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‘Ensino à distância deixa de fora boa parte de nossos alunos’, diz professora na periferia de SP

Voluntária na Uneafro, moradora da zona leste de SP relata dificuldades enfrentadas pelos alunos atendidos na entidade

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Arquivo Pessoal

Por: Lucas Veloso

Notícia

Publicado em 01.06.2020 | 17:04 | Alterado em 01.06.2020 | 17:04

Tempo de leitura: 3 min(s)
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Débora mora em Sapopemba, na zona leste da capital, e aponta dificuldades no ensino @Arquivo Pessoal

Graduanda em Ciências Sociais, Débora Dias, 22, é moradora de Sapopemba, extremo leste da capital paulista, e atua como voluntária na Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras, Negros e Classe Trabalhadora). Desde o começo da pandemia, tem visto as dificuldades de alunos e professores em conseguir manter o ensino à distância. 

Ela coordenadora de núcleo no bairro da Fazenda da Juta e Jardim Grimaldi. Entre as atividades que realiza, o trabalho mais conhecido é o cursinho pré-vestibular comunitário, com atendimento gratuito a estudantes de escolas públicas, principalmente negros e negras. Atualmente, são 26 alunos inscritos na região. 

Com a pandemia da Covid-19 e a determinação de isolamento social, Débora relata as dificuldades enfrentadas pelos alunos que acompanha. “A gente observa que o ensino à distância não garante que os estudantes tenham aprendizagem. É difícil falar em sentar e estudar quando você está preocupado com o que vai comer e como pagar água, luz e aluguel”. 

Para ela, antes mesmo da pandemia, no bairro, as pessoas sofriam com problemas estruturais, mas com a Covid-19, eles foram agravados. O desemprego e a informalidade são questões presentes no cotidiano de quem é atendido pelos cursinhos e impacta diretamente no processo de aprendizagem. 

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, Sapopemba tinha 3.896 casos e 179 mortes até 18/05

No núcleo da zona leste, também chamado de Ilda Martins de Souza – Angela Davis, há aulas para quem deseja ingressar no ensino superior e ações culturais no território, com pessoas a partir de 14 anos. 

“Aqui, o EAD deixa de fora uma parcela muito grande dos nossos alunos, seja aqueles que não tem acesso, seja aqueles que possuem deficiência e dificuldade ou quem não consegue acessar essas plataformas”. 

Para ela, o formato de ensino online não resolve as demandas trazidas pelos alunos pobres. “Essa forma pode até cumprir o calendário, mas não traz o saber e a troca dos nossos alunos em sala de aula, isso afeta diretamente como será o desempenho no vestibular ou em outras questões”, acrescenta. 

Débora diz que mesmo se o Estado providenciasse internet e computador à todos os alunos da rede pública, outros fatores  econômicos e estruturais precisariam ser considerados. “O aluno teria um espaço com cadeira e mesa?”, questiona. Além disso, ela cita o desemprego e  a falta de alimentação, situações que atingem os estudantes.

A pesquisa TIC Domicílios 2017 ponta desigualdade em relação à internet. Os números mostram que mais de um terço (39%) dos domicílios brasileiros ainda não tem nenhuma forma de acesso à internet. São cerca de 27 milhões de residências desconectadas.

Enquanto outras 42,1 milhões de famílias acessam a rede via banda larga ou dispositivos móveis. O índice de residências sem acesso é  maior nas classes D e E: 70%. Na classe A, 99% dos domicílios têm alguma forma de acesso, na classe B, 93% e na classe C chega a 69%.

As questões levantadas pela educadora também suscitaram protestos contra a data prevista para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), nos dias 1º e 8 de novembro. 

Depois de mobilizações de estudantes e professores, o Ministério da Educação (MEC) adiou o Enem 2020. “As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais“, disse a nota conjunta do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Cercada por problemas estruturais que atingem seus alunos, Débora diz que a preocupação do Estado não é com a educação de qualidade. “Se a preocupação fosse outra, teríamos resultado diferente, mas como não é, estamos aí de mãos atadas com nossos alunos passando por muitas dificuldades”, resume. “A gente segue tentando garantir o mínimo, que é comer e não ser despejado”. 

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Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

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