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Família faz bingo virtual para driblar quarentena na periferia de SP

Parte do valor arrecadado é usado para ONG que produz marmitas para pessoas em situação de rua

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Por: Lucas Veloso

Notícia

Publicado em 20.08.2020 | 18:25 | Alterado em 22.11.2021 | 16:12

Tempo de leitura: 3 min(s)

A mensagem do celular avisa: ‘O nosso bingo começou. Podem entrar nesse link e boa sorte’. O aviso é da atriz Indira Facho, 26, moradora do Jardim Imperador, na zona leste de São Paulo, e tem se repetido nas noites de domingo das últimas semanas.

Indira teve a ideia de promover rodadas de bingo em família como forma de manter o contato nesses dias de isolamento social por causa da Covid-19. De vez em quando, chama alguns amigos para participar da nova tradição.

“Tive a ideia depois de ficar sabendo que duas amigas fizeram bingo via chamada de vídeo. Minha família sempre foi muito ‘bingueira’, como não podemos mais nos reunir, lancei a ideia e todo mundo curtiu e se programou”, lembra. 

A maior parte dos familiares tinha cartelas em casa. Quem não tinha deu um jeito. Teve quem imprimiu, quem desenhou cartelas num caderno e quem fez pelo celular. Nestes casos, quem tinha cartela mandava fotos e a pessoa marcava digitalmente. 

Geralmente, o dia para o jogo é no fim de semana, mas, por vezes, alguém chama quem está online para brincar em outros horários. “Se tiver umas cinco pessoas já dá jogo”, comenta Indira. 

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Guiomar e Maria Alice Gonçalves são algumas das participantes do bingo, criado por Indira para reunir a família @Reprodução

Quase todos os jogos valem dinheiro. Por exemplo, cada cartela vale R$ 1, se na rodada são compradas 10 cartelas, fica R$ 3 pra quem bater a linha e R$ 7 pra quem bater a cartela cheia. 

A assistente social Guiomar Gonçalves da Silva, 51, mora no bairro Vila Bela, na zona leste. Chamada de tia Guiomar, ela é a responsável por fazer as contas das partidas. No final da rodada, manda no grupo quanto cada um ganhou ou tem que transferir pra ela enviar para os ganhadores. 

“Foi um meio que encontramos de estar juntos respeitando o isolamento e o distanciamento social”, comenta. Por outro lado, lamenta a falta de vitórias. “Jogo praticamente todas as vezes, e sempre perco”, resume. 

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Guiomar ressalta que a ideia da sobrinha tem sido boa principalmente para os idosos que tiveram de tomar ainda mais cuidados, por causa da pandemia. Muitos ficaram ociosos com o isolamento em casa, já que as distrações se resumiam a eventos na igreja e reuniões da família nos fins de semana.

DOAÇÕES

Em algumas ocasiões, o dinheiro arrecadado é doado para um projeto de amigos que fazem marmitas para doar para pessoas em situação de rua. Quando isso é feito, os prêmios são coisas de casa, como panela de fazer pipoca, luminária. Um dos prêmios mais disputados foi um ‘tanquinho’ de lavar roupas. 

Para entregar os prêmios, todo mundo deu um jeito. Durante a semana os prêmios foram entregues a um dos tios, que passou de moto e de máscara nas casas doando e recebendo as prendas. 

Indira diz que uma das coisas que favorecerem a brincadeira foi o fato da família ser festeira. “É uma família muito grande, sempre tem alguém fazendo aniversário e vendo jogos de futebol. Qualquer brecha é motivo para se reunir, com muita comida gostosa e batucar até balde para ter música”, relata. 

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Encontro tem ajudado durante isolamento social. Ricardo Tomaz Ribeiro é um dos tios que puxam algumas rodadas @Reprodução

Um dos compromissos anuais da família é a viagem para Aparecida do Norte, onde fica o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. “O ônibus parece uma festa, tem camiseta personalizada e tudo”. 

Por enquanto, Indira diz que todo mundo está se cuidando, mas sente falta da ‘vida normal’. “Não vejo a hora de chegar na casa da minha tia e ver o quintal com a lona estendida, quando chove, e cada um chegando carregando o prato que fez”. 

Guiomar concorda. “Somos uma família bem numerosa. Somos do tipo que gosta de reunião, abraçar, beijar, tudo é motivo para festa e pretexto para um churrasco. Celebramos tudo, tudo mesmo”, afirma. “Está sendo muito sofrido manter o distanciamento, e por isso, usamos de todos os recursos para mantermos conectados. O bingo foi uma delas”. 

Pela divulgação da amiga nas redes sociais foi o que a analista de processos Letícia Fernandes da Silva, 27, também entrou no bingo. Moradora de  Vila Clarice, bairro em Santo André, na Grande São Paulo, ela diz que gostou da experiência. “Amei demais. Primeiramente pela receptividade dos nossos anfitriões”, comenta. 

Letícia entrou nas jogadas acompanhada da avó Maria Aparecida Bueno da Silva, 74. As jogadas em dupla deram certo. No fim, ela e dona Maria ganharam seis vezes. “Passamos algumas horinhas de boas gargalhadas, ansiedade e concentração no jogo para não ‘comer bola’. Na minha família também temos o costume de jogar, mas nunca jogamos virtualmente”.

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Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

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