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Agência de Jornalismo das periferias

Leo Fontes / Universo Produções

Por: Isabela Alves

Notícia

Publicado em 10.03.2023 | 9:30 | Alterado em 10.03.2023 | 16:39

Tempo de leitura: 4 min(s)

A maior e mais conhecida premiação do cinema está chegando: o Oscar 2023 acontece no domingo, dia 12 de março, e quem é fã de cinema já está fazendo maratonas e escolhendo seus filmes favoritos.

Aproveitando o clima, que tal conhecer quem faz esse corre dentro das periferias? A Agência Mural conversou com profissionais da área para entender como é possível criar obras que refletem a realidade das periferias e contar quais são os desafios de fazer audiovisual nesses territórios.

Confira:

O dilema de ser artística periférico

Com Jorge (2022), o diretor Bruno Felix da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, teve diversas conquistas: sua estreia como diretor de ficção e roteirista, e a exibição do filme na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes – a maior mostra de cinema independente do Brasil.

O curta surgiu como um trabalho de conclusão de curso de direção cinematográfica na AIC (Academia Internacional de Cinema). Para a realização, Bruno trabalhou com pessoas que fez amizade ao longo da sua trajetória como artista.

Bruno Felix é diretor de Jorge (2022), que conta a história de um jovem negro da periferia de São Paulo @Leo Fontes / Universo Produções

“Realizamos um financiamento coletivo onde arrecadamos R$ 10 mil para que fosse possível remunerar todas as pessoas envolvidas e proporcionar uma vivência semelhante a um set fora do ambiente estudantil, ainda que com cachês reduzidos”, relata.

O filme conta a história de Jorge, um jovem negro de uma periferia de São Paulo que vive o dilema de se dedicar a arte e pagar as contas de casa. O drama vivido pelo protagonista é um retrato do próprio diretor e tantos outros artistas que precisam lidar com a exclusão no mercado de trabalho e a falta de investimento.

“Se lançar como um diretor periférico não é uma tarefa fácil. Eu nunca havia trabalhado em um set de filmagens, então acredito que minha maior virtude foi a vontade de contar uma história e acreditar nela”, comenta Bruno.

Para ele, é importante que as pessoas da sua quebrada também possam assistir o filme e dar um retorno para que as próximas produções continuem retratando a vida dessa população. Bruno também é fundador da produtora “Q Loko Tio” que tem como mote “contar a história de pessoas pretas em seus incalculáveis universos”.

O humor quebrando barreiras

Em A Blogueira da Favela (2022), conhecemos a história de Beca, uma jovem de Paraisópolis que sempre gostou de frequentar bailes funks. Tudo muda quando a chefe vê um dos vídeos dela dançando, a demite e Beca decide se tornar influencer para ganhar dinheiro.

O diretor Arthur Jesus relata que a ideia veio a partir das vivências dentro da comunidade e a vontade de retratar os influenciadores periféricos, que por muitas vezes acabam não tendo visibilidade nas plataformas.

Por ter sido a primeira experiência como diretor, uma das maiores dificuldades foi lidar com a insegurança. “Ao mesmo tempo que estava entusiasmado, porque é uma história parecida comigo, também tive medo de me ver nesse lugar. Fui aprendendo na prática”, conta.

Elenco de “A Blogueira da Favela”, produzido em Paraisópolis @Divulgação

A repercussão do filme foi positiva desde o casting, já que mais de 100 pessoas periféricas se inscreveram para participar. A primeira exibição ocorreu no CEU Paraisópolis, além dos saraus e sessões nos centros culturais.

Também houve uma exibição para 20 meninas que vivem na Fundação Casa. “O mais interessante é ver as pessoas se reconhecendo e se divertindo. A gente fala de temáticas importantes, mas queremos tornar acessível para todo mundo. Até aquele tiozinho que trabalha na obra e chega em casa cansado depois do trabalho, sabe?”, diz Ellie Sasi, co-diretora do filme.