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Agência de Jornalismo das periferias

Kethilyn Mieza/Agência Mural

Por: Kethilyn Mieza

Notícia

Publicado em 21.03.2024 | 11:23 | Alterado em 21.03.2024 | 11:24

Tempo de leitura: 4 min(s)

Com um vídeo de um minuto, Mileny Leme, 21, moradora do Jardim Zaíra, em Mauá, na Grande São Paulo, alcançou mais de 1,2 milhão de visualizações resumindo em poesia suas diversas vivências artísticas e falando sobre oportunidades para jovens periféricos como ela.

Na postagem, publicada em fevereiro deste ano, Mileny apresenta experiências como atriz, professora, instrumentista, diretora, estudante, palhaça, recreadora e poeta, entre rimas e imagens cotidianas.  A multiartista é uma das responsáveis pelo Slam do ABC, que tem como objetivo impulsionar o trabalho de novos poetas e artistas da região.

Mas antes de desenhar e colocar esse projeto nas ruas, Mileny conta que percebeu o potencial da poesia e da voz de uma jovem da periferia na conscientização da população de Mauá durante o período eleitoral de 2020.

Jovens de todas as idades se reúnem para prestigiar a primeira noite de Slam ABC @Kethilyn Mieza/Agência Mural

Na ocasião, ela gravou um vídeo criticando a candidatura do então prefeito Átila Jacomussi (PSB), que concorria à reeleição, e que acabou perdendo a disputa para o candidato Marcelo Oliveira (PT).

“Eu escrevia de uma forma bem lírica. Na época, via a escrita como uma forma de tentar mudar a perspectiva da cidade sobre uma coisa. E então, quando postei e viralizou no sentido político, comecei a entender que minha escrita também tinha um uma potência política”, explica a artista. 

Mileny conta que passou a ser reconhecida pelos responsáveis pela campanha do candidato e, dessa forma, passou a entender a potência da arte na cidade. Política, potência negra e feminismo estão entre os temas abordados nos conteúdos rimados da multiartista, com mais de 60,7 mil seguidores no Instagram @eusoumileny.

“A poesia tem um poder encantador. A gente vê a grande potência das batalhas de rima atualmente, e acho que a poesia também. A pessoa quando escuta uma rima se interessa por aquilo. Acho que esse poder transformador entra na cabeça das pessoas e ajuda a abrir outros pensamentos”, diz a poetisa.

Apesar de viver um momento de maior reconhecimento na carreira, Mileny já nutria uma alma artística desde jovem e foi aprimorando os talentos ao longo da vida, inclusive participando ainda de cursos como o de palhaçaria do Doutores da Alegria. Ela também destaca a influência das mulheres da família na formação artística.

‘Minha avó sempre foi apaixonada por teatro, minha tia é artista plástica, então cresci tendo referências em casa e elas me incentivaram desde pequena’

Além da poesia, Mileny cativa o público mostrando o dia a dia de uma artista independente da periferia e ressaltando a potência da população artística do Jardim Zaíra, onde mora.

Batalhas em Mauá

Para impulsionar novos talentos da cidade e o slam, que se configura como uma competição de poesia falada, Mileny criou com apoio da também artista Mariana Lima, 26, conhecida na cena como Maré, o Slam ABC. O projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo. Em Mauá, o valor do recurso destinado para as iniciativas culturais foi de R$ 3.583.991,79. 

O primeiro slam reuniu mais de 50 jovens na Praça do Relógio, a menos de um minuto da estação de trem da cidade, no último dia 22 de fevereiro. Enquanto o trem fazia parte da trilha sonora de cada poesia, a plateia prestigiava com aplausos cada poeta que se apresentava.

Artista, mãe e educadora, Maré começou a participar de slam em 2018 @Kethilyn Mieza/Agência Mural

“Quem vem da quebrada, quem vem de outra realidade, assim como eu venho, dá muito valor em estar no palco e as pessoas darem atenção, pararem pra te escutar”, diz Maré.

Escritora e arte educadora, Maré vive em Rio Grande da Serra, também na região do ABC. Ela conta que sempre reforça aos alunos a importância de aproveitar o tempo de atenção que o slam oferece para falar de forma honesta e orgânica o que eles sentem que precisa ser dito.

‘O slam tem essa pegada de ser uma poesia mais de resistência, mas até quando eu falo de amor pra mim é político. Consigo enxergar a política em tudo. E principalmente na poesia

Para Mileny, que começou a participar de batalhas de slam há cerca de um ano, a experiência tem sido transformadora.

“No teatro sempre senti muita dificuldade de me enxergar, de ser independente, de sobreviver da minha arte. Nesse um ano de slam, mudou toda a perspectiva da minha vida. Pensei, é muito injusto que no meu lugar, onde nasci, eu não consiga ver um movimento como esse”, conta.

No Slam do ABC, os poetas falaram sobre temas que fazem parte da vida deles, como religião, feminismo e os direitos das pessoas com deficiência.

Na primeira edição, a ganhadora das batalhas foi Julia Mendes, 23, criadora do coletivo Máfia das Minas, que falou na apresentação final sobre a importância de ser livre para expressar os sentimentos e afetos.

O Slam ABC está programado para ser realizado na terceira quinta-feira do mês na Praça do Relógio, em Mauá. O próximo é hoje (21.03).

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Kethilyn Mieza

Jornalista. Dançarina apaixonada por arte e pela cultura hip hop. Escrever e contar histórias por meio do jornalismo é seu melhor caminho para dar voz às pessoas. Correspondente de Mauá desde 2023.

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