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De vício por doces à feira mais cara: como anda a alimentação em tempos de quarentena

Nutricionistas dão dicas de como fortalecer a imunidade e manter alimentação balanceada; nas periferias, preços dificultam acesso a alguns produtos

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Priscila Pacheco/Arquivo Agência Mural

Por: Ana Beatriz Felicio

Notícia

Publicado em 22.04.2020 | 18:47 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22

RESUMO

Nutricionistas dão dicas de como fortalecer a imunidade e manter alimentação balanceada; nas periferias, preços dificultam acesso a produtos orgânicos

Tempo de leitura: 4 min(s)

Desde que a quarentena começou, a costureira Irani Constantino, 51, tem se sentido ansiosa e preocupada. Ela mora com a filha em uma casa alugada no bairro do Ariston, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. 

Sem perceber, acabou tentando aliviar os sintomas do estresse na comida. “Por causa desse vírus, está acontecendo uma coisa absurda comigo. Eu não consigo parar de comer”, conta. “Eu como e já estou pensando no que vou comer em seguida”. 

De acordo com ela, sempre buscou uma alimentação balanceada, mas não está conseguindo manter a rotina na quarentena. “Sinto inclusive, que eu já engordei”, 

Não muito longe dali, na Vila Menck, a desempregada Juliana Souza, 34, também tem visto que a alimentação anda desregulada e até mesmo o que não costumava comer está entrando no cardápio. 

“Estou muito ligada no doce, uma coisa que eu não consumia antes e agora parece que faço questão. Estou sempre comendo um bolo ou brigadeiro, que virou minha especialidade”. 

Para a nutricionista e professora de nutrição Daniele Andrade, o comportamento pode ser considerado comum, mas é preciso tomar cuidado. 

“Muitas pessoas passam a comer mais, ou ter mais vontade de comer por questões de mudança de rotina, aumento de estresse e ansiedade”, explica. 

“Nestes momentos, a gente acaba procurando outras válvulas de escape. E aí, até involuntariamente, podemos passar a comer mais, porque quando comemos também ocupamos a nossa mente, acaba virando uma forma de conforto momentânea”. 

Apesar disso, a profissional salienta que é possível contornar esse quadro buscando alimentos mais saudáveis e lidando com a ansiedade de outras formas. “A partir do momento que a gente foca no que estamos fazendo e naquilo que estamos comendo, a gente tende a lidar com esses sentimentos de outra forma”.

Ela relembra ainda que o abuso de alimentos industrializados pode ter efeitos diretos no nosso dia a dia. “Alimentos muito processados, como salgadinho, bolacha e macarrão instantâneo são ricos em sódio, gordura e açúcar. Por isso, podem prejudicar o sono, a concentração e o rendimento”.

ALIMENTAÇÃO MAIS SAUDÁVEL  

Se por um lado há quem anda comendo mais, também existem pessoas que estão aproveitando o momento para manter bons hábitos alimentares. 

Joice Izauri de Jesus, 35, é dona da Enjoy, uma loja de produtos orgânicos localizada no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, que tem como objetivo levar esse tipo de alimento para a periferia. 

Mesmo antes da pandemia ela já trabalhava com o esquema de delivery, mas agora viu a procura aumentar em 50%. “Aumentou a procura de dentro da quebrada. Muita gente está sendo despertada para a questão da alimentação saudável agora, porque estão pensando mais sobre saúde”.

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Frutas são uma opção para melhorar a alimentação durante a quarentena @Priscila Pacheco/Arquivo Agência Mural

Porém, para ela, o preço dos produtos ainda assusta os consumidores de primeira viagem. “Como não estão habituadas, muitas pessoas que se deparam com o valor do orgânico acabam não comprando, mas acho que fica plantada a semente”.

Já na zona leste da cidade, a maior dificuldade para a radialista Aline Almeida, 29, está sendo encontrar os produtos com os preços de sempre na feira. Moradora do Belenzinho, ela é vegetariana há mais de dois anos. 

“Os alimentos estão mais caros do que o habitual e também têm faltando muitas barracas. Então ficam limitadas as opções para escolher o que comprar. Outro problema são os valores. Como não tem concorrência, eles podem colocar o valor que quiserem, não temos muita escolha”, Aline Almeida, moradora do Belenzinho, na zona leste.

FORTALECENDO A IMUNIDADE 

Não existe remédio caseiro ou dieta que possa prevenir da Covid-19. Mas manter uma alimentação saudável e investir em alimentos que ajudem a fortalecer a imunidade pode ajudar a evitar outras doenças. Para isso, o ideal, se possível, é ter uma alimentação variada, com frutas, verduras e legumes. 

O rapper Rincon Sapiência, que vivia em Artur Alvim, na zona leste, indica o consumo de alimentos ricos em vitamina C. “Poderia começar falando das frutas cítricas, como a laranja, limão acerola, kiwi, eles são muito bons para nossa imunidade”. O cantor é vegetariano e defende a bandeira de uma alimentação mais saudável e acessível nas periferias.

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Abacaxis em barraca de feira no Grajaú, na zona sul de São Paulo @Priscila Pacheco/Agência Mural

Já Daniela Andrade completa com mais dicas. “Pode ajudar na proteção incluir na dieta vegetais com a cor verde escura, como escarola, brócolis, espinafre e agrião”, indica. “A gente pode pensar também em peixes, mesmo se forem enlatados, como sardinha”.

Isso porque esses alimentos são ricos em ômegas, moléculas de gordura consideradas “boas” que, de maneira geral, ajudam a equilibrar o colesterol e evitam inflamações no organismo. 

A nutricionista de alimentação escolar, Yuana Vieira, lembra que optar por temperos naturais também pode ajudar. “Utilizar alho, cebola e coentro, por exemplo, sempre buscando ter uma alimentação saudável e balanceada”. 

Além disso, para as crianças que estejam com dificuldades de comer no período, uma boa dica é levá-las para colocar a mão na massa, literalmente. “Dar algo para elas fazerem, uma fruta para descascar, como uma banana ou uma mexerica. Assim, ela interage na preparação e sente mais vontade de comer”.

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Ana Beatriz Felicio

Jornalista, curiosa, já foi apresentadora do Próxima Parada. Gosta de conhecer pessoas novas e descobrir o que as motiva a acordar todos os dias. Correspondente de Carapicuíba desde 2018.

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