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Grafite de Coração: moradores da zona leste ensinam arte urbana para crianças

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Por Raquel Porto | 07.11.2018

Publicado em 07.11.2018 | 11:36 | Alterado em 07.11.2018 | 12:14

Tempo de leitura: 4 min(s)

De distritos vizinhos da zona leste de São Paulo, os amigos e artistas urbanos Humberto Epow, 21, e Robson Perdidos, 29, criaram o Projeto Coração a fim de revitalizar muros e difundir o grafite pela cidade.

Epow mora no Jardim Imperador, em São Mateus, enquanto Perdidos é do Jardim Marília, no distrito de Cidade Líder.

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Humberto via na região que um movimento para a arte de rua ganhava força. “Você começa a respirar isso cada vez mais” (Rafael Magalhães)

Os dois criaram identidades com desenhos específicos: Robson é voltado mais para a estética das letras e gosta de ver como elas afetam as pessoas. “Muitas vezes elas não conseguem entender e é isso que acaba atraindo quem vem conhecer a arte”. O artista se inspira também na dança de rua (bboy) e no hip hop.

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Robson sempre gostou de desenhar e viu no grafite uma maneira de difundir mais a arte (Divulgação)

No caso de Epow, o desenho e suas inspirações giram em torno da construção de personagens que remetem ao “grafite old school”. “[É quando] tem um personagem. Nem sempre com o corpo inteiro, às vezes só da cintura para cima”. Ele também aposta em referências do mundo do skate, hip hop, e a música como um todo.

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Arte no Beco da Cultura realizada por Robson em Cidade Líder (Raquel Porto/Agência Mural)

“Pintar o grafite não é barato, a tinta é cara, o spray é caro e tem a questão do acesso à informação, tudo isso não é tão simples nem tão fácil”, explana Humberto. Uma lata de tinta spray custa em torno de R$ 18, enquanto uma de 18 litros para pintar paredes custa R$ 150.

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Epow trabalha mais com personagens (Divulgação)

Eles pensaram em fazer uma vaquinha entre os moradores da zona leste e buscar um patrocínio. Aconselhados por amigos, souberam do Programa VAI da Prefeitura de São Paulo, que valoriza iniciativas culturais de jovens das periferias com idades entre 15 e 29 anos. No final de 2014, eles foram aprovados no edital do programa. Desde então, conseguiram renovar o apoio. 

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Humberto e alguns alunos do projeto (Divulgação)

MUROS DO BAIRRO

Grande parte do trabalho fica próximo à sede do projeto, no Jardim Imperador. Outras pinturas estão espalhadas por outros bairros. Pintaram, por exemplo, os muros de uma comunidade inteira e outros no bairro Jardim Centenário, no Rio Pequeno, na zona oeste da capital.

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Em Cidade Líder, realizaram intervenções também nos bairros Jardim Ipanema, na escola estadual Professor Sérgio da Silva Nobreza e no Jardim Marília na parede próxima ao Centro de Educação Infantil (CEI) João Bento de Carvalho.

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Trabalho de Epow no bairro (Rafael Magalhães/Divulgação)

“Muitas vezes não temos retorno financeiro nenhum, porém a gratificação de estar na rua, trazendo coisas boas, transformando aquela imagem feia do local e trazendo uma nova estética para o ambiente é gratificante”, conta Robson.

Uma das intervenções foi no muro da Rua Pão de Açúcar. Os tijolos colocados recentemente bloquearam um antigo atalho para quem ia ao Shopping Aricanduva e supermercados próximos. Ele foi construído pelos donos do terreno contra a vontade dos moradores vizinhos ao espaço.

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Muro da rua Pão de Açúcar, após intervenção (Raquel Porto/Agência Mural)

Pensando em uma forma de alegrar os moradores, Robson chamou parceiros para realizar a pintura do muro e mostrar que mesmo esse grande bloco de concreto “pode ter um lado bom” afirma.

Dentro do “Coração” eles oferecem oficinas para crianças, jovens e adultos, a maior parte é realizada em escolas públicas e técnicas. Neste ano, eles passarão por escolas dos bairros da Vila Formosa, São Mateus, Sapopemba e Jardim Imperador. No momento, 20 crianças participam das oficinas. 

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Outro trecho da revitalização na rua Pão de Açúcar (Raquel Porto/Agência Mural)

Nas oficinas, eles contextualizam movimentos da arte urbana do passado, como a força da atuação de artistas no Bronx, condado de Nova York nos Estados Unidos, nos anos 1970. Depois, a aula passa a ser prática ensinando os alunos a grafitar.

Netto Duarte, 39, é morador da Cohab I, Artur Alvim, zona leste de São Paulo, e participou em 2015. O artista visual, que desde o final dos anos 1980 está integrado na arte urbana, diz acreditar que esse tipo de oficina é importante “ainda mais nas bordas da cidade, onde as crianças e os adolescentes sofrem com a falta de equipamentos públicos”.

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Neto Duarte participou em 2015 das oficinas (Danni Léon)

Morador do Jardim Moreira, em Guarulhos, Diego Luiz Garcia, 23, desde criança teve interesse pelo grafite, mas só após a participação no projeto, em 2015, pode compreender a complexidade do movimento. “Pude progredir tanto a habilidade técnica quanto o embasamento teórico”, conta o designer de direção e arte.

Já o pintor Anderson de Jesus Silva, 19, morador de Sapopemba, na zona leste, conhece o movimento do grafite desde 2013, ano em que fez aulas na Fábrica de Cultura de Sapopemba. “Auxilia tanto no desenvolvimento pessoal, quanto para a bagagem cultural. Com cultura as pessoas podem apreciar cada vez mais a nossa cidade”.

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Anderson de Jesus grafitando na zona leste (Acervo Pessoal)

Robson e Humberto sempre foram moradores das periferias de São Paulo. “Amo o lugar de onde venho”, afirma Robson. Eles pensam em sair dela apenas se for o caso de facilitar os trajetos e também porque “São Paulo está explodindo”, exclama Humberto, que pensa em talvez morar na praia.

Robson diz desejar que a arte urbana “me leve até onde puder, porque já me trouxe muitas experiências boas, me inspirando e inspirando pessoas”.

Humberto pretende continuar o trabalho. E provocando pessoas. “Seja de forma boa, ruim, objetiva, subjetiva. O grafite é completamente rua, é urbana, para todos terem acesso. Está numa viela, numa rua, no centro, num prédio”.

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Projeto Coração na zona leste (Coletivo Holocausto Crew – HUC – representantes do projeto Coração)

Raquel Porto é correspondente de Cidade Líder
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