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Falta de acolhimento tem afetado jovens LGBTQIA+ das periferias

O amparo e apoio tem sido primordial para que jovens LGBTQIA+ se sintam seguros e respeitados

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Paula Rodrigues/Arquivo Agência Mural

Por: Redação

Notícia

Publicado em 30.06.2021 | 18:07 | Alterado em 30.06.2021 | 19:11

Tempo de leitura: 3 min(s)

A falta de acolhimento foi uma das questões que fez Gustavo Pereira, 29, se afastar da família. “Até hoje eu não falei com ninguém abertamente sobre isso, sobre ser trans, o que é ser trans”, afirma. “Pretendo continuar assim, sei que é solitário, mas prefiro me manter solitário do que ver alguém que amo não respeitar quem eu sou. Triste, mas é o melhor”.

Ele é morador do Parque da Lagoa, que fica na zona sul de São Paulo, na região do Capão Redondo. E esse distanciamento foi resultado da primeira vez que ele se assumiu, ainda na adolescência. Isso foi antes dele se entender como um homem trans; na época, antes dessa transição ele se assumiu como mulher lésbica. 

“Tinha medo de me assumir e minha mãe me expulsar, meus pais me expulsarem de casa, o que acabou não acontecendo. E aí esse medo se tornou tristeza, porque vi o quanto que minha mãe chorava e o quanto que eu tinha decepcionado ela”, conta. “Nunca entendi porque que só o fato de eu ser eu acabava decepcionando a minha mãe.” 

Essa história foi contada pelo Próxima Parada. Ouça o episódio na íntegra

Esse medo de ser expulso de casa acaba fazendo parte da vida de muitos jovens LGBTQIA+ e alguns acabam até deixando de se assumir por esse receio. É para lidar com situações como essas que existem, em diferentes lugares de São Paulo, centros de cidadania LGBTQIA+ e projetos que abrigam essas pessoas.

Até abrigos que não são direcionados exclusivamente para comunidade acabam lidando com jovens que não tiveram acolhimento no ambiente familiar. 

É o caso do Saica (Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes), que busca acolher quem está em situação de negligência, seja por abandono, violências ou passando por algum risco. 

Wesley Guarnier, psicólogo da unidade do Saica Carrapicho 5, localizado em Itaquera, nos contou sobre o atendimento de uma menina trans. “Ela não tinha apoio, a família criticava muito. E com o passar do tempo, a gente conseguiu desmistificar várias coisas pra essa família, que hoje entende, respeita e apoia ela”. 

A falta de acolhimento acaba sendo reflexo de uma falta de repertório. “A gente está falando de carinho, de respeito, de afeto, de amor. O que a gente tem percebido é que algumas famílias não têm esse repertório para poder passar isso pros seus filhos”, ressalta Wesley.

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Acolhimento familiar é um dos desafios para muitos LGBT+ @Paula Rodrigues/Arquivo Agência Mural

De acordo com uma pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ipec, divulgada  na última semana, 59% dos paulistanos pesquisados sofreram ou presenciaram pelo menos uma situação de LGBTFobia. E 52% desses entrevistados avaliam que a administração municipal tem feito pouco, ou nada, para combater a violência contra a população LGBTQIA+. 

Ao falar dessas complicações, Victória Nathalie Cunha, 24, que é moradora de Itaquera, relata que a pressão ao se assumir acaba sendo maior para quem é da periferia. 

“Querendo ou não, a gente já tem uma pressão, né? De ‘ah, você está na periferia, você não vai conseguir nada, ou você não vai ter nenhuma evolução’. Sempre duvidam muito de você”, relata ela. 

Victória é bissexual e, assim como parte da população LGBTQIA+, teve receio ao se assumir pelo medo de ser desamparada ou não receber apoio da família. Porém, ao contar para a mãe que estava namorando uma mulher, ela acabou se surpreendendo com o apoio. 

“Minha mãe sempre foi muito carinhosa, muito afetuosa e quando minha namorada está aqui é a mesma coisa. Eu não imaginava que poderia estar assim agora”, completa.

PRÓXIMA PARADA

Parceria entre a Agência Mural e o Spotify, o Próxima Parada conta com a colaboração de jornalistas vindos dos bairros periféricos da Grande São Paulo. Para ouvir o episódio, basta clicar no link do programa e se cadastrar gratuitamente no aplicativo.

De segunda a sexta-feira, sempre no final da tarde, Ana Beatriz Felicio e Rômulo Cabrera contam histórias, analisam fatos e apontam possíveis soluções para as demandas das quebradas. A produção é de Gabriela Carvalho, com edição de som de Pammela Gentil e coordenação de Vagner de Alencar.

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