isso é uma coisa que tem a ver com a arte, gostar de coisa absurda”, explica. Para Tim, o normal não o atrai, pois ele gosta de tentar abstrair algo do que normalmente não se vê, do que foge da informação direta e óbvia.

Texto e produção da série: Priscila Pacheco, correspondente do Grajaú

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