APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/Agência Mural

Por: Raphaela Ribeiro

Notícia

Publicado em 10.10.2023 | 18:57 | Alterado em 11.10.2023 | 10:29

Tempo de leitura: 4 min(s)

Foi o abandono do Parque Linear do Córrego do Rio Verde pelo poder público que motivou o personal trainer Jhony Douglas, 34, a iniciar um projeto que oferece, gratuitamente, treinamento para lutas e aulas de boxe em Itaquera, na zona leste de São Paulo.

O Bronx Boxe Clube foi criado em 2015 e oferece aulas no espaço às segundas e quartas-feiras, entre 19h e 21h. O projeto tem se destacado ao promover a cultura, as habilidades motoras e a inclusão no distrito por meio do ensino da luta.

Morador do Campo do Falcão, próximo ao Estádio do Corinthians, Johny atravessava o parque na volta do trabalho para encurtar o caminho até em casa. Frequentemente, se deparava com crianças e adolescentes usando “lança” dentro do espaço. Depois de alguns encontros, ele começou a pensar em como levar novas atividades para o local.

Entre 20 a 40 alunos participam das aulas do projeto Bronx @Léu Britto/Agência Mural

Construído em meados de 2012, o Parque Linear do Córrego do Rio Verde tem uma área de 734 mil m² e fica localizado em Itaquera, zona leste de São Paulo. A ideia era que o espaço proporcionasse à população da região um ambiente verde em meio a um bairro onde as opções de lazer são escassas. Mas isso demorou a acontecer.

Segundo o treinador, naquela época não existiam projetos que atraíssem e engajassem os jovens da região. Ele explica que a área pertencia a uma comunidade, e que as famílias locais foram deslocadas para conjuntos habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) para a construção do parque.

“Para as pessoas daqui, ficou um vazio. Criaram um parque, mas e aí? Colocaram grama e a gente vai fazer o que aqui? Quando começou só tinham as quadrinhas de areia, mas depois ficou ruim também, porque não tinha pessoal para cuidar”, recorda.

Treinador, Jhony criou projeto para atrair jovens e adolescentes da região @Léu Britto/Agência Mural

Com o passar dos anos, o parque passou a oferecer atividades gratuitas, como dança circular, capoeira e boxe – esse último por meio do Bronx Boxe Clube.

Para que pudesse iniciar as aulas, Jhony procurou os gestores de lá e solicitou que uma sala construída no local, com 100 m², até então utilizada apenas para atividades diurnas, fosse destinada às aulas do projeto, que atualmente ocorrem à noite, após o fechamento do parque.

Com as chaves do local em mãos, o treinador procurou conhecidos para adquirir equipamentos usados para as aulas, como tatames, luvas, sacos de pancada e protetores de cabeça.

Segundo Johnny, ao longo dos oito anos do projeto, mais de mil alunos já participaram de pelo menos uma aula de boxe. Com perfil racial, etário e de gênero diversificado, é comum que pais e filhos treinem juntos, assim como irmãos, irmãs, amigos e casais.

Para ele, além de ocupar o Parque Linear e oferecer uma opção gratuita de esporte para a comunidade, o boxe também tem proporcionado momentos de descontração e conexão entre as famílias.

Pai e filha treinam lado a lado durante aula @Léu Britto/Agência Mural

Gerson participa do projeto há pouco mais de 1 ano_ ele treina com sua noiva @Léu Britto/Agência Mural

Mariana participa de sua primeira aula na Equipe Bronx_ ela já havia tentado praticar boxe em outras academias, mas não se adaptou ao modelo de ensino @Léu Britto/Agência Mural

O treinador assistente Deto Vale auxilia aluno @Léu Britto/Agência Mural

A mãe Lenice e a filha Carina treinam juntas há 4 meses_ o filho Caio começou a participar há 2 meses @Léu Britto/Agência Mural

Na aula que a Agência Mural acompanhou em uma segunda-feira de setembro, havia pouco mais de 20 alunos, entre iniciantes e avançados. Atualmente, há cerca de 60 cadastrados no projeto. Entre eles, o autônomo Gerson Felipe, 25.

Com experiência anterior em muay thai, Gerson faz parte da Bronx há mais de um ano. Quando começou a treinar muay thai ainda garoto, ele viu na luta uma forma de lidar com a raiva e o estresse. Agora, está se preparando para a primeira competição no boxe.

Assim como Gerson, Noberto Neto do Vale, 17, é um dos promissores talentos do Bronx Boxe Clube. Noberto e a mãe ingressaram no projeto quando ele tinha apenas 11 anos. Naquela época, enfrentava dificuldades em controlar a raiva, e o ringue se revelou um antídoto eficaz.

“Eu ficava estressado muito fácil. Aí eu comecei a ir para os treinos e isso começou a me acalmar mais. Aqui é meio que uma forma de me desestressar”, diz. Desde que se dedicou aos treinos, ele conta que experimentou melhorias significativas na concentração e no foco.

Além dos aquecimentos e sessões de treinamento em equipe, Noberto está se preparando para futuras competições. Ao término de cada sessão, ele se envolve em sparring, uma simulação de luta, realizada em um ringue improvisado com cadeiras.

Em 2021, o jovem chegou à final do Campeonato de Alunos Miguel de Oliveira, na Bela Vista. Apesar de ter perdido a competição, participar foi um grande passo para ele, que deseja seguir carreira no esporte.

Jhony conta que, quando levou os alunos para a competição na Bela Vista, no centro da capital, muitos não tinham saído do bairro Arthur Alvim. Naquele momento, ele viu a realização da missão do projeto de forma concreta.

Impressionados com a região central e com uma realidade diferente do que conheciam, Jhony sentiu que estava conseguindo mostrar que há um mundo fora do Parque Linear.

No entanto, o projeto enfrenta desafios significativos comparado aos rivais. Frequentemente, os alunos competem com clubes maiores, que dispõem de mais recursos e estrutura. “Algumas equipes nos aceitam mais, mas outras comentam coisas como ‘esses caras nem têm um ringue'”, relata Jhony.

Treinador improvisa ring de boxe para a realização do sparring @Léu Britto/Agência Mural

Apesar dos percalços, o projeto celebrou algumas conquistas nos últimos anos, como o de campeão no Campeonato Paulista de Alunos em 2018 com a vitória de Paulo Henrique Coutinho, na época com 19 anos, e em 2019, com a vitória de Robson Renan da Silva Máximo, na época com 13 anos. Além de vice-campeões e medalhistas de bronze em anos anteriores.

Hoje, no Bronx Boxe Clube, há pelo menos outros cinco alunos que desejam competir e trazer mais um cinturão para casa.

Quem deseja participar do projeto pode se inscrever até o dia 15 de dezembro. O cadastro é feito de segunda e quarta-feira, às 19h no parque. É preciso levar xerox do RG e do comprovante de endereço. O aluno pode começar o treino no dia da matrícula, contanto que esteja vestindo tênis e roupas confortáveis. Após o prazo, a previsão é de que novas inscrições ocorram de três em três meses, em 2024.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Raphaela Ribeiro

Jornalista e pós-graduanda em jornalismo digital e contemporâneo, com trabalhos publicados na Folha, HuffPost Brasil, Revista AzMina, The Intercept, Terra e Agência Pública. Nascida e criada na zona leste, é correspondente de Itaquera desde 2023.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE