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Como fica a volta às aulas nas creches das periferias de SP

2.500 centros de educação infantil devem retornar de forma presencial ainda este mês, sem rodízio de alunos; famílias podem optar por ensino remoto

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Por: Ana Beatriz Felicio

Notícia

Publicado em 02.02.2021 | 11:20 | Alterado em 02.02.2021 | 11:26

Tempo de leitura: 4 min(s)
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Caroline Suninga da Silva, 32, moradora da Vila Nova Curuçá, precisou se mudar para Guarulhos no começo da pandemia para que a filha Olívia, 2, pudesse ficar com a avó / Reprodução

Favorável à volta às aulas presenciais em fevereiro, a advogada Caroline Suninga da Silva, 32, moradora da Vila Nova Curuçá, na zona leste, resume a necessidade de mandar a filha Olívia, 2, para a escola.

“Se não colocá-la numa creche ou arrumar alguém para cuidar, a gente fica com fome, porque eu sou a única responsável pelo sustento dela”.

Em março do ano passado, quando as aulas na creche foram suspensas, a advogada precisou sair de sua casa para ir morar com os pais em Guarulhos. Divorciada e sem poder parar de trabalhar, ela não tinha com quem deixar a filha, que ficou aos cuidados da avó, que é professora.

“Fiquei morando com eles por cerca de quatro meses, até que a situação ficou muito difícil, era mais longe para eu ir para o trabalho, a minha mãe também precisava do tempo para preparar e ministrar as aulas. Daí eu decidi voltar para minha casa. Entrei em contato com várias pessoas perguntando se alguém conhecia cuidador, porque realmente não tinha como eu ir trabalhar com ela e nem ninguém para ajudar”, relembra.

A solução encontrada foi matricular a pequena em uma creche particular, que estava funcionando mesmo enquanto a determinação do estado era de manter as escolas fechadas.

“Era uma questão que me deixava insegura não só por causa do vírus, mas também em parte sobre a qualificação das pessoas que estavam cuidando dela. Não que eu tenha duvidado, mas sei que em uma creche as pessoas são mais qualificadas, têm mais experiência, então essa era uma coisa que me deixava com medo”

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Matriculada em um CEI (Centro de Educação Infantil), da rede pública municipal, Olívia começou a estudar no início de 2020.

“Eu sou a favor sim que as aulas retornem, principalmente para quem precisa”, avalia Caroline. “Você coloca seu filho na creche porque precisa trabalhar e não tem opção, é diferente de uma criança que está na pré-escola e a mãe está em casa ou tem outra pessoa para cuidar. No meu caso realmente não tem outra alternativa”.

As aulas nos 2.500 centros de educação infantil, onde estudam crianças de zero a cinco anos e onze meses, estão previstas para retornar de forma presencial ainda este mês. As famílias vão poder optar se desejam mandar as crianças ou permanecer com o ensino remoto.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, diferentemente do que vai acontecer com os alunos de outras fases, não haverá esquema de rodízio na educação infantil. O retorno será com 35% das crianças por agrupamento e sem revezamento.

Um levantamento feito com as famílias vai mostrar quem deseja voltar de forma presencial. Caso uma unidade escolar tenha mais de 35% dos alunos que queiram voltar, haverá uma seleção com o primeiro critério sendo as crianças mais velhas, as que tenham irmãos na mesma escola e a vulnerabilidade social dos alunos.

“Conforme debatido com professores da rede municipal que atendem o ensino infantil, a faixa etária necessita de adaptação e vínculo com os educadores, por isso será atendido o mesmo grupo diariamente, criando bolhas de atendimento, o que também é recomendado pela saúde”, afirmou a pasta em nota. Além disso, todas as unidades deverão obedecer uma série de protocolos de higiene.

Apesar dos cuidados, a retomada é envolta em polêmicas, já que ainda não há previsão de vacinação para os profissionais da educação, que precisarão voltar a trabalhar de forma presencial.

Na última sexta-feira (29), a pedido do Sedin (Sindicato dos Trabalhadores das Unidades de Educação Infantil da Rede Direta e Autárquica do Município de São Paulo, o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), concedeu uma liminar que suspendia o retorno das aulas presenciais na educação infantil da rede pública municipal da capital paulista.

O principal argumento era de que a rede pública não teria os mesmos recursos das escolas particulares para prevenir e evitar a disseminação do coronavírus. A liminar, contudo, foi derrubada pelo Governo do Estado ainda no sábado (30).

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De acordo com a prefeitura, as aulas presenciais no ensino infantil retornarão com 35% dos alunos por agrupamento e sem revezamento / Léu Britto/Agência Mural

‘NÃO POSSO ARRISCAR’

Já na segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis, a moradora Robervania Ferreira da Silva, 23, vai optar por não enviar a filha, Dalila, 2, para a creche presencialmente.

Com síndrome de Down, Dalila estava se adaptando muito bem em um CEI localizado em Paraisópolis, onde estudou durante o começo do ano passado.

“Ela ficou pouco tempo, mas o tempo que ela ficou se adaptou muito bem com as professoras e os amiguinhos. Ela não andava, começou a andar lá, muita coisa ela começou fazendo lá”, relembra Robervania.

De acordo com a mãe, o apoio das professoras e dos profissionais da creche tem sido fundamental durante o período de isolamento social.

“No começo da pandemia a creche ajudou muito, com cestas de alimentos, higiene, frutas, verduras e leite”.

Além disso, ela conta que a escola montou um grupo no whatsapp para manter o contato e enviar atividades, além de realizar lives para que as crianças pudessem manter o contato.

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Apesar de reconhecer essa importância, Robervania admite que tem sido um período complicado com a filha longe da creche, ainda mais pelo risco da contaminação pela Covid-19. Além da filha, hoje divide a casa com a mãe e duas irmãs.

“Ela é bem enérgica então é muito difícil. Eu evito sair com ela, mas quando preciso fazer alguma coisa, tenho que levá-la comigo e tem esse risco da Covid que para ela é mais complicado, então só saio com ela de máscara. Minha mãe trabalha, minha irmã também tem as coisas dela pra resolver, então acaba que eu tenho que estar saindo e levando ela para os lugares, que é muito difícil”.

Robervania trabalhava como atendente, mas saiu do emprego após o nascimento de Dalila, para cuidar da filha. Apesar das dificuldades, a volta às aulas de forma presencial não irá acontecer.

“Ela não voltaria por conta do Covid, porque infelizmente a vacina não é para criança, e eu não posso arriscar. Sabemos que criança é difícil, eles não vão se separar, eles não vão querer ficar de máscara, vão estar lá brincando um com o outro, colocando coisas na boca… Eu não teria coragem de deixar [ela voltar] sem ter uma total certeza, uma segurança de que estaria bem, longe do perigo”.

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Ana Beatriz Felicio

Jornalista, curiosa, já foi apresentadora do Próxima Parada. Gosta de conhecer pessoas novas e descobrir o que as motiva a acordar todos os dias. Correspondente de Carapicuíba desde 2018.

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