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O que pensam 10 candidatos das periferias de São Paulo?

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Por Redação | 02.10.2018

Publicado em 02.10.2018 | 16:22 | Alterado em 02.10.2018 | 19:47

RESUMO

Agência Mural conversou com moradores que entraram na disputa de deputado estadual e federal para buscar as ideias e como o mandato deve ser usado em prol de bairros de São Paulo

Tempo de leitura: 8 min(s)

“Pra gente falta tudo. Mas falta tudo por quê?”. Candidata à deputada federal pela primeira vez, Keila Pereira (PPL), 21, é moradora de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo. Participante de movimentos pela educação e cultura nas periferias, ela afirma que decidiu entrar na corrida eleitoral porque sentiu que ir para as ruas não era o suficiente. “Não adianta só cobrar e não ter representação a quem recorrer”, diz.

Keila não é um caso isolado. Levada em segundo plano em boa parte da campanha eleitoral, a disputa de deputado federal e estadual movimentou as periferias de São Paulo em 2018. Moradores da capital e da Grande São Paulo apostam nos legislativos como possibilidade de levar discussões que afetem as regiões mais distantes do centro da cidade.

A Agência Mural conversou com 10 candidatos e candidatas das periferias com objetivo de mostrar como a disputa tem sido abordada nos bairros.

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Keila Pereira é candidata e moradora de Parelheiros (Divulgação)

PARELHEIROS

Keila faz parte de uma faixa etária com poucos representantes nesta eleição. Apenas 4,8% dos candidatos a deputado federal inscritos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2018 têm menos de 30 anos.

Filha de uma comerciante, ela participa desde criança das reuniões de moradores do bairro e atuou em um projeto cultural da região e em movimentos estudantis.

Sobre Parelheiros, aponta a falta de oportunidades como uma escola técnica com cursos voltados à agricultura familiar, ao turismo e ao comércio. “As pessoas que querem universidade, um emprego, buscar alguma coisa diferente daqui, têm que ir pra fora de Parelheiros. Não é Parelheiros que é distante das coisas. Na realidade, é um descaso a gente não ter acesso a tudo o que a gente tem direito”, afirma.

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Tabata Amaral mora em Cidade Ademar (Jariza Rugiano/Agência Mural)

CIDADE ADEMAR

Outra candidata da zona sul de São Paulo é Tabata Amaral (PDT), 24. Ela mora na Vila Missionária, no distrito Cidade Ademar, e aponta a educação como motivadora da candidatura à Câmara dos Deputados. Tabata conseguiu uma bolsa em escola particular, após ter sido medalhista na Olimpíada de Matemática. 

A partir daí, deu aulas para estudantes de escolas públicas que se preparavam para olimpíadas científicas, e graduou-se em ciência política e astrofísica nos Estados Unidos. Se eleita, ela quer retomar a discussão sobre a reforma no ensino médio, principalmente com os estudantes, tratar da formação continuada dos professores e a aponta a necessidade de mais creches em áreas periféricas.

Ela diz que um dos fatores que levaram a se candidatar foi a falta de mulheres na disputa.  “Já encontrei várias meninas que falam ‘quero ser política também’. Antes elas não conheciam mulheres que vêm da mesma realidade e que entraram para esse meio”, reforça.  

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Aline Torres mora em Pirituba e tem atuação na zona norte (Divulgação)

PIRITUBA

Do outro lado da cidade, na zona norte, a cultura foi o que motivou Aline Torres (PSDB), 32, que também concorre à Câmara dos Deputados. Moradora de Pirituba, ela foi diretora do Centro Cultural Ruth Cardoso e é pós-graduada em Gestão de Projetos Culturais.

“Meu mandato será pautado em trabalhar a cultura como meio transversal de educação, trabalho e empreendedorismo”, diz. “Quero voltar para zona norte com projetos que fortaleçam a nossa juventude, de forma participativa e não impositiva”, comenta.

A candidata questiona a forma como os recursos de campanha são divididos para as mulheres. “Muitas mulheres de outros partidos estão sendo lesadas e que não há como iniciar qualquer reforma na sociedade sem corrigirmos esse vazio”, diz.

Apesar de fazer parte do PSDB que tem o governo do estado, a candidata afirma não ter relação com políticos. “Minha candidatura vem em um formato participativo onde representa a verdadeira renovação, sem ter ligação umbilical com políticos, mas sim auxiliar o debate e a reflexão periférica” conclui.

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Professora da Brasilândia disputa terceira eleição (Divulgação)

BRASILÂNDIA

A professora Flávia Bischain, 32, disputa pela terceira vez um cargo público. Moradora da Brasilândia, na zona norte de São Paulo. Ela já foi candidata à deputada estadual em 2014 e para vereadora em 2016. Neste ano, concorre para deputada federal pelo PSTU, partido que não tem representantes em Brasília e pouco tempo de TV.

Bischain é crítica da divisão do tempo de propaganda eleitoral, o que afeta também o espaço dos concorrentes a uma cadeira de deputado. “Tem muita desigualdade no terreno das eleições, não dá nem pra chamá-la de democrática”.

A decisão de concorrer, segundo a docente, é para ampliar a participação de moradores das periferias no debate político. Ela se diz contra as reformas trabalhista aprovadas pela gestão do presidente Michel Temer (MDB) e critica a reforma do ensino médio.

“Querem deixar como ensino obrigatório apenas língua portuguesa e matemática, as outras matérias vão deixar de ser áreas necessárias de conhecimento, portanto, sem professores específicos”, diz. “Criará mais ainda desigualdade educacional”.

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Juarez Pereira em campanha no Jardim Ângela (Divulgação)

JARDIM ÂNGELA

Juarez Pereira, 35, é candidato a deputado federal pelo PTB. Ele cresceu no Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, e vem de uma família de 17 irmãos. Juarez trabalhou desde os oito anos em diversas funções como feirante, cuidador de carros, ajudante de pedreiro. “Fui por 10 anos vigilante em mais de 40 unidades básicas de saúde (UBS)”. O último trabalho foi como entregador de gás no comércio da família: Os “Pereiras do Gás”.

Quando tinha 30 anos, em 2014, o depósito da família foi invadido e Juarez foi baleado na coluna. Ficou paraplégico. “Com apoio de amigos, familiares e profissionais da saúde pude me recuperar e voltar a realizar minhas atividades. Agora com dificuldades devido aos problemas que encontrei no caminho como a falta de acessibilidade”, conta.

Juarez percebeu como principais problemas os buracos nas ruas e as calçadas cheias de degraus e desníveis, que tornam complicado o deslocamento. Além disso, ele relata as dificuldades para acesso em unidades de saúde, escolas e comércios da região para quem tem mobilidade reduzida.  É a segunda eleição, após ele ter concorrido para vereador em 2016.

Ele não cita apenas cadeirantes, mas também idosos e pessoas com outras dificuldades de locomoção. “O foco e objetivo são de prevenção e combate às drogas, luta pelos idosos, deficientes, inclusão social e desenvolvimento de mobilidade urbana com inclusão de trens e metrôs entre municípios”, afirma.

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Douglas Belchior ao lado de Beatriz Lourenço, ativista do movimento negro (Jariza Rugiano/Agência Mural)

CIDADE KEMEL

“A sociedade não discute eleição proporcional, eleição para deputados e senadores. Somos invisíveis. O nosso desafio é traduzir o papel de um deputado para a melhoria dos problemas que afetam o bairro”, afirma Douglas Belchior, candidato a deputado federal pelo PSOL e militante do movimento negro.

Professor da rede pública estadual, formado em História pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), fundador da UNEafro-Brasil e da Educafro, Belchior é do bairro Cidade Kemel, na divisa entre Poá e Itaim Paulista, na zona leste da capital.

“O possível mandato será uma extensão do movimento negro, como os grupos de educação popular, luta antirracista pela educação, enfrentamento à violência policial e do Estado. Mostrar alternativas contra a política de segurança pública genocida”, pontua.

Douglas buscou o financiamento coletivo para custear a campanha e tem apostado em rodas de conversas organizadas por alunos de cursinhos, locais onde há militância das mulheres, de LGBTQI e de professores.

Dos 28,1 mil candidatos que concorrem aos cargos de deputado (distrital, estadual e federal), senador, governador e presidente, 13 mil (46%) se declararam como pretos e pardos.

Em relação a 2014, na eleição 2018 ocorre um aumento de 1,9 ponto percentual nas candidaturas negras.

De acordo com a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são considerados negros o conjunto de pretos e pardos, o qual totaliza 54% dos brasileiros.

GRANDE SÃO PAULO

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Wlisses é professor em Cotia e decidiu buscar uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo (Halitane Rocha/Agência Mural)

COTIA

Professor de história no Morro do Macaco, em Cotia, Wlisses Daniel (PSOL), 36, faz parte do coletivo Uneafro – Clementina de Jesus. Candidato a deputado estadual, ele trabalha na rede pública de ensino há 10 anos.

Entre os temas que quer debater na Assembleia está a efetivação da lei 11.645 originada na 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena.

“A lei não é implantada de fato, depende muito da boa vontade de cada professor e das escolas. Além das travas das famílias em aceitarem. Em um trabalho de personalidades negras, foi usado a imagem da Mãe Menininha do Gantois e a mãe de um aluno a acusou de feitiçaria, bruxaria”.  

“O genocídio negro existe há séculos, desde a escravidão. Impossível não tocar nesse assunto quando envolve a educação. O racismo, o preconceito com cabelos crespos, bullying. O pouco feito já diminuiu isso na escola, pois quebra muitos paradigmas, mas ainda é pouco. O Estado tem que investir financeiramente com materiais de qualidade”

O professor Wlisses afirma que sua candidatura é acima de tudo uma pauta coletiva, com a inclusão de mulheres, LGBTs e diversos outros profissionais que tenham protagonismo para suas medidas de propostas. “A pauta é preta porque abrange a todos.”

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DIADEMA

Morador do bairro Eldorado, em Diadema, na Grande São Paulo, o engenheiro Daniel Verissimo (MDB), 33, acorda todos os dias, toma café da manhã e vai direto para o smartphone movimentar as redes sociais. Ele grava vídeos sobre diversos temas pelo menos a cada dois dias e compartilha na página “Podemos Mudar o Brasil”, no Facebook, que atualmente conta com mais de 3 mil curtidas.

Sem recursos financeiros, essa foi a estratégia que ele encontrou para viabilizar a campanha a deputado federal pelo MDB. Entre as bandeiras defendidas pelo candidato, o investimento em empreendedorismo e educação para moradores da periferia, além do aumento da participação popular na política.

“Diadema tem boa parte da população economicamente inativa. Para mudar esse cenário e gerar mais empregos, precisamos investir em empreendedorismo. Tem que colocar escola profissionalizante dentro da favela”, afirma. “Vivi na periferia e estudei em escola pública por toda a minha vida e sei que a realidade do jovem é um mundo limitado e sem perspectiva”, disse.

Apesar de fazer parte do mesmo partido do presidente Michel Temer e Henrique Meirelles, Verissimo diz que há  uma nova geração na sigla. “Só com a participação da população, principalmente dos jovens, é que nós vamos mudar o Brasil e a política. É o único caminho que existe.” 

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Edson Júnior preside o Solidariedade em São Bernardo do Campo (Rafael Ferreira/Divulgação)

SÃO BERNARDO

Também candidato a deputado estadual é Edison Júnior (Solidariedade). Formado em direito, ele é empresário do terceiro setor na área de saúde.  Nascido em Santos, foi morar em São Bernardo com 12 anos no bairro Baeta Neves. Aos 19, montou a primeira empresa de pequeno porte dentro de casa. Depois foi para uma sala dentro do sindicato de Santo André.

Júnior decidiu concorrer, pois diz ser necessário uma revisão na lei de incentivo fiscal e crítica a reforma trabalhista. “Foi feito uma colcha de retalhos nessa reforma e os trabalhadores tiveram muitas perdas dos seus direitos”, relata.

Ele fala em fortalecimento dos sindicatos e entidades do terceiro setor. Também cita escolas técnicas e incentivo fiscal para empresas, como destinar 1% a 3% dos impostos para projetos das periferias do ABC.

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Priscila França diz ter sido convidada por conta da cota parlamentar (Cadu Bazilevski/Divulgação)

Moradora de São Bernardo do Campo, a candidata à deputada estadual Priscila França (PV), 40, afirma que foi convidada para concorrer nas eleições 2018 por intermédio das cotas.  

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou  em março deste ano que 30% dos recursos do Fundo Partidário seriam aplicados em candidaturas femininas.  “As mulheres têm pouca participação na política, precisamos ser além da cota feminina. É difícil ser protagonista temos que ter chances reais”, indaga.

França é casada e está desempregada. Mãe de um menino de 6 anos, estuda gestão pública. Ela mora no bairro Vila do Tanque e começou a trabalhar na política em 2007 fazendo campanha para um candidato a prefeito.

Ela e o marido Elias Alves Figueiredo, 50,  também desempregado, estão fazendo reuniões nas residências de conhecidos para divulgação da campanha. “Meu marido é um cabo eleitoral e coordenador da campanha, conhece os moradores e faz um trabalho humanizado nas periferias”, diz.

Ela quer juntar iniciativa privada e o governo para captar recursos. “Descentralizar, conhecer Ongs e coletivos nas periferias, e fazer parcerias para potencializar o trabalho dos jovens”.

Aline Venâncio, Diego Brito, Halitane Rocha, Jariza Rugiano, Jéssica Bernardo, Kátia Flora, Ronaldo Lages, Leticia Marques são correspondentes do Jardim Angela, Diadema, Cotia, São Bernardo do Campo, Grajaú e Brasilândia. Arte: Magno Borges/Agência Mural

Candidata à federal defende emprego para pessoas trans

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