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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Estela Aguiar

Notícia

Publicado em 31.05.2022 | 16:54 | Alterado em 02.06.2022 | 10:30

Tempo de leitura: 4 min(s)

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Se você usa o TikTok, com certeza já viu covers do cantor Justin Bieber ao som do mandelão, ou simplesmente uma dança dos malocas, que acompanha o grave agudo característico dos bailes funk nas periferias de São Paulo. Esses vídeos são produzidos pelos mandrakes da plataforma e vai além de apenas desenrolar, bater e jogar de ladinho.

Os mandrakes, por definição, são jovens que trazem uma vibe funkeira, vestem roupas largas de marcas, como Lacoste e Oakley, tênis de mola da Mizuno, conjuntos que mostram a ostentação, além do óculos Juliet e as pratas. Não só a questão estética, levam o termo como estilo de vida.

Para Nathan Monteiro, 19, criador de conteúdo e músico, o mandrake é o estilo de vida periférico. “É a cultura da favela, é desde os caras da camisa de time até os pivetes que pintam o cabelo de loiro no final do ano. Soltar uma pipa, ajudar a marcenaria do tio, os bailes funk. Tudo isso define o que é ser mandrake.”

Nathan Monteiro, 19, faz covers com os amigos e tenta consolidar a carreira como músico @Magno Borges/Agência Mural

Paranaense e recém chegado em São Paulo, ele mora na cidade com mais três conterrâneos e amigos de profissão: Matheus Formigari, 18, Thiago Alves, 20, e Enzo Lopes, 18. Eles fazem a vida no Parque Casa da Pedra, no distrito do Tremembé, zona norte de São Paulo, e tentam firmar a carreira de músicos.

Há pouco mais de um mês, de forma acidental, Nathan, Enzo e Matheus fizeram sucesso e viralizaram cantando uma música da banda inglesa One Direction. “Foi de momento, estávamos gravando e fazendo uma rima e daí ele soltou o vídeo”, conta Enzo, também conhecido pelo nome artístico Molotov.

E mais recentemente um dos vídeos fazendo cover chegou a ser compartilhado pelo astro do pop Justin Bieber. “Quando eu vi que ele tinha repostado, foi uma sensação surreal, acho que não consigo nem replicar o que senti na hora”, relembra Nathan.

@nathanmont

Conexao JB ? ZN …fuja! #fy #fyp #saopaulo #justinbieber parcero que canto @molotov_irk

♬ som original – NT DOGG

Para Matheus a sensação foi de euforia. “Foi inexplicável. Na hora a gente entrou em choque, e estávamos juntos. Foi algo que deixou a gente muito feliz mesmo.”

Mas não é só de cover mandelão que a cultura mandrake sobrevive na plataforma, as dancinhas características dos bailes funks também rendem visualizações.

Rannya Leandra Santa, 19, é inspiração na quebrada em que vive @Magno Borges/Agência Mural

É nesse nicho que Rannya Leandra Santa, 19, moradora do Kennedy, em Mauá, na Grande São Paulo, ganha cada vez mais seguidores. A produção de conteúdo começou em 2019, mas foi em 2020 que os vídeos passaram a viralizar.

Natural de Pernambuco, a estudante revela que no estilo mandrake se sente à vontade, além de existir toda uma atmosfera de luta contra preconceitos.

“Consigo ser eu mesma, de usar roupas largas e chamativas. Fora que a gente leva as marcas que se usa na favela, mas também se posiciona contra o racismo”

Fora das telas, ela comenta que recebe comentários positivos nas ruas e que é reconhecida nos bailes. “Elas falam que eu danço muito, ‘esse boné é chave’, [perguntam] onde eu comprei essa calça, bermuda. E sempre onde eu vou tem alguém querendo tirar foto, falando que sou inspiração.”

Já Stephanie Pereira de Carvalho, 21, também conhecida como Perera Fany, aposta nos vídeos cômicos falando de situações que ela mesma já passou na época da escola.

Moradora do Jardim dos Francos, na Brasilândia, zona norte, foi por incentivo das amigas que ela começou a gravar os conteúdos para a rede social, mesmo com vergonha por ter estrabismo – um desvio no olhar.

Stephanie Pereira de Carvalho, 21, aposta no humor de situações reais @Magno Borges/Agência Mural

“Uma amiga minha falou: ‘Fanny, por que você não grava? Você é tão engraçada sem fazer esforço. Do nada, a gente olha pra você e dá risada’. Até que um dia resolvi gravar um vídeo contando uma briga minha da época da escola e, pronto, deu 3 mil curtidas.”

A jovem conta que as situações retratadas são reais e sua mãe vivia sendo chamada na diretoria. Desde então, as gravações são contando e encenando sobre as brigas e defendendo outros alunos na sala de aula. Stephanie não parou de ganhar alcance e engajamento.

As cenas rolam na frente de um espelho, em que ela tem um diálogo com uma pessoa imaginária e dá respostas atravessadas. “Criei vários bordões durante as minhas brigas com o espelho, o famoso espelho rosa, e eles são como chicletes, todo mundo gosta e os reproduz.”

Entre os bordões mais famosos, tem o “fia, faz favor aqui”, que até virou filtro no Instagram, depois o “você não passa de uma garotinha, uma menininha.”

A produção de vídeos curtos têm rendido frutos para alguns criadores de conteúdos das periferias. Os vídeos engraçados da Stephanie, por exemplo, lhe deram a possibilidade de trabalhar como digital influencer.

Hoje, ela faz publicidades com negócios dos bairros. “Tabacarias, adegas, eventos de baile, roupas, tênis, lupas, muitas marcas me chamam”, conta ela.

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Estela Aguiar

Jornalista. É fiel à crença de que da ponte pra cá, o jornalismo é revolucionário. Apaixonada por carnaval, filmes e séries. Correspondente do Jardim João XXIII desde 2019

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