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Para 77% dos pretos e pardos de SP, preconceito se mantém igual há 10 anos

“A elite branca e preconceituosa não suporta políticas públicas para que os negros subam na pirâmide social”, diz designer de moda afro-brasileira

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Por: Redação

Publicado em 31.01.2019 | 12:50 | Alterado em 31.01.2019 | 12:50

Tempo de leitura: 3 min(s)
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Maria do Carmo diz que a moda afro-brasileira promove a cultura e identidade do povo negro (Sidney Pereira)

São Paulo das Desigualdades – Mulher, ativista social e empreendedora negra, a designer de moda Maria do Carmo Paulino, 47, há dez anos decidiu lançar sua própria marca no mercado.

Nascia a Ducaduca, linha de roupas inspirada em elementos africanos. “Na luta” desde os 13 anos de idade, ela explica que a moda afro-brasileira tem forte relação com a conscientização política e a desigualdade social que a população negra enfrenta.

A designer faz parte do grupo de 77% de pretos e pardos que avalia ter o preconceito e a discriminação contra as pessoas negras se mantido no mesmo nível ou aumentado nos últimos dez anos, segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo.

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Ela afirma que “a pobreza no Brasil tem cor e a elite branca e preconceituosa não suporta políticas públicas para que os negros subam na pirâmide social. Muitas pessoas tinham esse sentimento guardado e o discurso do atual governo aflorou as ideias racistas”, opina.

Graduada em desenho industrial e fazendo mestrado na USP (Universidade de São Paulo), a designer mantém um ateliê na casa em que mora, na Vila Ede, zona norte, onde realiza sozinha todo o processo de produção.

“Eu faço a criação e o desenvolvimento do produto, desenho, dou ideias às clientes, pesquiso matéria prima e faço o molde. Tudo é personalizado.”

“Os temas afro-brasileiros nas roupas vêm para promover nossa própria cultura e identidade, falar de nós mesmos por nós mesmos. A questão da desigualdade de gênero é séria e se torna mais grave quando se junta à desigualdade de raça”
Maria do Carmo Paulino, designer

De família numerosa, Maria do Carmo conta que sua mãe trabalhou na indústria de confecção, sem carteira assinada, para criar os nove filhos. Sem tempo mínimo para a aposentadoria, voltou a trabalhar aos 60 anos como merendeira para completar o período de serviço.

“A questão racial pesou sobre a vida dela. Mulher negra, renda baixa. Trabalhou a vida inteira para receber a metade do salário de um homem branco”, relata.

Na opinião dela, para se desenvolver no campo profissional, a mulher negra deve se desdobrar.

“Não consegui patrimônio na vida, moro na casa da família, mas trabalho na prestação de serviços, desenho, desenvolvo minha marca, faço mestrado e quero voltar ao ensino superior. Tudo isso para ter uma renda. Todas as mulheres negras que conheço fazem ‘mil e uma coisas’ para ganhar algo no final do mês. Elas vão para a informalidade, se tornam arrimos da família, fazem bolo, roupas e até limpeza”, afirma.

ASSÉDIO E DISCRIMINAÇÃO

Quando trabalhava no mercado formal, Maria do Carmo diz ter sofrido assédio moral em função da cor da pele.

“Há pessoas que não te tratam igualmente, querem te eliminar da concorrência. A gente perde oportunidades, cargos, os cortes de emprego sempre atingem primeiro os negros.”

A designer conta que também já passou por situações de discriminação em locais públicos, como bancos e lojas.

“A diferença de tratamento racial está em vários lugares. Algumas vezes, essa conduta é institucionalizada pela empresa; em outras é fruto de atitudes individuais”
Maria do Carmo Paulino, mestranda

Entre comportamentos velados e outros agressivos, ela revela que duas situações de desigualdade racial marcaram sua trajetória estudantil. A primeira foi quando teve dificuldades para obter o certificado de especialista em Design de Moda, na faculdade.

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“A coordenadora do curso me tratava diferente, e só consegui o diploma alguns anos depois, quando entendi o processo de discriminação que estava passando”. Nessa época, para custear os estudos, era prestadora de serviços em quatro confecções diferentes.

Ela comenta ter sofrido preconceito também durante a seleção para o mestrado.

“Houve uma situação de discriminação, reclamei e fui tirada do processo. Caí em depressão, mas não desisti e consegui ser aprovada em outra seleção”
Maria do Carmo Paulino, empreendedora

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Em 2016, Maria do Carmo participou da inauguração do Centro de Igualdade Racial ao lado do então secretário municipal da pasta Maurício Pestana (Arquivo pessoal)

Disposta a atuar na vida da cidade e em defesa da população negra, Maria do Carmo foi eleita conselheira participativa na subprefeitura Vila Maria / Vila Guilherme, na gestão Haddad.

Com orgulho, ela lembra da criação do Centro de Referência de Promoção da Igualdade Racial (CRPIR), na Vila Maria, e lamenta sua extinção na administração seguinte. “O centro tinha muitas atividades para a população, mas com a mudança de gestão tudo foi esquecido”.

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Segundo ela, a administração municipal “não está preocupada com a desigualdade racial na cidade. Até internamente o assunto é tratado por uma coordenadoria quando chegou a ser uma secretaria”, fala.

Como exemplos negativos, ela cita o tratamento dado às pessoas em situação de rua e aos usuários de drogas da Cracolândia.

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