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Acontece na Escola: Professores de Etec em Osasco fazem protesto silencioso contra reforma do ensino médio

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Por: Redação

Publicado em 26.11.2018 | 11:42 | Alterado em 27.02.2024 | 17:26

Tempo de leitura: 4 min(s)

Julia Ferreira
Colaborou Marina Lopes

Guilherme Ramon, 17, está prestes a concluir o curso de administração integrado ao ensino médio em tempo integral na Etec Professor André Bogasian, em Osasco, na Grande São Paulo. Com o diploma de técnico, pretende atuar na área de comércio exterior. No entanto, a partir do próximo ano, essa titulação e carga horária podem mudar para os futuros alunos de Escolas Técnicas Estaduais de São Paulo. Isso porque o Centro Paula Souza (CPS), autarquia do governo que administra as instituições, começa a adaptar  alguns cursos para atender às exigências da Reforma do Ensino Médio.

A Reforma do Ensino Médio é um conjunto de diretrizes para a etapa que, entre outras mudanças, prevê a organização com 60% da grade curricular para disciplinas comuns e outros 40% para o aluno aprofundar seus conhecimentos em uma das seguintes áreas: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas ou formação técnica e profissional. As mudanças foram aprovadas pelo Congresso em fevereiro do ano passado.

Informados sobre o projeto piloto do Centro Paula Souza, que já tem sido implementado em 33 Etecs, os professores da Etec Bogasian se posicionaram contra essa mudança, que varia de carga horária até nível da habilitação oferecido para os alunos do ensino com qualificação profissional.

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Guilherme Ramon, 17 , é aluno do Etim de administração da ETEC Professor André e conclui seu curso no fim do ano (Julia Ferreira/Acontece na Escola/Agência Mural)

“A única maneira de nós conseguirmos aderir às mudanças propostas seria excluindo o Etim [Ensino Médio Integrado ao Técnico], que é muito procurado aqui na região. As escolas que aceitaram o projeto piloto são as que não têm muita procura e demanda, mas a nossa Etec tem 12 salas e as 12 são ocupadas em todos os períodos”, afirma Sônia Espíndola, 68, diretora da Etec de Osasco.

“Essa reforma que estão nos propondo não vai atender às necessidades dos alunos. A escola teria que determinar qual viés ela quer seguir, mas nós não tivemos tempo para consultar a comunidade que atendemos, e sem consulta nós teríamos que oferecer todos os itinerários, porém não é possível”, explica a professora de física Graziella Bento, 35.

Leia a série de reportagens sobre o que Acontece na Escola.

Atualmente, as escolas técnicas do CPS oferecem a modalidade de Ensino Médio Integrado ao Técnico (Etim), que tem de 3.600 a 4.100 horas, de acordo com o curso. No projeto piloto, seriam adicionadas as modalidades Ensino Médio com Habilitação Técnica Profissional, de 2.800 a 3.000 horas, e o Ensino Médio com Qualificação Profissional, de 2.400 horas, cursadas em apenas um período (manhã ou tarde), enquanto no Etim os alunos estudam em tempo integral.

“Esse projeto piloto do Centro Paula Souza é assustador, porque você deixa de formar técnicos para formar auxiliares. Antigamente, o cara do Etim demorava 3 anos para se formar como técnico, agora serão 3 anos para se formar como auxiliar. Isso, no futuro, vai diminuir a qualificação das pessoas no mercado de trabalho, o técnico pode sofrer uma desvalorização”, diz o professor de geografia, Miguel Del Barco, 29, coordenador na Etec Professor André Bogasian.

No mês de agosto, os professores da Etec receberam um comunicado do MEC (Ministério da Educação) sobre o novo ensino médio. O documento continha uma apresentação de cerca de 600 páginas e um questionário, que deveria ser discutido e respondido pelos docentes. Para isso, seria necessário liberar os alunos, resultando em um dia letivo inteiro sem aula.

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A ETEC Professor André Bogasian, em Osasco, é especializada em cursos na área de negócios (Julia Ferreira/Acontece na Escola/Agência Mural)

Em menos de 24 horas após o recebimento do documento, a coordenação recebeu orientação do Centro Paula Souza para não dispensar os alunos e apenas enviar o questionário respondido, sem qualquer tipo de discussão. Os professores se recusaram a seguir as instruções e concordaram juntos em também não responder ao questionário. Um protesto silencioso.

“Nós professores, que estamos aqui no chão da escola, não fomos escutados, o único momento em que fomos consultados foi por um formulário que deram para a gente responder de várias páginas e em cima do prazo. Esse foi o único contato que nós, professores, tivemos com a reforma do ensino médio”, afirma o professor Miguel.

“A minha maior indignação como professor do ensino médio é o fato de nós não sermos ouvidos e, principalmente, os alunos. Quem tem que falar o que tem que mudar e alterar dentro de uma escola somos nós, professores e alunos que vivemos isso”, acrescentou.

Apesar das críticas, o governo, os professores e os alunos concordam em uma coisa: o ensino médio precisa mudar. “Uma das mudanças que o ensino médio precisa é transformar a informação em conhecimento. Antigamente a gente tinha carência de informação, agora a gente tem bastante. Falta transformar em conhecimento”, aponta Davi Kyoshi, 49, professor de biologia na André Bogasian.

Quando procurado, o Centro Paula Souza afirmou que desde o primeiro semestre de 2018, as Escolas Técnicas Estaduais oferecem cursos adaptados às exigências da Reforma do Ensino Médio: o Ensino Médio com Habilitação Técnica Profissional e o Ensino Médio com Qualificação Profissional.

A instituição ainda informou que o Vestibulinho para o primeiro semestre do ano que vem já oferece vagas para novos cursos de Ensino Médio com Habilitação Técnica Profissional: Alimentos, Comunicação Visual, Desenvolvimento de Sistemas, Eletrônica, Eventos, Informática Para Internet, Marketing. Vale ressaltar que a inserção das novas modalidades de ensino não irá anular as existentes atualmente, porém algumas Etecs não irão oferecer todas as modalidades.

Julia Ferreira é estudante do 3ª série do ensino médio na ETEC Prof. André Bogasian
Marina Lopes é correspondente de Penha

Essa reportagem foi produzida por uma participante do programa de bolsa de jornalismo Acontece na Escola da Agência Mural, no qual estudantes do ensino médio de escolas públicas da região metropolitana de São Paulo produzem conteúdo jornalístico sobre temas do cotidiano escolar. A iniciativa integra o projeto Mural nas Escolas.

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