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Em Cotia, bairros na periferia da cidade são os mais afetados por Covid-19

Um dos exemplos é o Morro do Macaco, uma das regiões mais populosas do município

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Marcos Batata/Arquivo Pessoal

Por: Halitane Rocha

Notícia

Publicado em 28.08.2020 | 14:35 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22

Tempo de leitura: 4 min(s)
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Em Cotia, Morro do Macaco é uma das favelas que ainda buscam apoio @Marcos Batata/Arquivo Pessoal

Moradores da região do Morro do Macaco e do bairro do Atalaia, em Cotia, na Grande São Paulo, são os mais afetados pelo novo coronavírus. É o que indicam dados das UBs (Unidades Básicas de Saúde) levantados pela Vigilância Epidemiológica da prefeitura, a pedido da Agência Mural.

Até o dia 20 de agosto, 38,85% dos casos da cidade haviam sido registrados nas unidades dessas duas regiões. Todas as 26 UBS registraram casos de Covid-19 e apenas uma delas não teve vítimas – a unidade Cachoeira, no distrito de Caucaia do Alto. 

A gestão diz que não é possível precisar a residência dos moradores, mas que o levantamento leva em conta as unidades onde constam os registros dos pacientes. 

A maioria das vítimas por Covid-19 foi registrada no Morro do Macaco, área periférica populosa de Cotia. Ali, os moradores são atendidos nas UBS do Portão, Turiguara e Jardim Coimbra. As três unidades concentram 42 mortes até 20 de agosto. Nesse dia, a cidade tinha 170 vítimas.  

">Região ">Confirmados ">Óbitos Confirmados ">Confirmados e Óbitos
">UBS JD JAPÃO ">80 ">1 ">81
">UBS ÁGUA ESPRAIADA ">58 ">2 ">60
">UBS JD DAS OLIVEIRAS ">102 ">10 ">112
">UBS CAUCAIA DO ALTO ">358 ">19 ">377
">UBS CACHOEIRA ">10 ">0 ">10
">UBS MENDES ">17 ">2 ">19
">UBS CAPUTERA ">21 ">1 ">22
">UBS MORRO GRANDE ">22 ">2 ">24
">UBS JD SANDRA ">79 ">5 ">84
">UBS JD SÃO MIGUEL ">77 ">2 ">79
">UBS JD PETRÓPOLIS ">162 ">3 ">165
">UBS ARCO IRIS ">146 ">3 ">149
">UBS MIRANTE DA MATA ">129 ">7 ">136
">UBS ATALAIA ">766 ">20 ">786
">UBS MIGUEL MIRIZOLA ">266 ">9 ">275
">UBS PQ TURIGUARA ">157 ">10 ">167
">UBS JD COIMBRA ">84 ">5 ">89
">UBS PORTÃO ">450 ">27 ">477
">UBS RIO COTIA ">195 ">4 ">199
">UBS PQ ALEXANDRE ">77 ">2 ">79
">UBS JD SÃO VICENTE ">123 ">5 ">128
">UBS PQ SÃO GEORGE ">67 ">4 ">71
">UBS ASSA ">104 ">7 ">111
">UBS JD DO ENGENHO ">101 ">8 ">109
">UBS RECANTO SUAVE ">124 ">8 ">132
">UBS SANTA ÂNGELA ">74 ">4 ">78
">Total registrado com Endereço Completo ">3849 ">170 ">4019
">Dados retirados da lista da VE de 20/08/2020

“Não é a toa que Portão e Turiguara estão cheios de festinhas que vejo a galera postando […] sexta, sábado e domingo”, diz a assistente de administrativo e financeiro Silvia Barbosa Rosa, 20, moradora da região.

“Eu mesma não sabia dessa concentração de mortes no Portão, então acredito que muitas pessoas de ambos os bairros não estão cientes e achando que é algo muito pequeno, que não está tendo impacto real.”

Silvia mostra receios com a situação de reabertura do comércio. “É uma irresponsabilidade enorme. Além das pessoas terem o pensamento que está tudo bem, ainda vão expor os trabalhadores”.

Apesar da sensação, a Grande São Paulo ainda tem registrado cerca de 800 mortes por Covid-19 por semana. O número é menor do que no mês de julho, quando ultrapassava as mil mortes semanais, segundo levantamento da Agência Mural

">Morro do Macaco ">Casos ">Mortes
">UBS PQ TURIGUARA ">157 ">10
">UBS JD COIMBRA ">84 ">5
">UBS PORTÃO ">450 ">27
">691 (17,95%) ">42 (24,7%)

FASE AMARELA

No caso de Cotia, até o dia 25, a cidade somou no geral 4099 casos e 174 mortes. A cidade afirma que 3.784 pessoas se recuperaram após terem tido a doença. 

Com quase 250 mil habitantes, a cidade está na fase amarela do Plano São Paulo que permite a reabertura do comércio, de salões de beleza, bares e academia, com limitações. 

Para o fotógrafo Marcos Batata, 39, os comércios abertos também impactam nessa sensação controle da doença.

Desde o início da quarentena, Marcos ajudou moradores do Morro do Macaco e de outros bairros a se cadastrarem para o auxílio emergencial e conseguiu entregar 500 cestas básicas para suas casas. 

“Tem pessoas que eu fiz (o cadastro) em março e não conseguiram pegar até hoje. Tem pessoas que não tiveram nem a possibilidade de pegar porque não tem um celular, por exemplo, não tem um e-mail.” 

Para Marcos, essas dificuldades de obter renda mínima, alimentação e necessidade de ir trabalhar pegando ônibus e metrô lotado faz com que mais pessoas sejam contaminadas. “A gente se organiza para fazer as pessoas ficarem em casa. Esse é o papel do Estado, mas eles não estão fazendo isso e por conta disso estão fazendo mortes.”

ATALAIA

Na UBS do Atalaia, onde frequentam moradores de diferentes bairros como Jardim Atalaia, Jardim Lavapés, são mais de 766 casos confirmados.

“O que eu tenho observado é que desde o começo da pandemia o pessoal não levou muito a sério”, diz o Eder Dias de Oliveira, 40, que possui um estúdio de tatuagem há 10 anos no Atalaia. 

Desde quando foi decretado a quarentena em São Paulo, o tatuador mudou toda a rotina em casa e de trabalho para evitar a contaminação da família e com clientes. “Não deixo as portas abertas para evitar aglomeração”. 

“Não abri mais a loja normalmente mesmo com a permissão da reabertura dos comércios. Estou marcando só tattoos e piercings com horário marcado individualmente, seguindo todas as normas de segurança.”

Evitar aglomeração não foi o que ele presenciou na região onde trabalha, mesmo quando os comércios não tinham permissão para abrir.  “No Dia das Mães, o açougue estava lotado, a fila tava lá fora, todo mundo comprando carne para churrasco, sabendo que não podia estar aglomerando, sem máscara.” 

Eder também reclama dos mercados que nada fizeram para evitar a situação. “Tem um caixa ou dois trabalhando, outros todos fechados. Aí fica aquela fila imensa e o pessoal não respeita a distância de segurança.” 

“O pessoal também pensa que como reabriu o comércio, o vírus acabou”, ressalta.

“Muita gente está vivendo sua vida normalmente”, diz a operadora de loja Monique Veloso Lima, 22, moradora do Jardim Lavapés na região do Atalaia.

Para Monique, a reabertura dos comércios foi uma atitude totalmente equivocada, em que morre cada dia mais pessoas e escuta muitas frases como. “Tem que trabalhar”, “vai morrer de fome”. 

Mas ela discorda desses argumentos. “O que as pessoas tem que entender é que em relação a pobreza, não é hoje que isso acontece. Isso já é um problema de muitos anos no Brasil.” 

“Se a gente está no meio de uma pandemia, que precisa deixar o máximo de comércios fechados para amenizar, é o governo que tem que estabilizar as famílias.”

*Texto alterado em 28 de agosto, às 21h18. Ao contrário do publicado inicialmente, o Parque Bahia não faz parte do Atalaia. 

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Halitane Rocha

Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!

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