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Agência de Jornalismo das periferias

Nelson Simplício/ Divulgação

Por: Evelyn Fagundes

Notícia

Publicado em 06.03.2024 | 14:41 | Alterado em 06.03.2024 | 15:26

Tempo de leitura: 4 min(s)

Jovens do bairro Pimentas, na periferia de Guarulhos, município da Grande São Paulo, foram selecionados pelo Comitê Nacional Preparatório Brasileiro para representar o país no Festival Mundial da Juventude, na Rússia. Yasmin Ricciardi, 25, Lucas Felipe, 27, Bianca Aragão, 32, e Yasmin Aragão, 15, estão entre os 300 jovens brasileiros que foram selecionados para participar do evento.

O festival recebe jovens ativistas em áreas como negócios, mídia, cooperação internacional, cultura, ciência, educação, voluntariado e esportes. Os participantes integram atividades que debatem essas temáticas, além de outras discussões globais, como alternativas para se obter um mundo mais justo.

“As favelas têm muito a contribuir. Acredito que aqui a gente tem soluções para muitos dos problemas atuais. As favelas precisam começar a serem vistas como a solução, não o problema”, afirma o comunicador social Lucas Felipe.

O guarulhense é um dos idealizadores do “Cine na viela”, ação que monta uma estrutura de cinema em uma viela do Pimentas levando entretenimento para as crianças. Ele parte com ideias do que sente que poderia melhorar o mundo.

Lucas Felipe e Yasmin Ricciardi são articuladores sociais no Pimentas @Nelson Simplício/ Divulgação

“Acredito que resolvendo a fome, por exemplo, a desigualdade social tende a diminuir. A pessoa sem fome consegue estudar, trabalhar e gerar renda. A cooperação entre países pode contribuir para mediar conflitos e buscar soluções mais viáveis para os envolvidos”, avalia.

Para Yasmin Ricciardi, participar do evento é uma oportunidade de colocar as potências periféricas em visibilidade internacional, o que é algo que começou a ocorrer mais recentemente.

“São eventos e articulações que não chegam até as comunidades. O nosso papel indo até a Rússia é justamente reafirmar a presença da comunidade nesses espaços e mostrar o que somos capazes de articular e fazer”, afirma a educadora popular.

No caso de Bianca Aragão, ela vê no encontro a possibilidade de enxergar o mundo de uma forma mais ampla e de fato entender a história dos povos, as lutas das mulheres, das pessoas indígenas e a luta antirracista.

‘Criando essa consciência a gente consegue criar uma sociedade mais solidária, podendo trazer soluções para os problemas sociais e econômicos que a gente vive hoje em Guarulhos, no Brasil e em diversos lugares do mundo’

A secretária escolar irá pela segunda vez ao evento. Na primeira oportunidade, ela representou os estudantes da Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo) localizada em Guarulhos. Neste ano, ela irá representar a União Brasileira de Mulheres de São Paulo.

Na organização, Bianca criou uma iniciativa sobre turismo feminino, onde mulheres podem compartilhar as experiências realizadas nas cidades paulistas e divulgar comércios criados por mulheres, a fim de fomentar o empreendedorismo feminino. Bianca irá apresentar seu projeto no festival.

“É uma plataforma digital que busca unificar cidades que possam garantir segurança para as mulheres viajantes”, conta sobre o projeto. “Você se cadastra no site e a gente divulga sua cidade dizendo se existe delegacia da mulher, níveis de segurança, Conselho Tutelar, iluminação, além de rotas turísticas que valorizem o empreendedorismo feminino.”

A filha da ativista também foi selecionada para participar do Festival Mundial da Juventude. Yasmin Aragão já participou, no ano passado, do Acampamento Internacional da Juventude, também na Rússia.

Por ter encontrado tantos adolescentes com a mesma vontade de mudar o mundo, a guarulhense decidiu se inscrever novamente. “São vários jovens do mundo todo com os mesmos interesses que o meu e que estão super motivados e super felizes por estarem participando”, diz Yasmin Aragão.

Yasmin Aragão e sua mãe, Bianca, elas vão para Rússia participar do evento @Arquivo pessoal

Festival Mundial da Juventude

O evento é realizado desde 1947 pela Federação Mundial da Juventude Democrática (WFDY, da sigla em inglês para World Federation of Democratic Youth).

Segundo o membro do Comitê Nacional Preparatório, Leonardo Argollo – que já morou no Pimentas e atualmente mora na zona leste de São Paulo -, o encontro ocorre a cada três anos, em média e, a partir de 2017, o festival passou a ser organizado pelo governo russo. Apesar da guerra entre Rússia e Ucrânia, os participantes contam que não houve interferência na região onde é realizado o evento.

Para participar do encontro, os jovens contaram à Agência Mural que tiveram que superar inseguranças e passar por diversas fases no processo seletivo.

Foi preciso comprovar conhecimento básico em língua inglesa ou russa em vídeo, falar sobre o ativismo realizado por eles nos bairros e dissertar sobre a importância do festival e das relações internacionais, por exemplo. O Comitê Preparatório Brasileiro recebeu 11 mil inscrições e teve de selecionar 300 jovens para participar.

“Eu me interessei pelo festival pela série de oportunidades que ele proporciona. Na última edição, em 2017, tivemos a presença de um guarulhense. Se ele chegou lá, enquanto uma mulher da periferia, eu também conseguiria chegar e eu cheguei”, diz Yasmin Ricciardi, citando Henrique Domingues que, assim como Bianca, representou a Fatec naquele ano. “Então, desde o ano passado eu enfrentei esse processo seletivo.”

“A ideia do festival é ser uma oportunidade para debater com a juventude de outros países e entender como construir um mundo que seja não só menos desigual, mas mais cooperativo e onde as diferentes nações possam ter a sua participação na construção desse novo mundo baseado na sua diversidade, cultura e costumes”, afirmou Leonardo Argallo.

A temática que envolve o meio ambiente e o clima também será abordada no evento. Para os jovens, trata-se de um momento de conscientização, entendendo os riscos já vivenciados pela crise climática e como é possível minimizá-los.

“A gente precisa compreender quem é que lucra com esse problema ambiental que hoje a gente vive. São os grandes países que criaram toda uma indústria de um modo econômico consumista que faz com que a gente viva nesse sistema que destrói cada vez mais o nosso planeta”, afirma Bianca Aragão.

“Nós, brasileiros, precisamos resgatar o nosso contato com as nossas matas, com a Mata Atlântica, com a Amazônia, com a nossa origem indígena’

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Evelyn Fagundes

Jornalista em formação pela PUC-SP, instituição onde desenvolve sua pesquisa sobre as obras do Racionais MC's. Mãe de pet e planta, canceriana e apaixonada por música. Correspondente de Guarulhos, na Grande São Paulo, desde 2022.

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